Fã de Cristiano Ronaldo, ex-colega, o avançado define-se como alguém em busca da "perfeição" e vive com um treinador pessoal. Tendo vivido num bairro problemático, venceu com garra todos os desafios.
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Raúl de Tomás, reforço do Benfica, é um obcecado pelo trabalho, ele que aposta também numa alimentação saudável desde que, em 2015/16, saiu de campo debaixo de assobios após um jogo pelo Córdoba, clube a que estava emprestado. O avançado, de 24 anos, aguarda pela resolução dos últimos detalhes do contrato, de forma a que Benfica e Real Madrid oficializem o acordo que lhe permitirá rumar a Lisboa e aí fazer exames médicos. O JOGO antecipa aqui o perfil de uma das caras novas do plantel de Bruno Lage.
De Tomás passou um mau momento em 2015/16, no Córdoba, que o fez mudar de filosofia de vida, passando a ser viciado em exercício
"Perfeição", é a palavra que mais vezes Raúl de Tomás utiliza quando fala à Imprensa, ele que vive há vários anos com um treinador pessoal que o orienta diariamente, quer nos exercícios, em particular no ginásio onde passa várias horas, quer na gestão da alimentação.
Mas nem sempre foi assim. Após 14 anos nos vários escalões de formação do Real Madrid, Raúl de Tomás foi cedido ao Córdoba em 2015/16, que o marcou profundamente. "Já me insultaram muito.... Uma vez, saí do estádio debaixo de assobios. Cheguei a casa, fechei-me no quarto sem jantar e fiquei a chorar sozinho sem querer falar com ninguém. O meu pai ligou-me e quanto mais ele dizia que me tinha de habituar a essas coisas menos o queria ouvir. Quando acordei de manhã decidi que tinha de corrigir coisas na minha alimentação, nas horas de repouso e em tudo que pudesse aperfeiçoar. E, sem saber, esse dia ajudou-me a mudar a vida", contou à revista "Panenka" em junho do ano passado.
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Hoje, treina afincadamente, de manhã e à tarde, com o seu técnico próprio, com quem vive, e só come produtos biológicos, assumindo-se como "perfecionista" e tentando seguir os passos de CR7. "O meu ídolo foi sempre o Cristiano Ronaldo, é completíssimo... Para chegar ao bom, é preciso passar pelo mau. Noventapor cento do sucesso de um futebolista está na alimentação, dez por cento entre trabalho e talento. Tento aproximar-me da perfeição", assumiu àquela publicação. Sobre as lágrimas dessa noite, entendeu terem sido essenciais: "Chorámos pouco, pensamos que isso é mau. Mas é preciso escolher os momentos certos para fazê-lo pois as lágrimas recordam-te de que nem tudo está perdido."
Apesar do elevado nível de trabalho muscular, o avançado garante que isso não afeta a sua velocidade, uma arma de sempre. "Encanta-me a rapidez porque no meu trabalho vivo dela. Não posso perder um milímetro dela e trabalhei o meu corpo com músculo sem perder rapidez", explicou. A nível mental, garante também "ser forte". "Hoje és muito bom porque marcaste, amanhã és muito mau porque falhaste. O principal é ser mentalmente forte e nunca baixar os braços. Aprendi a não dar importância ao que os outros dizem", frisou à agência EFE, em fevereiro.
O avançado foi colocado quatro anos num colégio interno, tendo isso servido para o afastar de algumas "amizades problemáticas" ligadas ao bairro de Madrid onde antes vivia
Da "fuga" ao bairro
à sobrevivência no Real
A filosofia de vida de Raúl de Tomás, de trabalho, responsabilidade e busca da perfeição é tanto mais relevante quanto as suas origens serem mais humildes do que as de muitos colegas. Filho de pai espanhol e mãe dominicana, nasceu em Espanha e começou a dar os primeiros pontapés numa bola na rua, com os amigos do bairro na zona sul de Madrid.
