"Eu já fui vítima de assédio sexual. Não pelo Miguel Afonso, há outros"

"Eu já fui vítima de assédio sexual. Não pelo Miguel Afonso, há outros"
Redação

Tita, antiga internacional portuguesa, promete denunciar a situação.

Ana Lopes, antiga futebolista internacional portuguesa, deixou esta sexta-feira uma mensagem nas redes sociais na qual refere que ela própria foi vítima de assédio sexual. As palavras surgem na sequência da acusação de jogadores do Rio Ave a Miguel Afonso, agora no banco do Famalicão, mas com Tita, como era conhecida no futebol, a garantir que o autor foi outro.

"Entretanto, já se passaram umas horas e há reflexões que podem ou deveriam ter sido ser feitas. Como ex- atleta, sugiro a quem ainda está no ativo e faz desta modalidade a sua profissão ou um estilo de vida, que se orgulha do percurso, como juntas fizemos crescer o futebol feminino, que possa repensar nos seus atos.
Haverá quem concorde com o digo, outras que não, mas neste tipo de casos a minha visão é esta: ficar calada ao ter conhecimento de causa de colegas que passam por estas situações é compactuar com quem exerce assédio.​ Não se pronunciar sobre o assunto, sabendo e tendo conhecimento real de provas, é também compactuar e dar asas a que histórias assim se repitam", pode ler-se no Instagram.

"Com esta publicação hoje assumo publicamente que também eu já fui vítima de assédio sexual enquanto jogava futebol (não pelo Miguel, há outros...) e que até hoje não tomei as medidas necessárias por falta de provas, sob pena de ser julgada por difamação, mas ainda assim, agora mesmo farei uma denúncia", garante.

Tita passou por clubes como Cadima, Ouriense, Benfica, Condeixa e Torreense, último clube que representou, em 2021/22.

Recorde-se que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) vai abrir um processo de averiguação aos alegados casos de assédio sexual de Miguel Afonso a jogadoras do Rio Ave, que ontem foram notícia no jornal "Público". Este procedimento segue os trâmites do Regulamento Disciplinar da FPF (Artigo 249.º), no sentido de o Conselho de Disciplina (CD) apurar eventual matéria para a instauração de processo disciplinar ao atual treinador da equipa feminina do Famalicão, acusado por futebolistas do Rio Ave de comportamento abusivo, quando lá foi treinador, na época 2020/21.

Além disso, a inexistência de qualquer denúncia formal de assédio através do canal próprio criado pela Federação - que salvaguarda o anonimato - inviabilizou a pronta tomada de medidas legais. Isto porque, conforme apurámos, é prática do CD comunicar quaisquer incidências ao Ministério Público e sempre que instaura processo que tem na base indícios com relevância criminal. A propósito, a FPF lançou no ano passado a campanha "não permitas" e levou-a a clubes da Liga BPI, Liga 3, Revelação, Liga Placard, segunda divisão de futebol feminino e primeira divisão de futsal feminino nas várias ações se formação sobre integridade.

Segundo o jornal "Público", Miguel Afonso terá trocado mensagens íntimas com jogadoras com idades entre os 18 e 20 anos, que terão acontecido logo na pré-época de 2020/21, quando já trabalhava no Rio Ave. O treinador reagiu às acusações através da página pessoal do Instagram, agradecendo "a todos aqueles que manifestaram apoio durante a noite", anunciando que, "com calma e alma", prepara a sua defesa "do esquema criado".

O Rio Ave, por seu turno, reconheceu terem existido "comentários circunstanciais", na altura, de jogadoras "relativamente a alegadas abordagens despropositadas" de Miguel Afonso, que o próprio negou, "e a pedido das atletas, o assunto não teve seguimento", lê-se na nota de imprensa, na qual assume o emblema não ter conhecimento de "qualquer queixa formal e oficial de nenhuma atleta junto das autoridades" de alegado assédio sexual.

O clube vila-condense explica que, apesar do "rendimento positivo da equipa nessa época desportiva, entendeu que a gestão de grupo e as metodologias não eram consensuais e adequadas, não estando reunidas as condições para a continuidade do técnico, pelo que encerrou aí a ligação com o mesmo".

O Famalicão alegou, por sua vez, que, "ao momento da contratação do técnico, e até ao dia de hoje [ontem], não tem conhecimento de nenhuma acusação ou denúncia às autoridades competentes que recaia sobre Miguel Afonso" e que está "totalmente disponível para colaborar com as entidades competentes com o objetivo primordial de estabelecer a verdade dos acontecimentos." Tanto o Rio Ave e o Famalicão reforçam a sua posição de censura de qualquer tipo de abuso ou violência e desrespeito pelos outros.