Kiev investiga alegados crimes de guerra em Kharkiv e detém "traidores e colaboradores"
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A Sky News, estação de televisão britânica, avança esta quinta-feira com a descoberta de 440 corpos numa vala comum na cidade reconquistada pelas tropas ucraniana de Izium. A informação foi dada pelo chefe da polícia de Kharkiv.
"Posso dizer que esta é uma das maiores valas encontradas numa cidade libertada, que contém mais de 440 sepulturas. Cerca de 440 cadáveres foram enterrados num só local", disse Serhii Bolvinov. "Sabemos que alguns foram mortos a tiro e outros morreram devido a fogo de artilharia. Alguns morreram por causa de ataques aéreos. Ainda assim, as causas da morte serão confirmadas durante as investigações", concluiu.
Izium, no leste da Ucrânia, esteve ocupada por forças militares da Rússia praticamente desde o início da guerra, a 24 de fevereiro, tendo sido reconquistada a 10 de setembro pelo exército da Ucrânia.
Izium, com cerca de 45 mil habitantes antes do início da guerra e que se situa a cerca de 120 quilómetros a sudeste da capital regional, Kharkiv, era um posto crucial para as tropas russas, que controlavam as cidades que conduziam à região de Donbass.
Entretanto, a Ucrânia indicou ter iniciado investigações sobre alegados crimes de guerra nos territórios que retomou às forças russas na região de Kharkiv, e desencadeou uma operação de detenção de " traidores e colaboradores pró-russos" nas localidades recuperadas.
"Os procuradores e investigadores estão a trabalhar, descobrindo novos crimes de guerra russos. Assassinato, tortura, destruição, como vimos em Bucha" em abril passado, nos arredores de Kiev, assegurou o procurador-geral da Ucrânia, Andriy Kostin.
O mesmo responsável indicou que foram criados 23 grupos móveis de procuradores, polícias, militares, membros dos serviços de segurança e outros peritos, para além de cinco "grupos temáticos" que investigam "factos de tortura de residentes locais e procurar quartéis e postos de comando da Federação russa" em Kharkiv.
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A tarefa destes grupos consiste em recolher "todas as provas possíveis e documentá-las de acordo com os padrões internacionais" para que sejam utilizadas em tribunais ucranianos e internacionais.
Uma tarefa imensa, segundo disse na quarta-feira a vice-ministra da Defesa, Hanna Malyar, e após as forças ucranianas se terem reapossado desde 6 de setembro na região leste de cerca de 8.500 quilómetros quadrados, 388 localidades e 150.000 pessoas.
O chefe do Gabinete da procuradoria regional de Kharkiv, Oleksandr Filchakov, assinalou que entre 09 e 11 de setembro foram recuperados seis corpos das aldeias de Hrakove e Zaliznychne.
Segundo afirmou, essas pessoas foram "assassinadas" por militares russos e enterradas por residentes locais. Assegurou "existirem indícios de tortura" nos corpos.
Em paralelo, as autoridades e forças militares e policiais ucranianas iniciaram operações de "estabilização" nos territórios recuperados.
Estas medidas incluem a detenção de "traidores" e "colaboradores" pró-russos.
"O Serviço de segurança [SBU] prossegue as medidas de estabilização em grande escala nas áreas de primeira linha do leste da Ucrânia. Apenas nos últimos dias após a desocupação na região de Kharkiv foram localizados e detidos 16 colaboradores locais", indicaram os serviços secretos de Kiev no seu canal Telegram.
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O Gabinete estatal de investigação da Ucrânia (DBR) já informou no dia 09 que começou em Balakliya a "processar informação sobre pessoas que durante a ocupação temporária cooperaram com os agressores" e recordou que nestas situações se prevê uma pena até dez anos de prisão.
Por sua vez, a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, afirmou que as medidas de "filtragem" de Kiev nos territórios libertados implicam o "assassinato" de civis por parte dos "serviços especiais e formações armadas neonazis da Ucrânia".
Assegurou ainda que "milhares" de pessoas, "civis pacíficos", estão a ser submetidos e estas medidas de filtragem.