A vida não foi fácil ao princípio, ainda para mais para um miúdo a viver num bairro problemático. O seu primeiro clube foi o São Roque mas não demorou a que um olheiro do Real Madrid reparasse nas suas qualidades, ainda com sete anos. Na altura, jogava como médio e, conforme contou ao jornal "El Norte de Castilla" em 2016, o que fazia era "pegar na bola e metê-la na frente" para um colega que era muito rápido.
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Já nos merengues, calcorreou todos os escalões de formação, sobrevivendo a sucessivas dispensas: "Todos os anos saíam dez jogadores e entravam outros dez e eu pensava que isso também me poderia acontecer um dia." Tal não sucedeu e Raúl de Tomás aguentou 14 épocas de "purgas", recordando a importância de ter sido enviado - por indicação de Míchel, antiga figura do Real e na altura diretor da formação - para um colégio interno durante quatro anos, onde os companheiros, oriundos de outras cidades, o consideravam quase um corpo estranho dado ser de Madrid. "Na altura tinha amizades problemáticas, se não fosse para ali [colégio] não estaria onde estou", recordou.
Pai com carreira de futebolista
também passou ensinamentos
Com um irmão também futebolista, Raúl de Tomás tem o futebol no sangue, já que é filho de um antigo jogador. E pelas dificuldades sentidas pelo seu pai, que fez carreira nas divisões secundárias de Espanha, De Tomás admite que aprendeu "desde a infância que o futebol não é perfeito". "O meu pai jogou em alguns clubes que não pagavam ao fim do mês e eu perguntava-me como seria trabalhar sem receber", contou. Após terminar a carreira, o progenitor do avançado a caminho da Luz abriu uma escola de condução, de forma a que nada faltasse à família. Por isso, De Tomás diz ter "aprendido a encontrar sempre soluções" para os problemas e frisa que o seu sucesso será sempre mérito do seu pai.
Desiludiu Zidane, o grande ídolo
De Tomás teve Zidane como grande ídolo. Encontrou-o no Castilla, em 2014/15, mas apesar dos sete golos feitos diz ter "desiludido" o técnico. "Falávamos muitas vezes e deu-me uma confiança que não soube devolver. As coisas não me saíram", assume.
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Tatuagens para lembrar as origens
Fã de tatuagens, o atleta faz questão de marcar o corpo com mensagens para não esquecer as suas origens e a manter o foco. "Persegue as tuas metas e cumpre os teus sonhos, mas não te esqueças de quem és nem de onde vens" e "Tudo acontece por alguma razão" são duas das muitas tatuagens que tem.
Contra um VAR que tira a concentração
O VAR está cada vez mais difundido, mas De Tomás assume-se contra a medida. "Não gosto do VAR. Agora, antes de uma jogada pensas mais nisso do que em controlar a bola. É um pouco incómodo pensar nas câmaras", confessa.
Boxe e carros como paixão e descanso
Além da paixão pelo ginásio, De Tomás aproveita ainda os tempos livres para praticar boxe, algo que faz várias vezes por semana, e para descomprimir na condução. "Gostava de ser piloto de rally. Tenho dois simuladores de carros em casa e conduzo no meu tempo livre", diz.
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Elogia Benzema e pede memória
De Tomás critica os que só olham para os números. "Custa-me que quando tens um ano mau se esqueçam do que fizeste antes. Veja-se o Benzema [em 2017/18 fez 12 golos]. Sabe todas as facetas de um jogo, joga dentro e fora da área. Mas às vezes perdemos a memória", atira.
Recordista de golos numa época no Rayo
Raúl de Tomás já faz parte da história do Rayo Vallecano, do qual até foi sócio em criança, por não ter dinheiro para as quotas do... Real Madrid. Em 2017/18 fez 24 golos e bateu um recorde com 38 anos, pois superou os 21 de Fernando Morena.