A liga portuguesa fechou no passado fim de semana o seu segundo ciclo competitivo, parando agora durante quase um mês (com a exceção do jogo antecipado Aves-Tondela, a cinco de outubro). É altura, pois, de fazer um ponto da situação, com um destaque óbvio para a revelação absoluta Famalicão, o brilhante líder da prova.
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Os melhores e os piores do segundo ciclo
Este segundo ciclo foi constituído por apenas três jornadas do campeonato e se no primeiro ciclo o Famalicão havia sido a equipa com melhor registo, com três vitórias e um empate, a equipa minhota volta a encontrar-se agora entre os conjuntos com melhor desempenho, só com vitórias, a par e Porto, Benfica e Vitória de Guimarães. Curiosamente, estes são os atuais quatro primeiros classificados do campeonato.
Apesar deste equilíbrio, é mais do que justo destacar o comportamento do Famalicão, regressado dos escalões inferiores, que neste ciclo venceu em Alvalade. Já em termos de saldo de golos, o Vitória de Guimarães foi o melhor (9-2), seguindo-se o Famalicão (9-4), o Porto (6-2) e o Benfica (5-1). Igualmente interessante neste ciclo foi a performance do Santa Clara, com duas vitórias e uma derrota (sendo que esta aconteceu no Dragão, pelo que os açoreanos parecem preparar-se para mais uma liga tranquila (sétimo lugar, com 11 pontos), na sua segunda temporada consecutiva na liga principal.
Vale ainda a pena salientar que descontando o Santa Clara e os quatro primeiros classificados nenhuma outra equipa conseguiu mais do que uma vitória neste ciclo, embora o Boavista por não tenha perdido (três empates em três encontros). Aliás, Boavista e Famalicão são as duas únicas equipas que ainda não perderam na prova (os axadrezados são os reis dos empates: cinco).
Entrando no capítulo dos desempenhos negativos, há que começar pelo Sporting, com uma vitória, um empate e uma derrota (em casa, com o Famalicão), que resultam num fosso de oito pontos para o primeiro e de sete para o duo Benfica e Porto.
As piores séries neste segundo ciclo, pertencem ao Aves (último classificado), que somou três derrotas em três jogos e ao Moreirense, também com um pleno de derrotas (mas que vinha de conquistar sete pontos em três encontros). Já Gil Vicente e Portimonense pouco melhor fizeram, somando só um ponto em três partidas.
Em termos individuais, depois de Pizzi ter dominado o primeiro ciclo do campeonato, com cinco golos e uma assistência em quatro jogos, o benfiquista apenas marcou um golo neste segundo ciclo, cedendo o protagonismo maior a um jogador do líder do campeonato: Fábio Martins, médio ofensivo/extremo do Famalicão, que nestes três jogos amealhou quatro participações decisivas em golo (dois golos e duas assistências.) Fábio Martins, emprestado pelo Braga, com direito de opção de compra dos Famalicenses, leva já no campeonato quatro golos e quatro assistência, um total de oito participações diretas em golo, exatamente as mesmas de Pizzi (6+2) e Bruno Fernandes (4+4), o que significa que estes últimos têm este ano concorrência forte (pelo menos para já) na luta pelo estatuto de jogador mais valioso do campeonato. Recorde-se que na época passada, Bruno Fernandes terminou em primeiro no ranking com 33 participações decisivas em golos (20 tentos +13 assistências) e Pizzi com 32 (13+19).
Saúde-se o facto de estarmos a falar de três jogadores portugueses, todos eles médios ou extremos de origem. Já agora acrescente-se que os números de participações decisivas em golo de Pizzi e Fábio Martins correspondem a 50% dos golos das suas equipas, enquanto no caso de Bruno Fernandes essa percentagem é de 73%.
Famalicão: da segunda para primeiro
A performance do Famalicão neste arranque de liga não tem mesmo igual: nunca uma equipa vinda do segundo escalão chegara à sétima jornada na frente da classificação - em mais de 70 anos de história de campeonato contemplando subidas e descidas...Talvez ainda mais porque não corresponde a um início desastroso das melhores equipas: o Famalicão está onde está porque venceu seis jogos e só empatou um. O empate foi em Guimarães e os minhotos já ganharam em Alvalade, somando 16 golos marcados (tantos quantos Benfica e Porto).
Para encontrar uma proeza semelhante temos que recuar mais de 10 anos, quando em 2008/09 o Leixões, que note-se estava na sua segunda época consecutiva entre os grandes, (também depois de um grande hiato: quase 20 anos), treinado por José Mota, esteve na liderança até à jornada 10, com apenas uma derrota e cometendo as proezas de ganhar no Dragão e em Alvalade, e empatar em casa com o Benfica. Não será coincidência que estes dois aconteçam com clubes que têm grande apoio popular, de grande bairrismo. O Famalicão mesmo nas ligas inferiores destacava-se por levar muita gente aos estádios, tanto em casa como fora. O seu estádio tem lotação para 5000 espectadores e está quase sempre cheio, com uma taxa de ocupação perto dos 100%, como mais nenhum clube do campeonato tem.
Além do mais, este Famalicão graças ao investimento realizado por um dono estrangeiro possuiu jogadores de um nível superior ao que seria de esperar numa equipa com a sua dimensão: o orçamento é de equipa média-pequena, cerca de oito milhões de euros, mas o valor de mercado do plantel (acima dos 20 milhões) é o sétimo do campeonato (atrás dos grandes, Braga, Vitória, Portimonense e Rio Ave), muito por conta dos mais de 10 jogadores emprestados do grupo, vindos muitos deles de clubes bem mais poderosos, por ação do empresário Jorge Mendes: Assunção e Perez (Atlético Madrid), Roderick (Wolves), Centelles e Racic (Valência), Fábio Martins (Braga) ou Diogo Gonçalves (Benfica). O trabalho de João Pedro Sousa (ex-adjunto de Marco Silva, e com experiência internacional) também conta muito e a verdade é que o Famalicão, além de jogar bem, é uma equipa muito competitiva, tal como ficou provado nas duas reviravoltas recentes (fora com o Sporting e em casa com o Belenenses SAD).
Em termos ofensivos, destaque para os 16 golos marcados (melhor ataque) e para a impressionante eficácia de remate: 17% (a do Porto, por exemplo, está na casa dos 13%).
Para isso ajuda o facto do Fama ser a terceira equipa que mais remata no alvo (5.3 por jogo), apenas atrás de Porto e Braga, sendo ainda a equipa mais forte da liga no contra-ataque, já com quatro golos obtidos desta forma. Também nas bolas paradas o Famalicão tem um registo interessante, com cinco tentos obtidos desta forma, a terceira melhor marca do campeonato, a seguir a Porto (oito) e Marítimo (seis).
