"Gosto de ver uma equipa a jogar bom futebol, é o que acontece neste momento"
Roger Schmidt concedeu entrevista à revista "Kicker", abordando vários assuntos da realidade benfiquista
Receção e cultura portuguesa: "Sinto-me muito bem-vindo, mesmo antes de termos começado a jogar. Reparei que a cultura portuguesa se adapta bem a mim. Percebe-se a importância do futebol e a paixão que sentem por este desporto, especialmente pelo Benfica, nesta cidade. Senti isso logo desde o início, houve uma abordagem positiva a nós [equipa técnica] e a mim. Somos os recém-chegados. Depois, foi concentrarmo-nos no trabalho e convencer. Penso que a equipa está a corresponder. O que se passa no campo é a avaliação do treinador. Tentámos ainda alterar coisas, concentrar-nos em outras coisas em termos de futebol, no que é o Benfica, futebol de ataque, jogar para a frente. É sempre positivo jogar bem, ganhar jogos, marcar golos. Isto vai reforçando a confiança e ajuda-nos porque reconhecem o nosso trabalho, mas, tal como a classificação, isto é uma coisa momentânea. Tem de ser constantemente reiterada e é muitíssimo importante."
A importância das experiências anteriores: "Continuo na mesma. Por vezes o que passa cá para fora não corresponde à realidade. Quem trabalha comigo de perto, nos clubes, sabe que não mudei, nem na forma como lido com as pessoas, nem enquanto treinador. É claro que me vou desenvolvendo. Sinto que sou hoje um treinador melhor do que no [PSV] Eindhoven, que lá era melhor treinador do que na China, e lá era melhor do que em Leverkusen. Com cada trabalho ganhamos experiência. O trabalho de treinador é tão complexo que acabamos por ter um rol maior de opções no que toca à liderança de pessoas, de equipa, na tomada de decisões, por se ter mais experiência. Isso ajuda todos os dias nas muitas opções que se tem de tomar enquanto treinador, ajuda a tomar as decisões certas. E ajuda a ter uma certa serenidade em alguns temas. Isto foi algo que trouxe comigo dos vários locais onde treinei. Daí achar muito importante ter trabalhado tanto no estrangeiro, porque aí é tudo novo. Liga nova, cultura nova, pessoas novas. Penso que cada um é mais adequado a umas culturas e pessoas do que a outras. O que tenho agora, esta abordagem portuguesa, parece-me que se adequa muito bem a mim e por isso está a correr muito bem."
Experiência no futebol asiático: "Foi um desafio especial, porque é uma cultura completamente diferente. Estamos na Europa, e entre Países Baixos, Portugal, Alemanha e Itália, são culturas e pessoas diferentes, mas da Europa para a Ásia é outra história. O que levei comigo é que, para um treinador, o que conta é sempre o mesmo, independentemente do país. Tens de levar as pessoas a vencer, têm de te seguir, têm de acreditar em ti, tu tens de ter uma ideia clara do que queres que aconteça na equipa, no clube, porque tudo o que se vai passar depende de certa forma das ideias do treinador. Depois é conjugar tudo para criar uma equipa estável, que entre em campo convicta e jogue um determinado tipo de futebol. É assim na China, nos Países Baixos e agora em Portugal é igual. Há muitos caminhos diferentes para lá chegar, é preciso encontrar o nosso caminho. Sempre fui fiel a mim próprio. Sempre vi as pessoas, não só os jogadores, mas as pessoas em si e também tudo o que rodeia uma equipa, o que é bastante. É preciso criar um sentimento de comunidade, em que cada um se sinta valorizado, importante e que cada um tenha no coração o sucesso da equipa. Acho que assim podemos desenvolver uma energia positiva que acarreta sucesso no futebol."
A forma de jogar: "Claro que quando mudas de clube e de jogadores, o jogo muda. Eu já tive equipas que tinham muita posse. Queremos isso, é o mais importante no futebol, porque te permite marcar golos, mas há tipos diferentes de posse. Há a construção de jogo controlada, mas há a posse depois de fazer pressão e ganhar a bola, há a posse depois de se perder a bola e a recuperar, são todos momentos de posse de bola que se pode utilizar de formas diferentes. No futebol, precisas de todos estes momentos para depois poder ser-se flexível, imprevisível e poder marcar golos de formas diferentes. E manter o jogo longe da nossa baliza. Nos últimos anos tenho dado muito valor ao controlo do jogo, do ritmo do jogo e isso funciona melhor quando temos a bola. Eu sempre treinei equipas com competições internacionais, onde se joga de três em três dias. Tem de se encontrar uma forma de jogar, em certa medida, económica, onde se consiga jogar de forma fiável a cada três dias, mas que também permita alguma regeneração. Isto tem de ser adaptado ao clube, à cultura, aos jogadores."
Passagem pelo Red Bull Salzburgo: "Em Salzburgo desenvolvemos em conjunto um estilo de jogo que era muito extremo. Muita pressão alta e gegenpressing, mas também com muita posse de bola. Era uma posse muito vertical. Desenvolvemos esse estilo durante dois anos, com o Ralf, o Helmut Gross, com todos os que lá estavam no início. Porque quando começámos isso não existia. No Salzburgo havia um tipo de futebol completamente diferente. Praticamente lançámos isto, ao longo de dois anos, funcionou muito bem e teve muito de especial. E depois deste desenvolvimento ficou claro que eu ia tentar aplicar isto em Leverkusen. Resultou bem, penso que jogámos muito bom futebol, mas tal como evoluiu em Salzburgo, em Leverkusen também a minha abordagem evoluiu."
O que deixa o técnico satisfeito: "Acho que com o passar dos anos e com passagens por clubes deve melhorar-se. Eu devo melhorar. Todos devem. Todos os treinadores, não só eu. É difícil falar de mim, não me quero avaliar a mim próprio. Gosto de olhar para um campo e ver uma equipa a jogar bom futebol, com um plano claro e a fazer tudo para vencer o jogo. Quando vejo isso fico satisfeito. É o que acontece neste momento. Vejo-o de três em três dias. Isso deixa-me feliz enquanto treinador."