
Fábio Poço/Global Imagens
Já pouco pode ser atribuído ao acaso: há uma nova ordem sob o comando do técnico holandês.
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Não foi só o técnico que mudou. Depois de José Peseiro - e do período transitório à conta de Tiago Fernandes -, Marcel Keizer assumiu o comando e introduziu desde logo alterações. A começar pelo plano de treinos: aproveitando a paragem para os compromissos das seleções, aligeirou a carga de trabalho dos leões e concedeu folga dupla logo a abrir. Mudou a metodologia de treino, com maior incidência no contacto com a bola; mudou o sistema de jogo, como foi possível constatar nos primeiros jogos, com o Lusitano Vildemoinhos e o Qarabag, nos quais foi invertido o duplo pivô defensivo adotado desde o início da época, passando Gudelj a assumir o vértice recuado do triângulo completado por Bruno Fernandes e Wendel, que passou a assumir papel nuclear. Mas mudou sobretudo a dinâmica da equipa. Se dúvidas subsistiam após os dois primeiros jogos, face à valia dos adversários, a visita a Vila do Conde dissipou-as.
O Sporting de Marcel Keizer consolidou a imagem de equipa marcadamente ofensiva, forte nas transições e na pressão alta, sob a "regra dos cinco segundos", mas os números ajudam a explanar melhor os pressupostos que o técnico holandês quer implementar. A começar pelos golos: 13 marcados e três sofridos em três jogos. Se é verdade que o caudal ofensivo criado é traduzido em golos, também há que constatar que os três tiros certeiros concedidos revelam uma permeabilidade a retificar. Mas nem por isso a equipa é menos combativa. Como se pode constatar nos dados ilustrados em baixo, o atual Sporting até consegue mais interceções sob o comando de Keizer do que no registo global da época. Mais: as 27 faltas cometidas no jogo com o Rio Ave só têm equiparação no 32.º anterior, disputado a 18 de março, precisamente frente... ao Rio Ave. Ou seja, nos 20 jogos desta época e nos 12 anteriores sob o comando de Jorge Jesus, nunca a equipa foi tão agressiva, o que assenta na pressão alta imposta pelo treinador.
A dinâmica implementada assenta no carácter ofensivo dos laterais e na cobertura fornecida por Gudelj, que como vértice mais recusado do meio-campo, está incumbido também da primeira fase de construção de jogo, que segue pela capacidade na transição de Wendel e Bruno Fernandes, passando pelo jogo interior dos alas (Nani, destro, a partir da esquerda; Diaby - ou Raphinha, no futuro -, canhoto, vindo da direita).
Os dados discriminados nestas páginas dão conta ainda de que a equipa comandada por Marcel Keizer passa mais e melhor a bola, com a certeza a disparar à medida que deixa de despejar bolas na frente, com recurso ao passe longo, passando a privilegiar a troca de bola a curta distância. Faz quase mais cinco passes por minuto e erra menos do que no passado recente. As mudanças estão à vista e já não passam por coincidências: há ali mão de Keizer.
  
Sem pejo nas trocas
A articulação está aprimorada, a dinâmica oleada e o rendimento tem condito, como demonstram as três vitórias, com 13 golos marcados e três sofridos, mas não se esgotam aí as boas notas deixadas por Marcel Keizer neste arranque ao comando do Sporting. Em Vila do Conde, por exemplo, voltou a ficar patente a leitura correta que o técnico holandês fez do jogo e das circunstâncias em que este decorria. Assim, aos 61" fez sair Acuña, amarelado desde os 15" e evidenciando correr o risco de ver o segundo amarelo a qualquer instante, por Jefferson, não se coibindo de proceder a uma troca direta de laterais-esquerdos. Pouco depois, aos 69", fez Diaby, em quebra, dar o lugar a Jovane, que passados três minutos fez um golaço que matou o jogo. A troca de Wendel por Bruno César (87") foi para queimar tempo, mas Keizer soma pontos.
Preparação vai ser mais curta
Marcel Keizer pegou na equipa num período em que as competições de clubes tinham sido interrompidas por força dos compromissos das seleções. O técnico holandês aproveitou para introduzir os seus preceitos aos jogadores que tinha à disposição e o tempo parece ter dado proveitos, pela dinâmica entretanto apresentada. Após o próximo jogo, com o Aves, o técnico enfrentará um ciclo inverso: seis jogos até 2 de janeiro, com pouco tempo para recuperar e preparar o próximo embate.
