A melhor jogadora portuguesa da atualidade encontrou nova casa em Barcelona, num patamar de responsabilidade acrescida e enorme vontade de vingar. Simples, franca e determinada, Kika relata a sua vivência numa das ligas mais expressivas do futebol feminino e garante aos adeptos do Barcelona que tem muito para dar.
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Kika Nazareth protagonizou uma das transferências mais badaladas no futebol feminino português. Mudou-se no início da época de 2024/25 para o gigante Barcelona, que se sagrou campeão no passado sábado, momento que celebrou fora dos relvados, devido a uma lesão complicada. No dia 24, a internacional portuguesa poderá festejar a Champions League, em Lisboa. Aos 22 anos, vive um conjunto “impressionante” de experiências. Mas o coração pertencerá eternamente ao Benfica.
Qual é a diferença entre ser jogadora do Benfica e do Barcelona?
— É uma pergunta interessante, porque nunca me tinham feito. Casa será sempre casa, e o Benfica será sempre o Benfica... Cheguei onde estou pelo que fiz, pelas pessoas que me rodeiam, mas também muito pelo Benfica. É giro perceber que podemos encontrar casa noutros lugares; e é isso que o Barcelona tem sido, e as pessoas à volta do Barcelona têm-me ajudado e fazem-me sentir em casa. É mais um contexto profissional, a melhor equipa do mundo, que conta com as melhores jogadoras do mundo. A minha mudança foi mais nesse sentido, e não num sentido sentimental, de amor à camisola. Fui porque é o sonho e a ambição de qualquer jogadora de futebol.
É uma Kika mais de mente do que de coração, é isso?
— Precisamente isso. Este coração também já está a ser preenchido, mas de uma forma diferente. Nada será igual, nunca, nunca, nunca. Mas este coração tem-se preenchido aos poucos. Claro que há a diferença de dimensão no contexto de futebol feminino, porque o Barcelona está, efetivamente, num outro patamar, mas há uma coisa que é comum aos dois clubes: o futebol, que é, afinal, o que me faz ser feliz. Sou muito sortuda, uma privilegiada, pelo facto de a minha profissão ser o que mais gosto de fazer.
Como foi a receção dos “aficionados” do Barcelona a uma jogadora proveniente do país vizinho?
— Modéstia à parte, não quero más interpretações... Não sei se pelo meu carisma, e acredito que por aquilo que aporto ao jogo em termos futebolísticos, fui abraçada, porque também os abracei. Fui abraçada de uma forma muito bonita. Fizeram-me sentir em casa. Mas não há comparação com o abraço português, a língua portuguesa e os portugueses...
Sente-se realizada lá?
— No início, lembro-me de ficar irritada e frustrada pelo facto de as pessoas me estarem a abraçar, se calhar pelo meu nome. E pensava... 'Não, eu quero que as pessoas me abracem, quero que as pessoas gostem de mim por aquilo que estou a dar ao jogo'. Sinto que ainda não o fiz, que estou longe de ter mostrado; sinto que posso mostrar muito mais. Ainda assim, as pessoas já me acolheram. E penso, ‘se as pessoas já me acolheram assim, estando eu longe do meu melhor nível’, imagino como será quando a Kika se der a conhecer ao mundo e aos ditos ‘aficionados’ do Barcelona. Estou ansiosa, e às vezes isto passa para o lado negativo, que é o facto de estar à espera desse momento.
Que Kika será quando recuperar da lesão?
— A Kika com um sorrisão na cara e feliz, sem inseguranças; uma Kika confiante, como sempre foi nestes últimos anos.
Sente inseguranças, até devido à lesão que sofreu?
— Não. Acho que é tramado entrar num contexto onde jogamos e treinamos com as melhores jogadoras do mundo, onde há toda uma parte fora do futebol, caso das transferências, e as expectativas criadas à volta de uma miúda de 21 anos... É tudo muito estranho, não é? Mas, pronto, as inseguranças fazem parte também de todos os processos. É normal.