"Recebi uma chamada a dizer que me queriam no Benfica. Acho que pulei de alegria"
Carlota Cristo, 23 anos, deu os primeiros passos no futebol no Ginásio Tavira, onde jogou numa equipa mista. Uma experiência que considerou fundamental para se tornar na jogadora que é atualmente
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Nasceu em Tavira, no Algarve, mas o sonho do futebol levou Carlota Cristo a viajar até Itália, depois à capital e atualmente ao norte. A avançada, 23 anos, deseja ajudar o Valadares a conseguir a permanência na Liga BPI para posteriormente voltar ao Benfica e conseguir afirmar-se.
Em que altura deu os primeiros passos no futebol?
-Desde que me lembro que gosto de jogar futebol e com sete anos já jogava com os rapazes. Depois, surgiu a oportunidade de integrar uma equipa mista na minha cidade e foi assim que começou.
A experiência de jogar em equipas mistas contribuiu para o crescimento, enquanto jogadora?
- Sim, sem dúvida. Comecei no Ginásio Tavira e estive lá entre os 8 e os 12 anos e sinto que foi ótimo para mim. Fez com que hoje em dia seja a jogadora que sou. Fisicamente os rapazes são mais fortes, e nesse aspeto sinto que me ajudou imenso, até no simples facto de ter sido a única rapariga na equipa, ouvia sempre umas boquinhas de fora do campo... e sinto que isso também me fez crescer emocionalmente.
"Quando voltei de Itália estava sem clube e, um dia, recebi uma chamada a dizer que queriam contar comigo para a equipa do Benfica. Acho que pulei de alegria. Foi incrível"
Os primeiros clubes que esteve foram o Ginásio Tavira e o Guia. Que análise faz a essas passagens?
- No ginásio Tavira ainda era muito nova, mas foram anos muito bons, foi lá que me apaixonei por este deporto, que aprendi coisas incríveis e que me fez ser a jogadora que sou hoje. Depois ingressei no Guia, na primeira equipa feminina do Algarve, e foram anos incríveis e de muita evolução. Vi a realidade do futebol feminino e levo de lá amigas para a vida. Só tenho de agradecer a estes dois clubes.
Conta também com uma mudança para Itália, para o Verona. Como foi vivida essa oportunidade?
- Sim, tive uma passagem por Itália, sinto que foi uma ótima experiência, isto porque joguei com atletas experientes que me ajudaram muito a conseguir evoluir. Cresci imenso enquanto pessoa e jogadora.
Em 2018, estreou-se pelo Benfica. Foi uma mudança aliciante?
- Quando voltei de Itália estava sem clube e, um dia, recebi uma chamada a dizer que queriam contar comigo para a nova equipa do Benfica. Acho que simplesmente pulei de alegria e respondi logo na hora que podiam contar comigo. Foi uma sensação incrível e fiquei muito entusiasmada.
Nesse primeiro ano, marcou 30 golos em 23 jogos. Era difícil pedir melhor...
- Marquei muitos golos sim e em termos coletivos ganhámos tudo o que havia para ganhar. Foi uma das épocas mais felizes que tive, sem dúvida nenhuma.
Depois surgiu a oportunidade de vir para o Valadares por empréstimo no ano seguinte. Encarou bem a ideia de deixar o Benfica?
- Confesso que no início estava um pouco receosa por vir para o Valadares, mas encarei a mudança como uma forma de crescimento e aprendizagem, isto porque precisava de ganhar confiança e motivação e, por acordo de todos, achámos que o melhor era vir para o Valadares. E foi uma época muito boa a nível pessoal.
Esta época, depois de começar no Benfica, voltou novamente para o Valadares por empréstimo. Sente que foi necessário para voltar a ter o tempo de jogo que pretendia?
- No Benfica não estava a conseguir afirmar-me como queria e a jogar tanto quanto pretendia. Voltei ao Valadares para conseguir recuperar o meu alto rendimento e espero também poder ajudar a equipa nesta fase de permanência no principal escalão.
Quanto ao Valadares, que expectativas tem nesta segunda fase da prova?
- No Valadares queremos acabar esta fase de permanência em primeiro lugar e encarar todos os jogos como se fossem o último, pois nesta fase nenhuma equipa pode dar nada por garantido.
Já o Benfica, o objetivo será sempre regressar mais forte?
- O meu objetivo é voltar ao Benfica e conseguir afirmar-me lá. Para isso vou trabalhar muito e fazer um bom resto de época aqui no Valadares.
É de Tavira. Custou-lhe deixar o Algarve e mudar-se para a capital e depois para Gaia?
- Foi uma mudança fácil, pois já estava habituada a andar por Lisboa devido às convocatórias da Seleção Nacional. Quanto ao norte, confesso que foi mais complicado. Fiquei mais longe da minha família e dos meus amigos. Mas lá está, estou a fazer aquilo que gosto e a minha família apoia-me a 100 por cento. E o nosso país é pequenino, dá para ir matando saudades de vez em quando.
O quê que é mais difícil, sendo mulher, no mundo do desporto?
- Nos dias de hoje ainda há muito preconceito em relação ao facto de as mulheres praticarem desporto, mas não tem nada a ver com antigamente. Agora, a nossa luta é conseguirmos equiparar-nos aos homens. Ainda há uma grande diferença a nível de apoios, mas acho que estamos num bom caminho e que daqui a uns anos as coisas vão estar muito diferentes.