"FC Porto nunca vira a cara à luta e continua a ganhar títulos e a calar muita gente"
Quaresma, que jogou no FC Porto e no Inter, antecipa o duelo da Liga dos Campeões e acredita que os dragões podem sair de Milão com uma vitória. O "Harry Potter" garante que estes são os jogos em que todos querem estar e até perspetiva uma eliminatória com golos, mas marcada pelo equilíbrio. Conceição "tem mentalidade italiana".
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Ricardo Quaresma é um ídolo do Dragão e ganhou uma Liga dos Campeões - além de dois campeonatos - ao serviço do Inter de Milão, com José Mourinho no banco. O coração, porém, nunca escondeu ser azul e branco e, na antecâmara do duelo entre os dois clubes para os oitavos de final da Champions, aceitou conversar com O JOGO.
Embora perspetive um jogo grande e equilibrado, o "Harry Potter" torce por um triunfo da equipa de Sérgio Conceição. "No FC Porto ninguém se sente inferior a ninguém nem se vira a cara à luta", diz. E é baseado nesta convicção que acredita no sucesso na eliminatória. O ambiente no San Siro, garante, não será problema para jogadores tão experientes como os portistas.
Na quarta-feira, o FC Porto vai defrontar pela quinta vez na história o Inter de Milão, contra quem venceu uma vez, empatou outra e perdeu nas restantes. Há mais de 17 anos que as duas equipas não se cruzam.
Foi campeão nos dois clubes. Há semelhanças para além do azul que partilham?
-São clubes muitos diferentes, com mentalidades e ideias distintas. O Inter de Milão não deixa de ser um grande clube em Itália e o FC Porto é um grande em Portugal. Dentro da estrutura, são muito diferentes. Fui muito feliz no FC Porto, mas no Inter, apesar de ter ganho campeonatos e a Champions, não fui tão feliz.
Foi difícil a decisão de sair do FC Porto e ir para o Inter de Milão naquela altura?
-Foi, porque nunca quis sair do FC Porto. Custa sempre sair dentro de uma casa onde és feliz. Custa deixar uma família, uma casa onde és acarinhado e te dão valor. A vida de jogador é mesmo assim, tens de arriscar outros voos e foi o que fiz. Tentei triunfar num clube fora do meu país e aconteceu o que aconteceu.
Olhando para a atualidade dos dois clubes, o que terá de fazer o FC Porto para vencer em Milão?
-Tem de fazer o que já nos habituou a nós adeptos: dar tudo o que tem para dar e lutar até ao último minuto. É essa a mística do clube. Não se sentir inferior a ninguém, porque foi isso que sempre me ensinaram. Encarar os jogos sempre de igual para igual e acredito que o vai fazer, até porque é o que tem demonstrado. É uma equipa que nunca vira a cara à luta, respeita todo o Mundo, mas não se acha inferior a ninguém. Acredito num FC Porto forte, com qualidade para poder ganhar este jogo.
Que jogadores do Inter têm de merecer muita atenção do FC Porto?
-É difícil falar num só jogador. Aliás, olhamos para estas duas equipas e ambas têm jogadores com muito talento e qualidade, que de um momento para o outro podem resolver. Estes são aqueles jogos que se decidem em pormenores. Acredito que tanto o FC Porto como o Inter têm jogadores e talento suficiente para, a qualquer momento, resolver. Vai ser um grande jogo e não estou a ver nenhuma das equipas a facilitar. Vai ser muito disputado. Não acredito num resultado aberto, como já ouvi alguns dizerem que podiam ganhar por três ou quatro. Vai haver golos, sim, mas vai andar numa boa disputa e que vença o FC Porto.
O público do San Siro pode fazer a diferença ou a este nível e com jogadores tão experientes isso já não faz sentido?
-A este nível já ninguém se pode assustar com os adeptos, têm de estar mais do que preparados para o barulho dos adeptos. É um grande estádio, que, cheio, é bonito de jogar. Falo por mim: estes eram os jogos em que mais gostava de estar, que mais mexiam comigo. Quem não gosta de jogar uma Liga dos Campeões, contra o Inter e com o estádio cheio? Qualquer um sonha com isso. Não acredito que um jogador do FC Porto vá pensar nisso ou tremer com isso.
O que tem o FC Porto para ser tão difícil de bater para as equipas italianas?
-O FC Porto já nos habituou a trabalhar sempre. Na primeira vez em que entrei no FC Porto senti isso. Em todos os jogos, o FC Porto não se achava nem mais nem menos do que ninguém, mas tinha de trabalhar bastante para ganhar. É isso que tem vindo a fazer. Entra e mostra o seu ADN, luta até ao fim, não vira a cara a ninguém. Com muita coisa que está sempre por aí a querer derrubá-lo, o FC Porto nunca vira a cara à luta e continua a ganhar títulos importantes e a calar muita gente e a revoltar muita gente. Por isso, acredito num FC Porto forte e confiante, com um treinador que conhece bem o futebol italiano e que tem essa mentalidade italiana na forma como pensa o jogo. Gosta muito de estar em cima do que o jogo está a pedir. Está sempre atento a isso e um jogo pode pedir-te muitas coisas em vários momentos. Gostava que o FC Porto vencesse e continuasse em frente.
De adversário a reforço
A primeira passagem de Quaresma pelo FC Porto durou quatro épocas e terminou com a saída para o Inter, em 2008, a troco de 18,6 milhões de euros, mais o passe do médio Pelé. Antes (2005), o extremo havia defrontado por quatro vezes os "nerazzurri" pelos dragões.