Susana Cova: "Em Alvalade o apoio seria positivo, mas também o poderia ter na Academia"
Eleita para suceder a Nuno Cristóvão, Susana Cova diz-se "muito discreta", mas revelou-se uma boa conversadora, apesar de optar por jogar à defesa em algumas questões.
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Em entrevista publicada na edição desta quarta-feira de O JOGO, Susana Cova, a nova treinadora da equipa feminina do Sporting dá a conhecer algumas das suas ideias para a nova época e entre vários aspetos justifica porque motivos espera disputar a primeira jornada com as campeãs nacionais na Academia.
É uma ideia errada pensar que não treinava há muito tempo?
- Completamente. Eu sou é uma pessoa muito discreta e gosto pouco de comunicação. Quando era treinadora adjunta na Seleção, nas sub-19 uma jogadora que hoje temos a nível top perguntou-me 'professora, quando é que será treinadora principal? Porque o seu trabalho é excelente...'. E eu respondi 'eu não quero ser treinadora principal. O que eu gosto mesmo é de estar no campo e de vos ajudar a melhorar.' Quando se é treinador principal, por vezes temos de dar prioridade à comunicação e aparecermos, em detrimento de estar no campo. E o que se faz no campo é que muitas vezes faz a diferença, na forma como lideramos e orientamos. Emendamos e refazemos e isso é que é a paixão do treinador e a minha paixão é essa. Não tanto a comunicação para fora, mas para dentro do grupo.
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Qual a sua filosofia de jogo/tática preferencial?
- Temos que olhar para o contexto em que nos vamos integrar e eu não tenho uma filosofia de jogo fechada. Gosto de muita dinâmica e as jogadoras que já trabalharam e trabalham comigo sabem perfeitamente isso. Não me fecho num ou outro sistema. Temos uma ideia de jogo e há que perceber as jogadoras que temos. Se tenho uma extremo que faz diagonais constantes, dentro do sistema há que adaptar o que temos para aproveitar o melhor de cada uma, ou seja, não nos podemos fechar e dizer que o sistema que gosto é este. Ao longo dos anos, vai perceber-se que já quase não se fala em sistemas, mas em ocupação de espaços.
Pondera colocar a Ana Borges como lateral, como acontece na Seleção? Ou ala que faça o corredor todo?
- Admitimos jogar com todas as jogadoras onde forem mais úteis à equipa. Seja a Ana, ou a Patrícia Morais. A Patrícia Morais é difícil, vai ter de jogar como guarda-redes [risos]. É onde ela é mais útil à equipa, como a Inês Pereira. Todas as outras depende da dinâmica coletiva da equipa. Não se pode olhar para uma jogadora, mas para o grupo e ver o que cada uma na relação com as restantes nos traz de positivo.
O sorteio ditou que o primeiro jogo oficial será com o Braga, em casa. Gostaria que a sua estreia fosse no Estádio José Alvalade?
- Sinceramente não. O Estádio de Alvalade fica numa zona mais central e naturalmente as pessoas gostariam que o jogo fosse no estádio para estarem mais disponíveis para assistirem ao jogo. Mas temos de ponderar em termos técnicos qual a vantagem para nós. Onde treinamos? Se vamos jogar em casa, a nossa casa é a Academia onde treinamos. Em Alvalade, as dimensões são diferentes. O apoio do público seria positivo, mas também é possível tê-lo lá se realmente nos quiserem apoiar. Podemos ter a Academia a abarrotar e sentir-se o apoio, mas é claro que não temos o mesmo número de pessoas com possibilidade de assistir ao jogo em comparação com Alvalade. Mas temos de olhar para dentro de campo e às vezes, se não tivermos oportunidade de treinar em Alvalade, estaremos a fazer mais um jogo fora. Temos ter vantagem em determinadas coisas, por jogar em casa.
Mas na primeira época, houve um Sporting-Braga em Alvalade, que acabou por ser determinante para a conquista do título...
- Certo, mas quando digo que não gostaria que o jogo fosse em Alvalade, não quer dizer que não gostasse que nenhum jogo fosse no estádio. Esse jogo foi muito bem escolhido em termos de momento, porque era decisivo e se calhar houve oportunidade de trabalhar em Alvalade com outra frequência antes do jogo. O público foi decisivo e era um momento da época mais avançado. Tínhamos meia época feita.
Na época passada, com o final da carreira de Patrícia Gouveia, a Solange Carvalhas assumiu em definitivo o papel de capitã. Dado que saiu, como fica a hierarquia de capitãs?
- É uma situação interna. Respeito a Solange, que capitaneou o grupo de uma forma que levou a glórias. Um capitão é um líder e a Patrícia Gouveia continua a liderar a equipa noutras funções e de forma exemplar com uma excelente ligação com a estrutura técnica e diretiva. Mas em termos de capitãs, irão perceber ao longo dos jogos.
É adepta da introdução do VAR no futebol feminino e não apenas pontualmente como na final da Taça de Portugal ou Supertaça?
- Todos os meios auxiliares que nos possam levar a diminuir o erro humano são sempre bem-vindos. Claro que não vai eliminar totalmente, porque há sempre situações dúbias. Os árbitros são quem melhor sabe ou deve saber dos regulamentos e o VAR é mais um instrumento. Dou um exemplo: um treinador dá um treino e se tiver a filmagem, a seguir verá mais alguma coisa e o VAR vem nesse sentido. É uma ferramenta positiva que vem auxiliar.
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