Vítor Santos, Luís Freitas Lobo e João Ricardo Pateiro, todos intervenientes no programa "Visão de Jogo", da "TSF" e de "O JOGO", respondem a três questões sobre o clássico entre o Benfica e o FC Porto, numa fase crucial da temporada e que poderá definir muito da luta pelo título e pelos lugares de acesso à Liga dos Campeões.
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O que se pode esperar deste clássico no Estádio da Luz?
Vítor Santos
Partida fechada
O enquadramento do jogo, em função da vantagem pontual no Benfica na liderança, que lhe possibilita jogar com dois resultados, vitória e empate, permite pensar que assistiremos a uma partida fechada, entre duas equipas que se encaixarão, procurando não cometer erros. Seguindo a matriz habitual aplicada nos clássicos, Sérgio Conceição, obrigado a vencer, procurará apresentar um FC Porto agressivo na pressão alta e empreendedor, que impeça o tipo de jogo em que o adversário se sente confortável e que consiste na segurança em posse de bola, com circulação rápida e variações de flanco. Espero, portanto, um jogo fechado, mas tudo poderá mudar rapidamente se alguma das equipas conseguir marcar cedo.
Luís Freitas Lobo
Um clássico aberto
Sem poder de decisão claro sobre o título devido à distância pontual, espero um clássico mais aberto com ambas as equipas a quererem assumir a iniciativa ofensiva do jogo. Não há (muito) espaço para estratégias de expectativas pelo que espero o FC Porto a querer pressionar alto e o Benfica no seu sistema habitual de falsos-alas agressivo a sair rápido pelos três corredores. Será, talvez, um jogo de pressão contra pressão no corredor central e de busca pelos desequilíbrios nas faixas onde os espaços podem-se abrir mais à velocidade.
João Ricardo Pateiro
Um grande jogo
O Benfica entra em campo com a tranquilidade própria de quem tem 10 pontos de avanço e o FC Porto sabe que tem de arriscar tudo se ainda quiser ter uma palavra a dizer na questão do título. Estes dois fatores podem levar o jogo para uma dimensão de espetacularidade que nem sempre está presente nos clássicos. Acredito num jogo mais aberto, com as equipas a conseguirem criar mais situações de golo iminente do que é habitual nestes jogos. Penso, no entanto, que o FC Porto, mesmo que consiga sair da Luz com os três pontos, muito dificilmente vai a tempo de chegar ao primeiro lugar. E isto também pode pesar no lado anímico dos jogadores. O Benfica tem a vantagem de jogar perante os seus adeptos que vão tentar empurrar a equipa de Roger Schmidt para mais uma vitória. Acredito que o fator casa é sempre uma vantagem.
Atendendo ao momento de cada uma das equipas, onde pode estar a chave do jogo?
Vítor Santos
Definir bem a pressão
Quem conseguir desconstruir a mecânica e a estratégia do adversário estará sempre mais perto de vencer. Mas estamos perante equipas que se conhecem muito bem, nesta fase da época não há segredos. Com outro tipo de treinador, diria que o Benfica teria todo o interesse em "amarrar" o jogo, controlando as iniciativas do FC Porto e espreitando o ataque rápido e o contra-ataque, jogando com a pressão, que está mais do lado do campeão nacional. Mas Schmidt, pelo que temos visto, não pensa assim e os resultados têm sido bons. Do outro lado, ao FC Porto, interessará obrigar o adversário a jogar direto, mas para isso acontecer terá de se apresentar muito eficaz a definir as zonas de pressão. Pelo que vimos de Schmidt na Champions e de Conceição em tantos clássicos, ambos sabem como preparar estas partidas, pelo que um simples erro poderá revelar-se fatal para qualquer das equipas.
