"Lado emocional será decisivo e o FC Porto, por estar mais habituado a ganhar, pode levar vantagem"
Vítor Santos, Luís Freitas Lobo e João Ricardo Pateiro, todos intervenientes no programa "Visão de Jogo", da "TSF" e de "O Jogo", respondem a cinco questões sobre o clássico entre o Sporting e o FC Porto, que pode definir o futuro das equipas na Liga.
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1 - Sporting e FC Porto estão obrigados a vencer por motivos diferentes: luta pela Champions e título. A pressão é igual de ambos os lados ou há diferenças pelas metas em questão?
2 - No último clássico, a final da Taça da Liga, o FC Porto venceu apesar de dominado em grande parte do jogo, nomeadamente na primeira parte. Esse jogo terá alguma influência na forma como os treinadores vão preparar o duelo de hoje?
3 - Onde poderá estar a chave do jogo e quem são os principais candidatos a desequilibrar a partida?
4 - O FC Porto não perde há sete jogos com o Sporting e venceu os últimos quatro. Encontra razões para tamanho desequilíbrio nestes últimos duelos?
5 - Espera que os treinadores surpreendam nos onzes iniciais ou mudanças, em relação ao último duelo, só motivadas por lesões ou castigos?
VÍTOR SANTOS
Pressão a dividir por dois
-O desfecho da final da Taça da Liga, com a vitória do FC Porto, equilibra o duelo em termos de necessidade de vencer. Quem corre pelo título está sempre mais pressionado, mas perder duas vezes seguidas com o rival, num período tão curto, seria um abalo com danos potencialmente irreparáveis no Sporting, que não pode perder mais pontos na luta pelos lugares de acesso à Liga dos Campeões. Além disso, a equipa de Rúben Amorim joga em casa, o que acrescenta responsabilidade.
Passado sem influência
- O Sporting, porque parece sempre mais confortável com bola, tentará assumir o jogo, mas o FC Porto procurará fazer o mesmo, embora a ausência de Otávio no meio-campo seja penalizadora nesse sentido. O domínio que a equipa de Rúben Amorim teve na final de Leiria resulta, em boa parte, do facto de os dragões se terem colocado cedo em vantagem, mas o que se passou nessa partida não terá influência hoje, em Alvalade.
No controlar está o ganho
- Quem conseguir o controlo do jogo no meio-campo estará sempre mais perto de vencer. A questão emocional também será decisiva e, nesse aspeto, o FC Porto, por estar mais habituado a ganhar, pode levar vantagem. Mas até poderá bastar um lance de génio para decidir tudo. Ambas as equipas têm jogadores com capacidade para resolverem um jogo "sozinhos": Edwards e Pote, do lado do Sporting, Galeno e Taremi, no FC Porto, são os mais habilitados.
FC Porto transcende-se
- Não é só com o Sporting... Com o Benfica acontece o mesmo, a exceção foi o último clássico no Dragão, em circunstâncias muito especiais, porque a equipa portista viu-se cedo reduzida a dez. Além de ter jogadores mais experimentados nos grandes palcos, Sérgio Conceição prepara muito bem os clássicos. Por outro lado, o FC Porto tem sido quase sempre capaz de se transcender nos grandes momentos. Essa capacidade de combate tem sido fundamental nas conquistas recentes do clube.
Apostas de continuidade
- Podem apresentar um ou outra nuance tática na tentativa de surpreender o adversário, mas sem protagonistas inesperados. No caso do FC Porto, torna-se até muito difícil, em função das ausências. Creio que, nesta fase, os treinadores procurarão, sobretudo, colocar em campo aquilo que foram aplicando ao longo da temporada, sem entrar em apostas disruptivas, muitas vezes fatais em duelos tão equilibrados.
LUÍS FREITAS LOBO
FC Porto pressionado
- A pressão de não deixar fugir o Benfica no primeiro lugar faz com que a pressão deste jogo esteja mais do lado do FC Porto, pelo maior objetivo da conquista do campeonato e porque em termos de distância pontual a diferença podia subir para níveis difíceis de recuperar em face do avançar da competição. O objetivo Champions é importante para o Sporting, mas não cria pressão nos jogadores, que até podem sentir-se mais soltos e motivados em vez de pressionados.
