Talibãs reagem à eleição de Trump: "Os americanos não estão dispostos a confiar o seu grande país a uma mulher”
Reações à eleição de Donald Trump para 47º presidente dos Estados Unidos chegam dos quatro cantos do mundo
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A oposição que reclama a vitória nas eleições presidenciais venezuelanas felicitou Donald Trump pela eleição para a presidência dos Estados Unidos da América (EUA), afirmando contar com o apoio do republicano.
“Dou os meus parabéns ao Presidente eleito Donald J. Trump e ao povo dos Estados Unidos pelo processo eleitoral cívico e massivo”, escreveu María Corina Machado na sua conta da rede social X (Twitter).
A líder da oposição venezuelana, que vive na clandestinidade em Caracas desde que Nicolás Maduro foi declarado o vencedor das eleições presidenciais de julho, acrescentou que a “Venezuela vive dias decisivos para milhões de cidadãos e para a democracia e para a estabilidade na região”.
“Sabemos que temos o apoio dos povos das Américas e dos seus governos democráticos para assegurar uma transição sem demora para a democracia. E sabemos também que sempre pudemos contar consigo”, escreveu Machado, dirigindo-se diretamente a Trump para garantir que a fação política que representa “será um aliado fiável”.
“O governo democrático que nós, venezuelanos, elegemos a 28 de julho e que assumirá o seu mandato constitucional a 10 de janeiro [data da tomada de posse oficial do presidente venezuelano], será um aliado fiável para trabalhar com a sua administração”, defendeu.
A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Maduro com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.
A oposição venezuelana e diversos países da comunidade internacional denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente, o que o CNE diz ser inviável devido a um “ciberataque” de que alegadamente foi alvo.
Os resultados eleitorais foram contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo de mais de duas mil detenções e de mais de duas dezenas de vítimas mortais.
O Supremo Tribunal ratificou a vitória de Maduro, cuja equipa continua a garantir que tomará posse a 10 de janeiro.
Durante o seu primeiro mandato na Casa Branca, entre 2017 e 2021, Trump adotou uma linha dura em matéria de sanções económicas contra a Venezuela e reconheceu o então líder da oposição, Juan Guaidó, como presidente interino, numa tentativa vã de afastar Maduro do poder.
González Urrutia, atualmente exilado em Espanha, também felicitou Trump.
“Com a mesma responsabilidade de presidente eleito, desejo reforçar as nossas relações”, indicou.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, felicitou Donald Trump pela sua vitória nas eleições presidenciais norte-americanas, sublinhando a importância da cooperação entre os Estados Unidos da América (EUA) e as Nações Unidas.
“As Nações Unidas estão prontas para trabalhar de forma construtiva com a próxima administração para enfrentar os desafios dramáticos do nosso mundo”, disse Guterres, num comunicado, depois de as relações entre a organização multilateral, com sede nos EUA, e Donald Trump terem sido complicadas durante o primeiro mandato do republicano na Casa Branca (2017-2021).
Donald Trump, 78 anos, reivindicou a vitória nas eleições presidenciais de terça-feira, embora os resultados finais ainda não tenham sido confirmados.
A Presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, de esquerda, declarou que o México não tem “qualquer motivo de preocupação” com a eleição do republicano Donald Trump como Presidente nos Estados Unidos, seu principal parceiro comercial, absorvendo 80% das suas exportações.
“Somos um país livre, independente e soberano e haverá uma boa relação com os Estados Unidos”, afirmou Sheinbaum, numa primeira reação à vitória de Trump nas eleições presidenciais da véspera, na sua conferência de imprensa diária.
“Vamos aguardar” resultados mais completos nos Estados Unidos, “para poder fazer o comunicado oficial”, acrescentou.
No último dia de campanha, segunda-feira, Donald Trump ameaçou o México com um aumento das tarifas alfandegárias perante o afluxo de migrantes e o tráfico de droga.