Luís Freitas Lobo
Fechadura nas alas
O meio-campo tem sempre o centro para controlar o jogo e mesmo muito do que se faz nas faixas depende do que se faz nesse núcleo interior. Por isso a chave estará no centro, mas a fechadura por onde entrar estará nas faixas, a defender e a atacar com um papel muito importante, nos dois momentos, para os laterais de ambas as equipas. Por isso, vejo-os como os desbloqueadores ofensivos para fazer dançar as defesas adversárias, mais do que o clássico movimento em diagonal dos avançados desde as faixas. Afinal, um sinal da importância crescente dos laterais como decisivos para o jogo das equipas.
João Ricardo Pateiro
Chavão no meio-campo
A chave pode estar onde menos se espera! Poucos acreditariam, por exemplo, que na época passada fosse Zaidu! Acredito sempre nos jogadores mais virtuosos para desequilibrar um jogo. João Mário e Rafa, do lado do Benfica, são os mais habilitados a desatar nós... Sem esquecer David Neres que deve começar no banco, mas é o tipo de jogador que pode entrar e decidir. Do lado do FC Porto, Otávio e Pepê são os jogadores que maiores problemas podem causar. Na posição de ponta-de-lança, neste momento, Gonçalo Ramos está muito melhor que Taremi. Mas todos nós sabemos como estas coisas mudam rapidamente! A chave pode estar no meio campo. Já nem é uma chave!... É um chavão! Mas não deixa de ser verdade... E aí, também tenho gostado mais da dupla Florentino - Chiquinho em comparação com a dupla Uribe - Eustáquio
Nesta fase adiantada da época, ainda é possível esperar algum "coelho da cartola" por parte dos treinadores?
Vítor Santos
Retirar o conforto
Duvido. Mas, pegando no que disse atrás, habituámo-nos a ver Conceição inovar em termos de estratégia. Nesse campo, pelo fator-surpresa, creio que Namaso poderá ser uma boa arma, enquanto no Benfica, ter Neres no banco, por exemplo, permite sempre jogar uma cartada de génio que acrescente, em momentos críticos, o fator imprevisibilidade. Acredito que as "cartadas" serão mais aplicáveis no sentido de nuances táticas que permitam ferir o adversário ou impedi-lo de jogar da forma mais confortável. Por ter sido obrigado tantas vezes a mudar, devido às lesões, talvez Conceição esteja mais preparado para o fazer. Com Schmidt é o oposto, sem segredos e com um onze estável, que não tem impedido o Benfica de se exibir a um bom nível nos grandes momentos da época. Braga foi a exceção.
Luís Freitas Lobo
Otávio e Rafa decidem
Não há muito espaço para qualquer inovação apenas para, em face das variantes de jogo que ambos tiveram ao longo da época, criar a dúvida de qual vão utilizar neste jogo. Acredito no Benfica dos quatro médios a fazer "quadrado" e a prescindir de um extremo e do FC Porto a reforçar a capacidade de ganhar/roubar a bola a meio-campo com mais um médio. Esperar que a criatividade um para um de Otávio ou Rafa possa decidir. Eles são os coelhos na cartola tática já vasculhada e nesta fase final da época facilmente reconhecível de Schmidt e Conceição.
João Ricardo Pateiro
Não acredito em coelhos
Estamos na Páscoa, mas nem por isso acredito em coelhos neste clássico! Acredito em Cartolas... Afinal, em campo vão estar muitos dos melhores jogadores da Primeira Liga. Não acredito em surpresas a sair dessas cartolas, sejam coelhos ou outros bichos! Não consigo imaginar, por exemplo, uma grande surpresa nas escolhas iniciais. Também não acredito em profundas alterações nos sistemas tácticos. Mas atenção a isto: que jogadores estarão, de facto, indisponíveis na equipa liderada por Sérgio Conceição? Podem surgir aqui algumas meias surpresas. Se João Mário, por exemplo, não estiver disponível... Quem será o lateral direito?!? Baixa Pepê para esse lugar ou avança Manafá?!... Mas isto não são exatamente coelhos a sair da cartola! Agora, não deixa de ser Sérgio Conceição a fazer, mais uma vez, de ilusionista!