As nomeações de Trump: Elon Musk, o "czar" das fronteiras, um comentador da Fox News e a polémica Tulsi Gabbard
Entre outras nomeações, o líder republicano colocou ainda Susie Wiles como sua chefe de gabinete, John Ratcliffe como diretor da CIA, Sliese Stefanik como embaixador na ONU e Tom Homan no que designou czar das fronteiras
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O futuro Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a nomeação do conservador Marco Rubio, atual senador republicano da Florida, para secretário de Estado da sua administração, que terá início em janeiro.
"Marco é um líder muito respeitado e uma voz muito poderosa pela liberdade. Será um forte defensor da nossa nação, um verdadeiro amigo dos nossos aliados e um guerreiro destemido que nunca recuará perante os nossos adversários", justificou Donald Trump, em comunicado, sobre a escolha de Rubio.
Após ter sido um crítico de Trump no passado, o político latino conservador, conhecido como um "falcão" em relação à China, Cuba e Irão, regressa à esfera de influência do próximo líder da Casa Branca, ao tornar-se no primeiro hispânico na chefia da diplomacia de Washington e que terá de lidar com os conflitos em curso no Médio Oriente e na Ucrânia e com o papel dos Estados Unidos nos órgãos multilaterais como a NATO.
Rubio, acrescenta o comunicado, "não irá parar até que a política americana se concentre mais uma vez no bom senso e no bem comum".
Através das redes sociais, o senador republicano afirmou que liderar o Departamento de Estado norte-americano "é uma enorme responsabilidade" e que se sente "honrado pela confiança" que Trump depositou nele.
"Como secretário de Estado, trabalharei todos os dias para fazer avançar a sua agenda de política externa. Sob a liderança do Presidente Trump, alcançaremos a paz através da força e colocaremos sempre os interesses do povo americano e dos Estados Unidos acima de todos os outros", declarou.
Filho de imigrantes cubanos e nascido em Miami em 1971, Marco Rubio ganhou popularidade nacional ao participar nas primárias presidenciais republicanas de 2016, nas quais enfrentou Trump, que acabaria por vencer as primárias do partido e chegar nesse ano à Casa Branca.
Durante essas primárias, Trump desvalorizou-o chamando-lhe "Pequeno Marco", e Rubio respondeu alertando para o modesto tamanho das mãos de Trump e chamando-lhe "vigarista" e "vulgar".
No entanto, após retirar-se da corrida presidencial, manifestou a sua lealdade ao magnata nova-iorquino e teve um papel relevante junto do eleitorado latino nas últimas presidenciais realizadas em 05 de novembro, para as quais chegou a ser dado como candidato à vice-presidência, antes de a escolha recair em J.D. Vance.
A partir da Comissão de Negócios Estrangeiros do Senado, influenciou a política para a América Latina da primeira administração de Trump (2017-2021), e, como vice-presidente da Comissão Especial de Informações da câmara alta do Congresso, alertou para as ameaças da China, Irão, Coreia do Norte e Rússia.
"Todos partilham um objetivo: querem enfraquecer a América, enfraquecer as nossas alianças, enfraquecer a nossa posição, a nossa capacidade e a nossa vontade", afirmou num discurso em março passado.
Rubio condenou veementemente a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, mas em abril passado, em linha com Trump, votou contra a aprovação de um novo pacote de ajuda militar e financeira a Kiev.
O senador republicano é o terceiro secretário que Trump anuncia para o seu gabinete, depois da Defesa, Pete Hegseth, e da Segurança Interna, Kristi Noem.
Hoje, designou também o congressista Matt Gaetz para procurador-geral e Tulsi Gabbard, antiga democrata pelo Havai no Congresso e ex-candidata presidencial, para diretora dos serviços secretos nacionais. Em algumas declarações, Gabbard expressou preocupação com a expansão da NATO e as suas implicações para a estabilidade da Europa. Durante a crise da Ucrânia, foi crítica quanto ao apoio militar direto dos EUA e das sanções, mencionando que tais ações poderiam aumentar as tensões com a Rússia e levar a um confronto maior.
Entre outras nomeações, o líder republicano colocou ainda Susie Wiles como sua chefe de gabinete, John Ratcliffe como diretor da CIA, Sliese Stefanik como embaixador na ONU e Tom Homan no que designou czar das fronteiras.
Trump designa congressista leal para procurador-geral
O futuro Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, designou hoje o congressista Matt Gaetz para procurador-geral, colocando no cargo uma figura leal que terá de lidar com os múltiplos casos que o líder republicano enfrenta na justiça.
Em comunicado, Trump explicou a sua escolha argumentando que “Matt acabará com o governo armado, protegerá as fronteiras, desmantelará organizações criminosas e restaurará a fé e a confiança bastante abalada dos americanos no Departamento de Justiça”.
