A diretora de informação da RTP colocou "o seu lugar à disposição" por considerar não ter "condições para a prossecução de um trabalho sério" e a administração aceitou por não ter "outra alternativa, sublinhando o seu "currículo irrepreensível".
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Em comunicado, o Conselho de Administração da RTP refere que "recebeu uma comunicação da diretora de informação Maria Flor Pedroso a colocar o seu lugar à disposição, por esta considerar que, face aos danos reputacionais causados à RTP, não tem condições para a prossecução de um trabalho sério, respeitado e construtivo, como sempre tem feito".
Depois de "auscultação dos motivos invocados pela diretora e exclusivamente por esses motivos, o Conselho de Administração considera que não tem "outra alternativa que não seja aceitar essa decisão", agradecendo a "Maria Flor Pedroso, jornalista de idoneidade e currículo irrepreensível, o trabalho desenvolvido de forma dedicada, competente e séria enquanto diretora de informação de televisão da RTP".
O Conselho de Administração "acredita que a linha editorial que vinha a ser desenvolvida pela direção, assente num jornalismo objetivo e rigoroso, livre e independente, isento e plural é a matriz de um serviço público de excelência, em absoluto contraste com a crescente tendência para um jornalismo populista e sensacionalista que repudiamos veementemente e que é imperativo combater".
A administração liderada por Gonçalo Reis adianta que "nomeará em breve uma nova direção à qual continuará a exigir a implementação das melhores práticas, para que o jornalismo feito pela RTP seja o mais completo, o mais sério, o mais credível e o mais isento, ao total serviço do público".
Maria Flor Pedroso colocou o seu lugar à disposição na sequência do conflito entre a equipa do "Sexta às 9", coordenado por Sandra Felgueiras, e a diretora de informação da televisão pública, o que levou o Conselho de Redação a convocar para hoje um plenário de jornalistas sobre o tema.
Em causa está um relato feito pela coordenadora do programa, em 11 de dezembro, numa reunião com o Conselho de Redação (CR) a propósito do programa sobre o lítio, em que adiantou que o "Sexta às 9" estava a investigar suspeitas de corrupção no âmbito do processo de encerramento do Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM), que passava pelo alegado recebimento indevido de "dinheiro vivo".
Nesse âmbito, Sandra Felgueiras acusou Maria Flor Pedroso de ter transmitido informação privilegiada à visada na reportagem [diretora do ISCEM, Regina Moreira], o que a diretora de informação da RTP "rejeitou liminarmente", de acordo com as atas do CR e com a posição enviada à redação pela diretora de informação da RTP na passada sexta-feira, a que a Lusa teve acesso.
Na posição escrita sobre a "verdade dos factos", Maria Flor Pedroso garante que "nunca" informou a diretora do ISCEM sobre a investigação.
"Nada foi falado sobre o contrato de compra e venda do imóvel ou outros dados da investigação. A diretora de informação limitou-se a defender os interesses da RTP ao tentar contrariar a recusa de uma entrevista", garante Maria Flor Pedroso, no texto.
Entretanto, até às 18:00 de domingo, mais de 130 jornalistas tinham subscrito um abaixo-assinado em defesa de Maria Flor Pedroso, uma iniciativa que arrancou na sexta-feira e conta com nomes de profissionais de várias gerações e meios, desde Adelino Gomes, Henrique Monteiro, Anabela Neves, Francisco Sena Santos, Rita Marrafa de Carvalho, São José Almeida ou Sérgio Figueiredo.
"Confrontados com o grave ataque público à integridade profissional da jornalista Maria Flor Pedroso, os jornalistas abaixo-assinados não podem deixar de tomar posição em sua defesa, independentemente das questões internas da empresa onde é diretora de informação, que manifestamente nos ultrapassam", referem os 133 jornalistas que subscrevem o documento.