"Estamos na cauda da Europa no número de praticantes federadas e alcance mediático"
Aos olhos da antiga selecionadora nacional, Mónica Jorge, a Liga BPI é uma "excelente oportunidade para os jovens talentos"
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Mónica Jorge, que na Federação Portuguesa de Futebol tem o pelouro do futebol feminino, sublinha que a modalidade tem evoluído gradualmente em Portugal, mas "ainda há muito trabalho por fazer."
Esta temporada a prova teve um modelo diferente. Que vantagens acredita ter trazido?
- Quando decidimos alterar o formato competitivo da Liga BPI foi com o objetivo de tornar a competição mais forte e mais equilibrada, potenciando, assim, o desenvolvimento das jogadoras, dos treinadores e dos clubes. Depois de temporadas com resultados muito desnivelados, esta edição mostrou-se a mais equilibrada de sempre, com a maioria dos resultados a ser por uma diferença inferior a três golos.
"O facto de o título se ter decidido na última jornada também reflete a competitividade"
O Benfica venceu o campeonato pela primeira vez na história. O facto de, em três temporadas, excluindo a passada, por não ter terminado , existirem três campeões diferentes mostra o aumento da competitividade do futebol feminino em Portugal?
- Com certeza que sim. Nunca houve uma diferença pontual tão curta entre o primeiro e o quarto classificado. O facto de o título se ter decidido só na última jornada também reflete a maior competitividade.
No sentido inverso, o Futebol Benfica, um histórico da modalidade, desceu de divisão. Acredita que as equipas que descem conseguem a tornar-se mais fortes para procurarem uma nova subida ao principal escalão?
- Quando pensamos no futebol feminino português, é inevitável não falar do histórico Futebol Benfica, um clube que sempre apostou no futebol feminino, muito antes de convidarmos os clubes da Liga NOS a entrarem na liga feminina. Foi campeão nacional, jogou a Liga dos Campeões, venceu a Taça de Portugal... Muitos talentos das nossas seleções nacionais passaram pela formação e pela equipa principal do Futebol Benfica. Acredito que reunirá condições para regressar brevemente ao principal escalão.
"A Edite, a Sílvia e a Paula Cristina são exemplos de longevidade"
Voltando ao Benfica, e focando nas atletas portuguesas jovens que tiveram influência no título: a Kika Nazareth é um exemplo dessa potencialização de jovens talentos?
- A Liga BPI revela, de facto, uma excelente oportunidade de crescimento para as jogadoras jovens. Temos uma das ligas mais jovens da Europa; quase dois terços das jogadoras têm menos de 23 anos. Por exemplo, olhando para outras ligas europeias, as jogadoras da poderosa Superliga inglesa têm, em média, 26,4 anos, a Divisão 1 francesa e a Série A feminina têm uma média de idades superior a 25 anos. A liga espanhola, a Bundesliga alemã até a liga norueguesa, que é uma das mais jovens, são mais "velhas" do que a nossa Liga BPI. Isto significa que, em Portugal, os talentos mais jovens conseguem mostrar-se e afirmar-se nos plantéis seniores. Sabendo-se que a maioria das jogadoras jovens da Liga BPI são portuguesas (quase 82 por cento), significa que o futuro das nossas seleções está assegurado.
Esta época também ficou marcada pelo fim da carreira de jogadoras como a Edite Fernandes, a Sílvia Brunheira e a Paula Cristina. Considera ter sido o fim de uma geração?
- O futebol, como a vida, é feito de ciclos e sonhos. Quando um acaba, outro começa. A Edite, a Sílvia Brunheira e a Paula Cristina são exemplos de profissionalismo e longevidade. As três escreveram o nome na história do futebol feminino português e a Federação Portuguesa de Futebol, através do presidente Fernando Gomes, teve a oportunidade de afirmar isso mesmo: que serão importantes para nós e inspiraram, e continuarão a inspirar, muitas gerações de meninas e mulheres a perseguirem os seus sonhos no futebol feminino.
A evolução da modalidade tem sido constante, que pontos considera terem melhorado com o tempo?
- Aquilo que é mais visível é o número de equipas e competições femininas, a implantação do futebol feminino - as 22 associações distritais e regionais de futebol têm praticantes femininas inscritas, ou seja, joga-se em todo o país. A melhoria das condições de treino nos clubes e nas associações, e os resultados desportivos, sobretudo ao nível das seleções jovens. Portugal já foi duas vezes a uma fase final sub-17, apurou-se para o Europeu sub-19 e um Europeu sénior, em 2017. Mas há muito trabalho por fazer. Ainda estamos na cauda da Europa no que respeita ao número de praticantes federadas e no alcance mediático, por exemplo.