No último suspiro do prolongamento, o Jamor “explodiu”. Salomé Prat marcou o golo que selou o feito mais ilustre da história do Torreense, a primeira Taça de Portugal
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Foi um daqueles dias que não se esquecem. A 17 de maio, o Torreense assinou a mais bela página da sua história ao conquistar, pela primeira vez, a Taça de Portugal. Frente ao favorito Benfica, a formação de Torres Vedras venceu por 2-1, numa final intensa decidida nos instantes finais do prolongamento. O golo da glória teve assinatura francesa, Salomé Prat, avançada de 23 anos, que surgiu no momento certo para fazer “explodir” o Jamor. Em entrevista a O JOGO, a autora do golo decisivo revive o instante que mudou tudo, fala da força do grupo e revela a ambição que moveu o grupo azul-grená.
Vamos diretos ao momento que ficou para a história: aquele golo decisivo, ao cair do pano do prolongamento. Pode descrever-nos o que sentiu naquela ocasião irrepetível?
— Foi mesmo incrível, o melhor da minha vida até hoje. Só queria abraçar toda a gente e nunca mais largar. Foi uma mistura de alegria e alívio. Marcar naquele último segundo do prolongamento tornou tudo ainda mais especial. Nunca vou esquecer o que senti ali.
O que lhe passou pela cabeça quando viu a bola a entrar?
— A primeira coisa que pensei foi “conseguimos”! Mesmo sabendo que ainda havia um minuto de compensação, senti logo que tínhamos ganho. O jogo estava controlado, o ambiente era fantástico e estávamos cheias de vontade. Tudo parecia estar do nosso lado naquele momento.
O Benfica era apontado como favorito. Essa pressão extra jogou a vosso favor ou tornou tudo mais difícil?
— Tínhamos uma missão e estávamos focadas nela, nos nossos objetivos e no nosso jogo. Claro que havia sempre pressão, mas essa vinha de dentro, de nós próprias, era a pressão para mostrar o nosso melhor, fosse contra o Benfica ou contra qualquer outra equipa.
Ganhar a Taça de Portugal foi um feito inédito para o clube. Que significado tem este título?
— Para nós, significa tudo. Logo no início da pré-época, escrevemos “Jamor” num papel durante uma atividade com a psicóloga da equipa, era o nosso sonho, o nosso objetivo. Quando percebemos que podíamos mesmo ganhá-la, foi a concretização de todo o esforço, dentro e fora de campo, de toda a gente que trabalha connosco.
Como foram os festejos?
—As celebrações começaram muito antes da final. Durante toda a época, tivemos uma química incrível. Depois do jogo com o Braga, em que vencemos por 5-0 no total da eliminatória, sentíamos que éramos quase intocáveis. A festa da final foi a cereja no topo do bolo, com aquele orgulho e satisfação que só um título proporciona. O melhor foi estar rodeada das pessoas que importam e que estiveram connosco em todos os momentos. Nunca vou esquecer a música Mussulo, do DJ Malvado, era a nossa banda sonora no dia anterior e no próprio dia do jogo.
Acredita que este título pode alterar a forma como o Torreense é visto no panorama do futebol feminino nacional?
—Sem dúvida. Quando se ganham títulos e se mostra qualidade, as pessoas começam a olhar para ti de outra forma. É para isso que jogamos, para mudar perceções, atrair mais gente e continuar a crescer como clube.
Além da Taça, o Torreense terminou em quarto lugar na Liga BPI e foi semifinalista da Taça da Liga. Como explica este salto competitivo?
—Foi graças ao grupo fantástico que formámos, aos objetivos claros que definimos e à estrutura da equipa técnica, que manteve grande parte do plantel da época anterior. A consistência é a chave e é isso que temos vindo a construir.
Esta foi a sua primeira temporada em Torres Vedras. Como foi a adaptação ao clube e à cidade?
—Foi muito fácil. As pessoas foram muito acolhedoras e fizeram-me sentir importante desde o primeiro dia. Estava ansiosa por voltar a jogar na Europa.
Marcou seis golos em 30 jogos e ganhou protagonismo ao longo da época.
—Sim, sem dúvida. Aprendi a adaptar-me melhor, a compreender o jogo e as estratégias da equipa. Sinto que cresci e quero continuar a evoluir, a ser mais decisiva nos momentos importantes.
Depois desta temporada de sonho, o que se pode esperar do Torreense em 2025/26?
—O que conseguimos esta época prova que com crença e trabalho tudo é possível. Para o próximo ano, o Torreense vai ser ainda mais forte e mais ambicioso. Vamos defender o título e continuar a crescer.
E a nível pessoal, quais são os objetivos para o futuro?
—Agora que sei o que é ganhar um título, quero mais. Sonho jogar a Liga dos Campeões com esta equipa e, quem sabe, ser chamada à seleção francesa. Estou motivada para continuar a trabalhar e fazer sempre melhor.
Treinador Gonçalo Nunes transmite identidade própria
No meio da euforia pela conquista da Taça de Portugal, há algo que sobressai no discurso de Salomé: a singularidade do grupo que levou o Torreense ao topo. “A intensidade e a intenção” com que a formação de Torres Vedras “abordou tudo” é, segundo a avançado, o traço que distingue esta equipa de todas as outras por onde passou. Parte essencial dessa identidade é Gonçalo Nunes, o treinador cuja influência foi muito além da vertente tática. “Foi o primeiro a acreditar em nós”, sublinha Salomé. “A proximidade humana, aliada ao rigor do trabalho diário, criou um ambiente de muita confiança e superação constante. A preparação para a final da Taça foi exaustiva, mas sempre com um foco no coletivo. Este título é muito dele”, reconhece.