Ao fim de dois anos no Clube Albergaria, Diana Oliveira mudou-se, temporariamente, para Itália, onde vai estudar e, em simultâneo, jogar pelo Trastevere Calcio, do terceiro escalão
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A guarda-redes portuguesa, de 21 anos, quer mostrar que é possível conciliar os estudos com o futebol, sem descurar nenhuma das atividades.
Chegou recentemente a Roma para fazer Erasmus, mas sem deixar o sonho do futebol para trás. Como foi este processo?
- Não quero descurar a parte académica por causa do desporto, nem o contrário. Fazer Erasmus sempre me chamou muito a atenção desde que entrei na faculdade. Quero tornar o meu percurso académico um pouco melhor e ter outro tipo de experiências que não ia ter em Portugal. É um desafio, mas claro que é muito complicado tomar a decisão de deixar a família, os amigos e o futebol em Portugal, já que estava bem adaptada à equipa que representava.
Quando decidiu fazer Erasmus começou a ver clubes para jogar em Itália?
- Como sabia que vinha para Itália há algum tempo, estive a ver clubes onde poderia jogar e quando me mudei já conseguira clube. Vou para o Trastevere Calcio, da terceira divisão italiana. Muitas pessoas deixam de estudar por causa do futebol, ou deixam o futebol por causa dos estudos, e eu quero mostrar que é possível conciliar as duas coisas. Nenhuma destas atividades é um entrave para outras coisas. Estou a estudar engenharia biomédica e vou continuar a jogar futebol.
Chegou a Roma há poucos dias, já teve contacto com o clube?
- Já estive com um dos treinadores que me ajudou no processo, para conseguir orientar as minhas coisas nos primeiros dias. No fim de semana passado já vi um jogo delas. Até agora estou com boas expectativas, espero que se mantenham.
"Muitas pessoas deixam de estudar por causa do futebol, ou deixam o futebol por causa dos estudos, e eu quero mostrar que é possível conciliar as duas coisas"
A ideia passa por manter o ritmo competitivo durante estes seis meses ou o futuro pode passar por jogar no estrangeiro?
- Não posso dizer que não gostava de experimentar, um dia mais tarde, jogar numa liga no estrangeiro, mas a verdade é que esta questão de fazer Erasmus era o principal motivo. Como sempre joguei futebol e estudei ao mesmo tempo, não estava na minha cabeça parar de jogar ao fim de tantos anos. E se tenho oportunidade de o fazer e continuar a estudar, então, quando pensei nisso, acabou por se tornar na decisão mais óbvia a tomar e também a mais fácil. É uma forma de me adaptar à realidade em que estou agora.
Quais são as expectativas para esta nova temporada?
- Gostava de, para além de treinar, jogar. Essa parte competitiva é sempre importante. Vamos ver como é que as coisas correm. Ainda não estou muito adaptada à realidade do futebol feminino em Itália, mas espero conseguir adaptar-me a tempo de jogar e garantir o meu lugar na equipa.
O futebol e os estudos são, realmente, compatíveis?
- Claro, se formos atletas dedicados também acabamos por passar isso para a nossa vida académica. O facto de ter conseguido conciliar sempre o desporto com os estudos acabou por me dar outro tipo de à-vontade, de conseguir organizar-me e a arranjar tempo para fazer tudo aquilo que queria. Acho que isso é realmente muito importante. A família também me influenciou muito nesta perspetiva. Sempre me disseram que para fazer uma coisa, tenho de conseguir fazer a outra ao mesmo tempo. E acabei por arranjar tempo para fazer tudo. É sempre possível, não há que desistir de nada.
"É um desafio, mas claro que é complicado tomar a decisão de deixar a minha família, os amigos e o clube"
Antes de surgir esta mudança, fazia parte da equipa do Clube Albergaria. Como foi essa passagem?
- Mudei-me para Albergaria numa altura muito complicada da minha carreira. Tinha acabado de recuperar de uma lesão grave no joelho esquerdo e tinha estado durante largos meses sem jogar. Tinha a minha autoestima em baixo. Acabei por fazer essa transição depois desse processo e receberam-me muito bem.
Aquando dessa lesão, pensou em desistir do futebol?
- Desanimamos um bocadinho quando isto acontece, não vou negar. Estou habituada desde sempre a ter o futebol na minha vida e, claro, no período de recuperação houve momentos em que pensei que era mais fácil parar. Mas também é importante termos as pessoas certas ao nosso lado.
De certa forma, o Clube Albergaria foi um recomeço na carreira?
- Foi mesmo isso que senti, o Albergaria teve um papel muito importante no meu regresso. E isso nunca vou esquecer. Na altura acreditaram numa miúda que estava há quase um ano sem jogar, que tinha vindo de uma lesão grave, e isso foi muito importante para mim.
Acredita que é um clube que lhe pode reabrir as portas no regresso a Portugal?
- Sim, isso foi uma das coisas faladas. Aquilo que conversámos foi que nenhuma porta se fechava. É claro que não se pode prever o futuro, não sei o que vai acontecer, ainda falta algum tempo, mas sinto que pode ser uma possibilidade para o meu futuro.