Conforto ofensivo para um Fenerbahçe frágil na defesa - A análise de Luís Cristóvão

Dispersão ofensiva. Na direita, lateral ultrapassa extremo. Extremo esquerdo surge no corredor central. Médios centro em apoio.
Benfica defronta o Fenerbahçe esta terça-feira, às 20h00, no jogo da primeira-mão da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões
O nome do Fenerbahçe assustou no dia do sorteio da 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, mas esta é uma competição onde um dos gigantes turcos tem tido dificuldades para entrar. O seu melhor resultado ocorreu na temporada de 2007/08, quando atingiram os quartos-de-final, ano que marca também a última presença entre os milionários. Não vencendo a SuperLig turca desde 2014, as mexidas operadas no comando técnico também não são uma novidade. A aposta deste ano é Philip Cocu, holandês de 47 anos, que, depois de vencer três títulos nacionais com o PSV Eindhoven, se testa agora num quadro de maior exigência.
Os jogos da pré-temporada que tivemos oportunidade de analisar demonstram que, ao nível da organização, irá tentar fazer evoluir a sua equipa a partir do que herdou da época passada. No entanto, com Soldado lesionado e ausente da preparação, a forma de atacar do Fenerbahçe baseia-se, acima de tudo, na mobilidade de um trio de jogadores que, com a sua criatividade, acabam por ir transformando a imagem de marca deste conjunto.
O francês Mathieu Valbuena parte da faixa esquerda para aparecer muitas vezes no corredor central, destacando-se pelo número de assistências para golo que fez na época passada, 9. O brasileiro Giuliano, mais solto pelo meio, tanto pode aparecer uns passos atrás, com um passe disruptor, como apresenta forte chegada na área, ou não tivesse sido ele o melhor marcador em jogos da SuperLig na última época. A partir da faixa direita, as opções passam por André Ayew, que chegou emprestado pelo Swansea e se estreou no último encontro de preparação, havendo ainda Nabil Dirar e Baris Alici, jovem turco recrutado ao Altinordu.
Sem Soldado - entretanto recuperado -, a equipa vem apresentando Alper Potuk como referência ofensiva, o que mais sublinha a mobilidade do ataque, com Potuk a ler muito bem as trocas de posicionamento com os companheiros de equipa. A frente ofensiva é completada com as subidas dos laterais, sobretudo Isla, muito ativo na faixa direita. É, desta forma, um conjunto muito criativo e com enorme capacidade de jogar no 1x1, algo que também poderá ser importante em oportunidades de transição ofensiva.
Para além do mais, o conjunto do Fenerbahçe revela um enorme conforto no controlo da posse de bola no meio-campo do adversário, com capacidade de circulação e penetração dentro do bloco, dadas as características dos seus jogadores. Na primeira fase de construção, será normal ver um dos médios, Topal ou Souza (que não poderá jogar na 1ª mão, devido a suspensão), recuarem para entre os centrais, aliviando a pressão sobre Skrtel e Neustadter, que revelam bastantes dificuldades quando o adversário defende com bloco mais pressionante.
Aqui surgirá um dos momentos de oportunidade para o Benfica chegar ao golo, fundamental para não ficar exposto à qualidade ofensiva do seu adversário. O Fenerbahçe demora um pouco a posicionar-se no momento da transição defensiva e, tendo em conta que apresenta laterais com forte participação no momento ofensivo, é natural que exista espaço para o contra-golpe encarnado.
A equipa de Philipe Cocu sofre quando tem de defender no seu meio-campo, sobretudo devido ao facto de demonstrar uma tendência para fazer uma linha defensiva de 5, com o recuo de um dos médios, o que pode deixar demasiado espaço para ser aproveitado por um segundo avançado, situação que, nos jogos de preparação, se revelou através de dificuldades de cobertura, dado existir a tentação de perseguir o jogador com bola.
A equipa defende de forma mais confortável quando está no meio-campo adversário, chamando-se a atenção para as dificuldades que tentará impor no momento das reposições de bola do Benfica, com muita gente no meio-campo ofensivo, a tentar conquistar, logo aí, a oportunidade de criar chance de golo.
As bolas paradas são o momento do jogo menos trabalhado pelo conjunto do Fenerbahçe. Ofensivamente, é uma equipa que tenta aproveitar o poderio aéreo de Martin Skrtel e Mehmet Topal (que recupera de problemas físicos e não foi utilizado no último jogo de preparação), com a colaboração de Neudstadter, a criar momentos de diversão ao primeiro poste e um ataque na zona central. Defensivamente, a equipa vem optando por marcar referências individuais, outra das situações perante a qual o Benfica pode aproveitar para conquistar vantagem.
O Fenerbahçe é uma coisa bastante perigosa no seu meio-campo ofensivo, mas com fragilidades no momento defensivo. Jogar primeiro em casa tem que ser aproveitado pelo Benfica para demarcar diferença no marcador, chegando assim ao complicado ambiente de Istambul com o maior à vontade possível.
