ENTREVISTA - Jéssica Silva pede ao emblema azul e branco para, "com carinho", refletir sobre a possibilidade de criar uma equipa na modalidade
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Na época que acabou de findar, Jéssica Silva conquistou um "triplete" com o escudo do Benfica - campeonato, Taça da Liga e Supertaça - e, contando todas as provas, apontou 23 golos pelas águias, o melhor registo pessoal numa temporada desportiva.
Sente que está a viver a fase mais brilhante da carreira?
-Não. Sinto que estou num nível mais maduro. Sou uma jogadora mais consciente do meu jogo e daquilo que posso oferecer. As pessoas olham para os números que alcancei e acham que são positivos. Contudo, ficaram aquém daqueles que eu tinha como meta no princípio da época. Ainda que tenha objetivos individuais, os objetivos coletivos são mais importantes e esses foram quase todos conquistados ao serviço do Benfica.
A Taça de Portugal continua a ser o único troféu português que escapa do seu palmarés. É mais um sonho que quer concretizar?
-É, de todo. Quando regressei ao futebol português, em janeiro do ano passado, tinha em mente vencer, pela primeira vez, o campeonato e, consequentemente, chegar à Liga dos Campeões. No entanto, a Taça de Portugal é uma competição muito bonita, em que, independentemente dos orçamentos e dos projetos mais ou menos ambiciosos, todos os clubes se transcendem. Todavia, não posso deixar de realçar a temporada que o Benfica fez. Enquanto equipa, estamos felizes pelo tricampeonato e pelos outros troféus que conquistámos, mas ainda falta qualquer coisa. Quero muito ganhar a prova rainha.
A partir desta época, vai haver VAR na Liga BPI, o que será algo inédito no futebol feminino europeu. No entanto, antes da inclusão desta ferramenta, não entende que era indispensável, por exemplo, profissionalizar todos os clubes, tornar a I Liga mais competitiva e garantir as melhores condições, a todos os níveis, para as atletas?
-Tudo aquilo que ajude à evolução da modalidade é importante. Há outras matérias que realmente importam, mas não podemos colocar na balança. Imprescindível é somar e ir somando. Considero que existem coisas que precisam de ser alteradas, logicamente. Sinto que é crucial tentarmos profissionalizar mais clubes e dar melhores condições às atletas. O nosso campeonato ainda está longe de ser totalmente profissional e posso referir, por exemplo, o Clube de Albergaria, que é uma instituição da qual fiz parte e que está no meu coração. Algumas colegas minhas continuam a equipar-se em contentores e tem de haver um "forcing" maior para que isso mude. A história dos sintéticos é outra coisa que tem de acabar. A introdução do VAR é mais uma soma para o crescimento e faz parte da estratégia de desenvolvimento do futebol feminino em Portugal. Temos de olhar para as infraestruturas, para todos os clubes, sobretudo os mais humildes, e para as jogadoras que têm de escolher entre o trabalho e o futebol. Devem ser reunidas as condições para essas atletas continuarem a apostar no futebol.
Um clube da dimensão e da grandeza do FC Porto faz falta ao futebol feminino?
-Claro que sim, a cidade do Porto tem tantas jogadoras! Julgo que, quando o FC Porto entrar para a modalidade, até aguçará a competitividade interna. Eu chamo de "grande" qualquer clube que compita na primeira divisão masculina e tenha equipa feminina. Um bem-haja a todas as instituições que fazem questão de apostar no futebol feminino. Deixo um apelo ao FC Porto para pensar nisto com carinho porque o futebol feminino precisa de todos.
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