Mariana Cabral e o futebol feminino em Portugal: "Treinar em relvado era uma sorte"
Ex-treinadora do Sporting deixou farpas aos leões
Corpo do artigo
Mariana Cabral deixou o comando da equipa de futebol feminino do Sporting de forma polémica e agora, nos Estados Unidos integrada na equipa técnica do Utah Royals, abordou de forma crítica - no podcast 'Olhá Bola, Maria', da Rádio Renascença - o entendimento que se tem do futebol feminino em Portugal e a gestão leonina do departamento.
"O Sporting podia ser muito melhor do que aquilo que é, só que há um problema grande em Portugal: as pessoas acham que nos estão a fazer um favor por terem uma equipa feminina. Quase que nos obrigam a estar gratas por ter uma equipa. Eu percebo que há pessoas que não se importam, mas eu não sou assim. Fazia-me muita confusão. E também foi por isso que acabei por me demitir, porque senti que não tinha mais vontade de dar a cara por algo em que já não acreditava. Nos Estados Unidos temos dois relvados, os homens têm dois relvados também, são lado a lado. Partilhamos o mesmo refeitório, a mesma cantina, normalmente em horários diferentes, mas às vezes cruzamo-nos. Em Portugal? Nunca. Em Portugal, já treinar em relvado era uma sorte. Quando nós entrámos no Sporting, nem gabinete para os treinadores tínhamos. Também não havia câmara, era emprestada. Não havia scouting na altura. Uma série de coisas que parece agora outro tempo. Claro que isso depois mudou. Eu aqui ganho quase o triplo do que ganhava no Sporting, e sou treinadora adjunta. É só um pequeno exemplo. Quando falo de condições, não falo apenas de dinheiro. Demiti-me do Sporting porque não ia feliz para o trabalho. E eu quero manter esta paixão pelo futebol", completou.