Jéssica Pastilha, médio de 29 anos, entrou na história: é a primeira jogadora portuguesa a atuar em Israel. Em entrevista a O JOGO, revela todos os pormenores desta aventura
Corpo do artigo
Aos 29 anos, Jéssica Pastilha tornou-se a primeira portuguesa a jogar em Israel. Deixou o Ouriense para mergulhar numa realidade desafiante, primeiro no Maccabi Kiryat Gat, com presença na Liga dos Campeões, e depois no Ironi Ramat HaSharon, onde se afirmou como uma das figuras da temporada: 26 jogos, sete golos, 11 assistências e um contributo decisivo para o quarto lugar na liga israelita.
Entre treinos sob temperaturas sufocantes num país marcado por conflitos, a portuguesa viveu uma experiência enriquecedora. Nesta entrevista a O JOGO, fala da coragem de sair, do impacto de viver num país em constante tensão e da força de uma mulher que decidiu fazer do futebol a sua voz.
Saiu do Ouriense e aprendeu a viver num país em tensão constante. Em campo, mostrou-se à altura: 26 jogos, sete golos e 11 assistências. Construiu uma história de força num dos cenários mais difíceis.
O que a levou a deixar Portugal para se aventurar em Israel?
—Queria viver a experiência de jogar fora do país. Sabia que seria enriquecedor, não só a nível profissional, mas também pessoal. Precisava de sair da zona de conforto. Houve muitos amigos e conhecidos que me chamaram maluca.
Tinha algum conhecimento do futebol feminino israelita antes de aceitar?
—Muito pouco, para ser honesta. Sabia apenas do Kiryat Gat, porque tinha defrontado o Benfica numa fase da Champions, mas o futebol feminino em Israel era praticamente desconhecido para mim. Tinha mais referências do masculino.
Que diferenças encontrou com o futebol português?
—Em Israel, o jogo é mais físico, nota-se claramente. Há boas jogadoras tecnicamente, mas a componente tática está em desenvolvimento. A liga está a crescer e tem margem para evoluir muito mais.
A adaptação foi complicada, dentro e fora de campo?
—O mais desafiante foi o calor. Cheguei no verão e o clima é bastante diferente do de Portugal. Nos treinos senti logo essa diferença. Em relação à cultura, apesar de ser marcadamente distinta, adaptei-me com relativa facilidade.
Sentiu algum choque cultural nos primeiros tempos?
—Sim. O maior foi o facto de não celebrarem o Natal, que para mim tem muito significado. E depois há o Shabbat, que começa à sexta-feira ao fim da tarde e termina ao pôr do sol de sábado. Nessa altura, tudo pára. Foi uma realidade à qual tive de me ajustar.
O que mais a surpreendeu na cultura israelita?
—O valor que dão à família. Todas as sextas-feiras, religiosamente, reúnem-se no jantar do Shabbat. Essa união e esse ritual impressionaram-me. Há um respeito profundo pelas tradições.
Como é que esta experiência pesou no seu crescimento?
—Foi uma verdadeira aventura. O hebraico, por exemplo, é uma língua completamente diferente, e só isso já exige adaptação. Mas todas essas diferenças transformam-nos. Aprendi muito, cresci imenso.