Leão a jogar no erro
- A semelhança ou influência de um em relação ao outro tem a ver com o facto de serem duas equipas que se conhecem muito bem. Espero, no entanto, um FC Porto menos de expectativa e a tentar entrar forte e dominador pela importância e quase obrigação de ter de ganhar o jogo para continuar perto do primeiro lugar. Nesse sentido, pode-se inverter um pouco a tendência tática vista na Taça da Liga, jogando o Sporting mais no erro.
Guarda-redes decisivos
-Na organização defensiva. Não quero dizer com isto que serão equipas mais defensivas, mas é nesse momento, como no da reação à perda da bola, que poderá estar a chave para a equipa ser mais compacta e competitivamente intensa. Nunca "deixar partir o jogo" e manter as linhas juntas. Talvez, por isso, pense também nos guarda-redes como desequilibradores do jogo a evitar o golo. Não espero muitas oportunidades.
Contra-estratégia
- A contra-estratégia que Conceição soube encontrar (em cada jogo e nos diferentes momentos no seu curso) para encarar o sistema de Amorim. Um pouco como referia na resposta anterior: defender (pressionar) bem para atacar (jogar) melhor. Não se importou de ser mais equipa de contra-ataque em muitos momentos para atrair o Sporting e depois surpreender em ataque rápido. A defender, a cobertura de espaços em largura tirou o poder diferenciador do jogo leonino pelas faixas.
3.º médio muda ordem
- Não há muita margem para essas alterações, tirando as obrigatórias pelos indisponíveis e pelas saídas. Nesse sentido será, claramente, um clássico mais fraco sem Porro e Otávio. Em termos táticos, a introdução do terceiro médio de raiz no FC Porto pode mudar as coordenadas de jogo a meio-campo. No Sporting, esse reforço poderá acontecer com Pedro Gonçalves a recuar para combinar mais vezes com Morita.
JOÃO RICARDO PATEIRO
Nada como o título
- A pressão está do lado do FC Porto. E por um motivo simples: não há nada mais importante para um clube desta dimensão do que a luta pelo título de campeão nacional. O objetivo do Sporting tem importância financeira... O objetivo do FC Porto é o título e é "só" o título mais importante que se joga em Portugal.
Tela para pintar
- É um cliché, mas não deixa de ser verdade: cada jogo tem a sua história. Quando o jogo começa, há uma tela em branco que os artistas têm de pintar. Acredito que o que se passou em Leiria não irá influenciar o clássico deste domingo.
Agora, será normal que, a jogar em casa, o Sporting assuma mais a iniciativa do jogo, pelo menos na fase inicial.
Erros pagam-se caro
- Os grandes artistas, os que pintam melhor, têm mais probabilidade de desequilibrar. Nesse sentido, aposto em Marcus Edwards e Pedro Gonçalves, do lado do Sporting... E em Galeno e Pepê, do lado do Porto. Outra coisa importante: os guarda-redes estarem ao seu melhor nível. Nos últimos dois confrontos não foi assim, com Antonio Adán a comprometer as aspirações leoninas. É um jogo coletivo? Claro que sim. Mas os erros individuais pagam-se caro.
Atitude sem igual
- O principal motivo parece-me óbvio: o FC Porto tem melhores jogadores do que o Sporting. O plantel azul e branco tem mais qualidade. Basta olhar para a linha de avançados-centro dos dragões... Com Taremi, Evanilson e Toni Martinez... E depois, o FC Porto tem uma atitude competitiva em quase todos os jogos, em todas as competições, que não tem paralelo em Portugal. Sporting e Benfica têm procurado aproximar esse padrão de competitividade... Mas ainda não é a mesma coisa.
Sem surpresas
- Penso que só por lesões ou castigos. Não estou à espera que Rúben Amorim e Sérgio Conceição surpreendam nas escolhas iniciais. Até porque, no caso do FC Porto, com tanta gente importante fora de jogo, não há muita margem para Sérgio Conceição surpreender.