Matt Gaetz, advogado e representante do Partido Republicano pela Florida na Câmara dos Representantes, foi o último nome conhecido para o elenco da futura administração de Trump, que tem escolhido políticos ultraconservadores que lhe são próximos.
Trump é também a favor de instruir o procurador-geral a defender as suas políticas em tribunal e até a abrir investigações judiciais contra os seus rivais políticos.
No Congresso, Gaetz caracterizou-se como um dos legisladores da ala mais à direita do Partido Republicano e totalmente alinhado com os desejos de Trump, tendo liderado a revolta interna que derrubou o então presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, em outubro de 2023, após ter chegado a acordos com os democratas.
O antigo líder Presidente norte-americano entre 2017 e 2021, e que se prepara para assumir um segundo mandato dentro de dois meses, foi já condenado por crimes de falsificação no caso de suborno da atriz porno Stormy Daniels, e enfrenta várias acusações, incluindo a tentativa de reverter o resultado da sua derrota eleitoral há quatro anos e o alegado envolvimento no assalto ao Capitólio dos seus apoiantes, ocorrido em 06 de janeiro de 2021, dias antes da posse do democrata Joe Biden como Presidente.
Trump alega que as acusações são politicamente motivadas e acusa o Departamento de Justiça de ter executado, no mandato dos adversários democratas, “uma caça às bruxas”
Trump escolhe Kristi Noem para endurecer controlo de imigração
O Presidente eleito dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, nomeou esta semana Kristi Noem, governadora do Dakota do Sul, para liderar o Departamento de Segurança Nacional (DHS), com a tarefa de endurecer as políticas de imigração.
Kristi Noem assumirá a responsabilidade pelo cumprimento das promessas de Trump de endurecer as políticas migratórias, incluindo a implementação de uma vigilância mais rigorosa nas fronteiras e a intensificação de operações de deportação em larga escala, medidas centrais para o novo mandato do Presidente eleito, que terá início em janeiro de 2025.
A governadora, conhecida pela sua posição firme em relação à imigração, já mostrou disponibilidade para colaborar com Trump na sua agenda política.
Em declarações nas redes sociais, Trump elogiou Noem como uma figura “forte na segurança das fronteiras”, realçando a sua experiência em iniciativas locais contra a imigração ilegal.
A atual governadora do Dakota do Sul também expressou o compromisso de “assegurar o controlo das fronteiras e restaurar a segurança nas comunidades americanas”.
Se for confirmada pelo Senado (câmara alta do Congresso, na qual os republicanos detêm a maioria), Kristi Noem assumirá uma estrutura complexa, responsável pelos órgãos de segurança fundamentais, incluindo o Customs and Border Protection e o Immigration and Customs Enforcement, agências encarregadas de executar as leis de imigração.
Além disso, ficará responsável por administrar entidades como a Guarda Costeira e os Serviços Secretos, este último alvo de críticas devido a falhas de segurança recentes, nomeadamente nos atentados contra Trump durante a campanha eleitoral.
Ao longo da sua trajetória política, Noem tem sido uma crítica fervorosa das políticas migratórias da administração do Presidente democrata Joe Biden, alegando que a falta de ação federal fomenta o aumento das taxas de criminalidade, tráfico humano e tráfico de drogas.
“A fronteira continua um campo de batalha”, afirmou a governadora em 2023, sublinhando a necessidade de uma atuação mais agressiva.
Em declarações anteriores, Kristi Noem já tinha criticado a entrada de migrantes ilegais e posicionado o Dakota do Sul como um estado que rejeita a redistribuição desses imigrantes.
A escolha de Noem insere-se numa estratégia mais ampla de Trump, que também recrutou figuras como Stephen Miller e Tom Homan, conhecidos por posições duras na área da imigração, para funções estratégicas no seu novo Governo.
Antigo assessor da Casa Branca durante o primeiro mandato de Trump, Stephen Miller foi o mentor de medidas como a proibição de entrada nos EUA de pessoas vindas de certos países muçulmanos.
Com um orçamento de 60 mil milhões de dólares (cerca de 56 mil milhões de euros) e uma estrutura de centenas de milhares de funcionários, o departamento que será liderado por Kristi Noem será um pilar essencial para Trump consolidar uma política migratória mais restritiva.
Com um percurso sempre associado a um alinhamento político com Trump, Noem consolidou a sua reputação como uma governadora fiel às ideias do Presidente eleito, defendendo medidas rígidas contra a imigração e recusando-se a implementar medidas de segurança pública, como restrições contra a covid-19.
