Começou na ginástica acrobática e agora divide o futebol com a carreira militar

Mafalda Marujo, 29 anos, já jogou em Itália
Mafalda Marujo, 29 anos, abdicou da ginástica porque deixou "de ter vida". No Futebol Benfica ganhou todos os títulos internos e, apesar da evolução que tem sentido no feminino, alerta que é preciso "mais"
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Apaixonada pela competição, Mafalda Marujo, 29 anos, já jogou em Itália, onde diz ter vivido a "melhor experiência" da carreira.
Em que altura percebeu que o futebol seria uma escolha para o futuro?
- Sempre gostei muito de jogar futebol, desde pequena sempre fui muito "maria-rapaz", e sempre gostei de andar na rua a jogar. No entanto, antes de escolher este caminho, dediquei-me à ginástica acrobática.
Dois desportos bastante diferentes... Como aconteceu a mudança da ginástica para o futebol?
- Comecei a praticar ginástica acrobática dos dois até aos 13 anos. Nessa altura, cansei-me e tentei o futebol porque havia esse bichinho dentro de mim. Tentei no Ponte Frielas, só que ainda não havia competição para mulheres e, como o que eu mais gosto é de competir, desisti e voltei para a ginástica e dessa vez mais profissional ainda. Cheguei mesmo a representar Portugal nos Estados Unidos. Mas era muito exigente, treinava seis vezes por semana, quatro horas diárias no mínimo. Deixei de ter vida. E, por isso mesmo, aos 18 anos decidi pôr um ponto final nessa fase e voltar a tentar o futebol, novamente no Ponte Frielas. Aí apanhei uma boa equipa, um bom treinador e já tive a possibilidade de competir e percebi que o futebol podia vir a dar-me mais alguma coisa no futuro.
Um dos clubes que representou foi o Futebol Benfica. Foi uma experiência positiva?
- Nessa fase, o Futebol Benfica estava bem, era uma equipa consistente, sólida e consegui lá ganhar títulos: um campeonato, uma Taça de Portugal, uma Supertaça, e ainda a Taça de Lisboa, que era a antiga taça Carla Couto que só houve uma vez e vencemos. A verdade é que foi um clube que contribuiu para o meu crescimento e vai ficar sempre na minha memória. Primeiro porque ganhei os meus primeiros títulos lá e também porque fui muito feliz. Quando saí, não saí a mal com ninguém. Saí porque quis evoluir, estou sempre à procura de mais e melhor. Mas digamos que foi o meu trampolim para o futebol.
Durante a experiência no Futebol Benfica, mudou-se para Itália. Em que altura surge essa possibilidade?
- Foi na minha melhor fase do Fófó, tive uma pessoa que me abordou para saber se estava interessada numa experiência no estrangeiro. Na altura estava a estudar, mas também com as dificuldades que os meus pais tinham a nível monetário, optei por deixar os estudos. E nessa fase pensei que não tinha nada a prender-me cá e decidi arriscar. Surgiu essa oportunidade, não hesitei, e fui para o Torres Feminino. Foi a melhor experiência que tive. Cresci como pessoa e a nível futebolístico porque a realidade é diferente.
Sente também que as condições de quando começou para os dias de hoje são muito distintas?
- É uma diferença brutal. Hoje em dia chego ao balneário e tenho um cacifo para mim, tenho o meu cesto, o meu equipamento. Não tenho de levar nada para casa. Há uns tempos, a minha mãe chateava-me a cabeça porque estava sempre a lavar roupa e chuteiras. Agora não tenho esse problema. Houve uma grande evolução, mas precisamos de mais.
Na temporada passada, mudou-se para o Amora. Que tal está a ser a aventura?
- Está a ser muito boa, o ano passado tivemos a infeliz situação da covid-19, numa altura em que estávamos bem. Tão bem que conseguimos a subida por mérito, por sermos as primeiras do grupo. Apesar de querermos outros objetivos, sabemos perfeitamente que ainda não estamos em pé de igualdade com as restantes. Por um lado até é bom estarmos agora na fase de permanência para ganharmos alguma força e consistência.
O Amora soma duas vitórias na segunda fase. Quais as expectativas até ao final da época?
- Acho que as duas semanas de paragem por causa da covid-19 foram ideais para nós. A equipa estava sobrecarregada, tínhamos objetivos e não atingimos. O facto de termos estado paradas deu um alento, uma alegria e uma força que ainda não tinha visto nesta equipa. Estamos muito fortes, bem e unidas e acho que é isso que nos vai levar a ficar bem classificadas nesta fase.
Para além de jogadora também é militar. O que faz em concreto?
- Tenho o curso de gestão de empresas, que tirei quando vim de Itália para Portugal. Mais uma vez pensei que não podia só jogar futebol, precisava de ajudar a minha família e decidi ir para a tropa. Aliás, tomei essa decisão para conseguir ganhar dinheiro e para me dar alguma estabilidade. Como gosto desta vida dinâmica e de fazer exercício, optei por ir. Inscrevi-me e fiquei. Nos dias de hoje, no quartel, estou na área da secção financeira. Mas no futuro ambiciono tirar o mestrado. Considero-me a mulher dos sete ofícios.
