Defesa de 24 anos conquistou todos os troféus em Portugal e brilha no Besiktas, onde é destaque da equipa
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Cerca de 4 000 quilómetros separam o Porto de Istambul, e é precisamente essa distância que Inês Maia, defesa de 24 anos, decidiu percorrer esta temporada ao trocar o Famalicão pelo Besiktas. A internacional jovem portuguesa contabiliza 13 jogos, num total de 1 170 minutos em campo, tendo também contribuído com dois golos pela equipa turca, para a qual se transferiu no início desta época.
Desde os primeiros passos no Gondim-Maia até hoje, como descreveria a sua trajetória como jogadora?
-Acredito que a formação com rapazes me dotou de certas características que me diferenciam. Tive a sorte de estar presente na evolução do futebol feminino e, ao longo dos anos, percebi que as condições que nos proporcionavam estavam a melhorar. A conquista da Supertaça pelo Valadares é um momento marcante, pois aos 16 anos cheguei a uma equipa sénior e conquistei um troféu nacional. Claro que todas as conquistas são especiais, como o campeonato nacional pelo Braga e a Taça de Portugal pelo Famalicão, no Jamor.
A Inês passou por formações emblemáticas como o Valadares, Boavista, Braga e Famalicão. De que maneira esses clubes influenciaram a sua abordagem ao futebol profissional?
-Sempre senti que todos os clubes que representei acrescentavam responsabilidade. Treinar e jogar com as melhores atletas faz-te evoluir mais rapidamente. Como costumavam dizer: “Para apanhar o comboio é preciso correr.” Por isso, todos os dias tentava aprender e evoluir ao máximo com as referências que tinha ao meu lado.
A mudança para o Besiktas, no início desta época, representa um novo capítulo na sua carreira. Que fatores determinaram a sua escolha?
-Senti que precisava de um desafio diferente na minha carreira desportiva. Queria ir para um campeonato competitivo, que valorizasse o meu trabalho. O projeto do Besiktas foi-me apresentado pelo Ricardo Derriça Pinto, o meu gestor de carreira, e pareceu-me uma excelente oportunidade. Sinto-me valorizada como mulher e como jogadora de futebol aqui na Turquia.
Como se tem dado no país?
-A Turquia é enorme, só Istambul tem 14 milhões de habitantes. Em termos culturais a diversidade é enorme, e acredito que é uma das grandes vantagens. Claro que há coisas a melhorar. Vejo pessoas com grandes dificuldades no dia a dia, até porque a Turquia tem a segunda maior taxa de inflação do mundo, mas infelizmente é uma situação cada vez mais comum.
Ao longo da carreira em Portugal conquistou todos os troféus possíveis. Agora, na Turquia, quais são os objetivos pessoais e coletivos?
-O objetivo coletivo passa por fazer história e conquistar o campeonato turco. Individualmente, quero ter consistência exibicional e conseguir um rendimento elevado.
Tem 26 internacionalizações pelas seleções jovens portuguesas, como se pode descrever o que é representar o país?
-Quando sonhamos ser jogadoras de futebol, cada vez que vestimos a camisola da Seleção é especial. A primeira vez que ouvi o Hino nacional foi, sem dúvida, o momento mais especial. Mas também foi especial quando fui aos Estados Unidos com a Seleção A, foram jogos de outra dimensão.
E o que tem agora no horizonte?
-A nível desportivo tenho o sonho de ser internacional A pelo meu país e ter uma carreira consistente. Quero deixar a minha marca nos clubes por onde passo. No entanto, acredito que o sucesso desportivo deve ser complementado com o sucesso académico. Pessoalmente, quero terminar a licenciatura, realizar o exame de acesso à ordem dos contabilistas certificados e posteriormente fazer um mestrado em auditoria.
O futebol feminino tem crescido exponencialmente em Portugal. Qual é a sua visão sobre o desenvolvimento da modalidade no país e o papel que as jogadoras têm desempenhado?
-Acredito que é um caminho que Portugal está a percorrer com provas já dadas de grande sucesso. Neste processo, a jogadora tem um papel preponderante. A mentalidade mudou e as atletas preocupam-se com todas as vertentes para maximizar o rendimento desportivo.
Combater desigualdades é urgente, não só no desporto
No universo desportivo, os obstáculos enfrentados pelas mulheres, em especial no futebol, têm vindo a ser objeto de discussão crescente, e Inês Maia frisa a importância de combater estereótipos de género e promover a igualdade neste contexto. “É urgente continuar a combater as desigualdades, não só no mundo do desporto. Estamos a trilhar o nosso caminho e a conquistar bastantes condições para as gerações seguintes. Saber que uma menina, atualmente, pode escolher ser jogadora de futebol profissional no seu país deve ser um motivo de orgulho para quem, todos os dias, luta por melhores condições. Sonhem, trabalhem muito e complementem sempre o sonho desportivo com o percurso académico”, realça a defesa do Besiktas a O JOGO.