“Se eles não detiverem esta onda de criminosos e drogas que entram no nosso país, vou impor imediatamente uma tarifa aduaneira de 25% sobre tudo o que eles enviam para os Estados Unidos da América (EUA)”, disse o candidato republicano.
“Vai haver diálogo, e é por isso que digo que não há motivo para preocupação”, sublinhou a Presidente mexicana, em resposta a uma pergunta.
“O México, os Estados Unidos e o Canadá têm atualmente um nível muito elevado de integração económica”, precisou, referindo-se ao acordo de comércio livre entre os três países, que será revisto em 2026.
Tal integração “beneficia os Estados Unidos e o México. Não estamos em concorrência, pelo contrário, complementamo-nos mutuamente", explicou.
“Continuaremos a trabalhar muito” com as empresas norte-americanas que têm investimentos no México, assegurou Sheinbaum.
“Relativamente a outras questões que são importantes para os Estados Unidos e o México, vamos manter este diálogo de alto nível”, indicou, mencionando “tudo o que tem que ver com a entrada de drogas procedentes do México nos Estados Unidos, com a entrada de armas procedentes dos Estados Unidos no México”.
A chefe de Estado mexicana referiu ainda que “no México, a migração na fronteira norte (com os Estados Unidos) caiu 75% entre dezembro de 2023 e hoje”.
O governo talibã do Afeganistão disse esperar “um novo capítulo” com a reeleição de Donald Trump, que assinou um acordo de paz com o grupo fundamentalista no primeiro mandato como Presidente dos Estados Unidos.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros afegão, Abdul Qahar Balkhi, escreveu nas redes sociais que esperava “progressos tangíveis nas relações” bilaterais e que Cabul e Washington “poderão abrir um novo capítulo”.
Em fevereiro de 2020, os Estados Unidos, então presididos pelo republicano Donald Trump, assinaram o acordo de Doha, no Catar, que abriu caminho à retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão.
O acordo também abriu o caminho para o regresso dos talibãs ao poder, já sob a presidência do democrata Joe Biden.
Três anos depois, nenhum país reconheceu as novas autoridades de Cabul.
O acordo de Doha foi “assinado sob a administração do Presidente Donald Trump” e “pôs fim a 20 anos de ocupação”, disse Balkh, citado pela agência francesa AFP.
Desde a queda dos talibãs em 2001 até ao seu regresso ao poder em 2021, o Afeganistão teve um governo apoiado pelo Ocidente.
A administração pró-ocidental, apesar de devastada pela corrupção, procedeu à abertura do país ao mundo e à expansão das liberdades individuais, nomeadamente das mulheres.
O porta-voz adjunto do governo talibã, Hamdullah Fitrat, disse na segunda-feira que Cabul queria “boas relações com toda a gente, incluindo a América”.
“Quem quer que ganhe [as eleições presidenciais] terá de escolher o caminho da política com base nas realidades do Afeganistão”, acrescentou.
Os republicanos têm criticado constantemente a caótica retirada dos Estados Unidos do Afeganistão em 2021, durante a qual 13 soldados norte-americanos foram mortos num ataque suicida no aeroporto de Cabul.
Trump usou o atentado de Cabul como argumento de campanha contra a vice-presidente de Biden, Kamala Harris.
Biden tem sido regularmente criticado por ter prosseguido o processo de retirada sem impor condições aos talibãs, nomeadamente um cessar-fogo entre o grupo e o governo de Cabul, que acabou por ser derrubado.
Um dos principais pontos de discórdia entre as autoridades talibãs e a comunidade internacional continua a ser a questão dos direitos das mulheres no Afeganistão, onde a ONU afirma que o governo está a impor um “’apartheid’ de género”.
“Os americanos não estão dispostos a confiar a liderança do seu grande país a uma mulher”, afirmou hoje o diretor do Departamento de Informação e Cultura de Kandahar, um reduto histórico dos talibãs, numa referência a Kamala Harris.