UM LIVRO POR DIA - Boa razões para ler "Futebol à Esquerda".
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Este livro chega três dias atrasado, mas ainda a tempo de apanhar o comboio do 25 de abril. "Futebol à esquerda" é exatamente o que promete o título, ou ainda mais, se acrescentarmos que o autor, o jornalista espanhol Quique Peinado, chega a descartar protagonistas por terem assinado contratos de publicidade. O alemão e maoista Paul Breitner, por exemplo, não consta das dezenas de histórias ali narradas porque aceitou cortar a famosa barba a troco de 150 mil marcos, pagos por uma marca de "aftershave".
Mas sosseguem, "Futebol à Esquerda" não é um livro de culinária para comunistas que comem criancinhas. São registos de "futebolistas que disseram o que pensavam", ainda que privilegiando os que disseram e fizeram, como o lendário ponta de lança chileno Carlos Caszely que recusou apertar a mão a Pinochet e, anos mais tarde, usou a festa de despedida para pôr a mãe a contar as torturas que sofrera às mãos do ditador. Diz-se que esse passo foi decisivo no resultado do plebiscito que o derrubou. É um livro de histórias necessárias, como as dos "Meninos da Rússia", crianças que fugiram da guerra civil espanhola para a União Soviética. Um deles, Agustín Gomez, fez-se jogador do Torpedo de Moscovo e representou a seleção da URSS, antes de voltar a Espanha para ajudar a construir o Partido Comunista.
Os mais recentes Sócrates, Cruijff ou Juan Pablo Sorín também constam dos relatos, cada um com o seu tipo de intervenção, e nem sempre por motivações políticas. O racismo e até o vegetarianismo também puxaram pela língua aos jogadores da bola. E jogadoras. Não se pode perder a saga moderna das irmãs Doller contra o político de extrema-direita Martin Graf, no cenário improvável do clube austríaco FC Hellas Kagran.