Especialistas definem lista de prioridades para restaurar ecossistemas
Investigadores, decisores e proprietários de terrenos identificaram as prioridades na recuperação dos ecossistemas europeus, como a luta contra a desertificação e as plantas invasoras nas florestas portuguesas, informação a ser transmitida aos responsáveis políticos e aos financiadores.
O grupo de 37 elementos de vários países, incluindo uma investigadora portuguesa, ligados ao restauro de ecossistemas listou as áreas de intervenção prioritária, acabando por limitar a 100 questões, que foram enviadas ao comissário europeu Carlos Moedas e serão encaminhadas para responsáveis políticos de cada país, assim como para entidades investidoras, avançou à agência Lusa a representante de Portugal no grupo.
Cristina Branquinho, do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais -- cE3c, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, uma das autoras do trabalho coordenado pela Universidade de Cambridge, Reino Unido, agora publicado, explicou que "a ideia é que se libertem fundos para projetos seguindo aquela hierarquia" de prioridades.
"Era bom que os governos e financiadores locais, nomeadamente Portugal, vissem algumas das prioridades que mais sentido fazem e as financiassem", especificou.
Prevenção e recuperação depois de fogos, desertificação, alterações climáticas, descontaminação dos solos devido à atividade de minas e gestão de plantas invasoras são alguns dos temas prioritários em Portugal.
Entre os aspetos que "não estão ainda a ser bem acautelados" em Portugal, está, segundo Cristina Branquinho, a recuperação dos ecossistemas após os incêndios, que deve torná-los resilientes ao fogo, o que não tem a ver só com o tipo de árvores, mas também com a forma como são plantadas, atendendo, por exemplo, às características dos terrenos.
"Plantar floresta em zonas desertificadas vai aumentar a matéria orgânica do solo, vai regular o clima, aumentar a biodiversidade, ou seja, permitir a prestação de serviços que a natureza costuma prestar e damos por falta quando desaparecem", apontou a investigadora.
A reabilitação dos ecossistemas marinhos também teve a atenção do grupo, assim como os restauros mais tradicionais, muitos casos já previstos na lei, associados à atividade industrial e às autoestradas, como a recuperação de pedreiras, de areeiros ou das margens daquelas vias rodoviárias.
A recuperação de ecossistemas degradados ou destruídos, uma tarefa multidisciplinar, tem recebido crescente atenção das áreas política e científica e assume especial importância na Europa -- uma região densamente ocupada e transformada pelo homem -- a fim de melhorar a capacidade dos ecossistemas para suprir as necessidades presentes e futuras de milhões de pessoas e contribuir para a conservação da biodiversidade.
Com esta lista, os autores pretendem estimular o debate e contribuir para que a investigação nesta área do restauro ecológico vá ao encontro dos objetivos europeus para conservação da biodiversidade, concluiu Cristina Branquinho.