A Ordem dos Engenheiros de Angola alertou hoje para a necessidade de um controlo sério das barragens nacionais, considerando o setor como uma "bomba relógio adiada" e que pode causar "consequências desastrosas" às populações circunvizinhas.
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"Porque nós temos mais de 100 barragens que ninguém sabe como estão, e uma barragem quando rompe não mata 50 pessoas como num prédio, pode matar cinco mil famílias ou mais", disse hoje Armindo Gomes da Silva, coordenador do Colégio Civil da Ordem dos Engenheiros de Angola.
O responsável falava à imprensa à margem do 1.º Fórum de Auscultação do setor da Construção e Obras Públicas de Angola, tendo adiantado que "as autoridades têm apenas um controlo mínimo das barragens".
"E não é um controlo sério. Nós temos que fazer um diagnóstico, daí precisamos canalizar recursos para o Laboratório de Engenharia de Angola, para empresas de projetos, e esses estudos terão papel preventivo e não curativo", defendeu.
Armindo Gomes da Silva, que no fórum apresentou o parecer da Ordem dos Engenheiros de Angola, defendeu ainda maior valorização do Comité Nacional de Barragens na inventariação dos problemas do setor.
"Mas para tal, deve ser também dignificado", criticou ainda.
Questionado sobre se as preocupações da Ordem abrangem também a barragem do Laúca, a maior e mais moderna do país, inaugurada este ano, o engenheiro valorizou a obra, sublinhando que a supervisão deve ser do Ministério da Construção e Obras Públicas.
"Laúca é uma obra nova, está bem feita, com responsabilidade, mas o que eu falo é no geral, a reitoria do Ministério da Construção e Obras Públicas. Porque o Ministério tem sempre de aprovar os projetos dentro das suas capacidades", disse.
Com o intuito de rentabilizar os custos das empreitadas, observou, o país deve "investir seriamente nas regras do jogo", porque, sublinhou, "as obras podem ser de qualquer Ministério mas elas não dependem de quem a utiliza mas de quem a faz".
"Que vai desde o planeamento, por exemplo. É preciso estabelecermos as regras de jogo no setor da construção", sustentou.
No capítulo da fiscalização das empreitadas, o coordenador do Colégio Civil da Ordem dos Engenheiros de Angola defendeu a necessidade de a realidade angolana ser transportada para os projetos de execução.
"Nós falamos muito sobre a fiscalização das obras, mas falamos muito pouco dos projetos. Os projetos de execução têm duas peças importantes, não só as peças que detalham as obras, mas fundamentalmente o caderno de encargos que é suportado pela Lei das Empreitadas e outra legislação aplicável", apontou.
Na abertura do fórum, o ministro da Construção e Obras Públicas de Angola, Manuel Tavares de Almeida, anunciou que o setor vai descentralizar os serviços de construção, conservação e manutenção de estradas secundárias e terciárias, atribuindo responsabilidade às províncias e municípios.
Ainda segundo Armindo Gomes da Silva, as reclamações que vêm do interior do país, sobre as ravinas que têm cortado a circulação rodoviária de municípios e cidades, "é um mito": "A ravina começa com um buraco mas nós não atendemos. E depois ela evolui para uma cratera".
"É um mito porque ela não começa numa semana a fazer já um metro cúbico de buraco, começa a fazer um pequeno orifício da cedência do terreno, por isso a necessidade da desconcentração dos serviços a nível dos municípios", concluiu.