Trump quer que Musk e Ramaswamy reduzam burocracia
O Presidente eleito dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, anunciou esta semana que os empresários Elon Musk e Vivek Ramaswamy irão liderar um organismo federal que visa reduzir drasticamente a burocracia e os gastos públicos.
Musk e Ramaswamy ficarão à frente do novo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) para redesenhar as estruturas federais e reduzir a burocracia e os gastos públicos, numa iniciativa apelidada de “Manhattan Project”, que visa implementar amplas reformas até ao dia 04 de julho de 2026, quando se irão comemorar os 250 anos da independência dos EUA.
“Um Governo mais pequeno, com mais eficiência e menos burocracia, será o presente perfeito para a América”, declarou Trump, demonstrando plena confiança na capacidade de Musk e de Ramaswamy para atingir tal objetivo.
Com estas escolhas, Trump visa reforçar as promessas de uma administração mais eficiente, assente na eliminação de excessos e da sobreposição de funções, mas também na redução da máquina governamental em até 75%.
Tais propostas foram lançadas por Ramaswamy, que chegou a disputar as primárias republicanas para a nomeação presidencial, que sugeriu cortes radicais em departamentos como Educação ou em agências federais como o FBI (polícia federal norte-americana).
O empresário multimilionário, e apelidado como o homem mais rico do mundo, Elon Musk - conhecido pelas suas críticas à regulamentação federal que diz travar a inovação - comprometeu-se a cortar até dois biliões de dólares (cerca de 1,8 biliões de euros) do orçamento federal.
Musk - que tem enfrentado entraves regulatórios nas operações das suas empresas, como a Tesla e a SpaceX - declarou que essa iniciativa “vai provocar ondas de choque no sistema” e eliminar desperdícios burocráticos.
A escolha de Musk para integrar a equipa de Trump está a levantar sérias questões sobre possíveis conflitos de interesse, já que as suas empresas assinaram contratos milionários com o Governo federal e estão envolvidas em investigações por agências que ele mesmo passará a fiscalizar.
Para Musk, o DOGE representará um novo patamar da sua participação em políticas públicas e poderá redefinir o cenário da economia tecnológica americana.
A promessa de reduzir a burocracia que hoje limita o setor de exploração espacial, em especial na obtenção de licenças ambientais para a SpaceX, é uma prioridade pessoal de Musk.
A sua visão, já expressa num comunicado, é de uma administração federal “liberta de obstáculos e comprometida com o desenvolvimento nacional”.
Vivek Ramaswamy - um ex-executivo farmacêutico e ex-rival de Trump nas primárias republicanas - trouxe à campanha do Presidente eleito uma retórica de combate ao chamado ‘establishment’ de Washington, apoiando medidas radicais de reduzir a máquina do Estado.
Defensor fervoroso da desregulamentação, Ramaswamy defende uma abordagem mais agressiva na eliminação de órgãos e funções que, na sua perspetiva, desviam o foco do Governo de “servir diretamente os interesses do cidadão americano”.
Trump insiste na promessa de “drenar o pântano”, que remonta ao seu primeiro mandato (2017-2021), e apresenta um projeto político com uma estrutura formal inédita, assente em duas figuras proeminentes e controversas do setor privado.
A criação do DOGE — cuja sigla remete para a Dogecoin, criptomoeda frequentemente promovida por Musk — reflete o tom mais irreverente e disruptivo que Trump parece querer adotar para o seu futuro mandato.
Contudo, a proposta de reformar a burocracia federal encontra precedentes no passado recente.
O exemplo mais semelhante foi a iniciativa do ex-vice-presidente Al Gore, que, no mandato do Presidente democrata Bill Clinton, liderou a Parceria Nacional para Reinventar o Governo, na década de 1990.
A experiência, embora tenha reduzido alguns cargos e programas redundantes, ficou aquém de uma verdadeira transformação estrutural.
Desta vez, o esforço de Trump, segundo Ramaswamy, é “mais profundo e sem precedentes”, procurando “uma reestruturação histórica que economize biliões em recursos desperdiçados”.
As nomeações de Musk e Ramaswamy mostram uma aproximação de Trump com lideranças que se destacam por estratégias de mercado agressivas e pela defesa de uma administração menos interventiva, sem as amarras da burocracia tradicional.
Com estas opções, Trump sinaliza um segundo mandato focado em transformar a máquina do Estado para atender “diretamente aos anseios dos americanos” e fortalecer o poder de decisão do setor privado sobre a economia nacional.
Apesar das grandes promessas, as estratégias práticas para alcançar essas metas ainda não foram esclarecidas.
Alguns observadores questionam se o plano possui viabilidade política e estrutural, especialmente em áreas como Defesa e Saúde, que concentram grande parte do orçamento federal.