Investigação do jornal The Globe and Mail revela que a polémica da seleção feminina de futebol do Canadá nos Jogos Olímpicos Paris'2024, em que foi apanhada a espiar um treino da Nova Zelândia com recurso a um drone, foi só a "ponta do icebergue"
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Na sequência da demissão da selecionadora feminina de futebol Bev Priestman, que deixou o cargo juntamente com os adjuntos Jasmine Mander e Joseph Lombardi após um membro do seu staff ter sido detido por espiar um treino da Nova Zelândia nos Jogos Olímpicos Paris’2024, o jornal canadiano The Globe and Mail revelou que esse escândalo foi apenas a “ponta do icebergue”.
De acordo com uma investigação realizada ao longo de quatro meses pelo jornal, que entrevistou de forma anónima dezenas de pessoas que trabalharam na Federação Canadiana de Futebol, esta polémica foi apenas mais um capítulo de uma longa cultura de espionagem naquele órgão.
Com relatos desse tipo de práticas a remontarem ao período do ex-selecionador feminino John Herdman, são ainda revelados detalhes de duas investigações internas que aconteceram em 2023, e que “documentam a disfunção dentro do programa feminino” derivada de um “ambiente tóxico”.
Sendo mencionado que “não existe espaço para desobediência” dentro daquela federação, sete ex-treinadores e analistas que trabalharam na seleção feminina canadiana acusaram Priestman e a sua assistente Mander de “promoverem a vitória a todo o custo”, com dois a terem-se demitido, segundo relatos, após recusarem-se a espiar um adversário. Outro também recusou e acabou por não acompanhar a equipa olímpica para os Jogos de Paris.
Além desta cultura de espionagem, a investigação também fala em “sessões de bebida obrigatórias” alegadamente organizadas pela ex-selecionadora canadiana e em que era apenas permitida a presença de treinadoras e membros do staff.
Sobre essas noitadas, cinco fontes denunciaram consumo de álcool excessivo, brinquedos sexuais atirados contra funcionários e perguntas explícitas sobre sexo em de jogos de bebida.
Ao mesmo tempo, o temperamento de Mander também motivou queixas, com três ex-funcionárias a terem revelado que ficaram em lágrimas em reuniões consigo. Outras sete fontes confirmam terem-na visto a arrasar publicamente o seu próprio staff, e outra falou mesmo em “ataques de pânico” causados pela ex-adjunta.
Em resposta a estes relatos, um representante da Federação Canadiana de Futebol frisou que o organismo “introduziu reformas e não deve ser definido por ações de pessoas que já não estão envolvidas”.