Mónica Mendes, portuguesa da equipa feminina do Milan passou a pior fase da pandemia de covid-19 sozinha em Milão. Mas não só, como sublinha.
Corpo do artigo
Mónica Mendes é defesa central do Milan e da seleção portuguesa, mas na vida joga ao ataque. Correu o mundo em poucos anos em busca de um sonho: ser profissional de futebol. E conseguiu. Passou pelos Estados Unidos, Chipre, Noruega e Suíça, antes de rumar a Itália. Pelo caminho, aprendeu línguas e a gerir a carreira sozinha. Enquanto aguarda pela decisão sobre o regresso da Serie A feminina, Mónica continua em Milão sem perder concentração e bom humor.
Como é que passou a quarentena?
Estive sempre sozinha neste processo. Sozinha, mas não só, porque mantive sempre o contacto com a minha família e amigos. Tentei manter as minhas rotinas: acordar cedo, preparar o pequeno-almoço, treino, leitura e descanso. Agora já podemos treinar e correr em parques, mas naqueles momentos em que não podíamos mesmo sair, eu só fazia compras e voltava logo para casa.
Ficar sozinha na cidade que foi o epicentro do coronavírus na Europa não deve ter sido fácil.
A parte mais difícil talvez tenha sido o facto de a cidade ficar tão silenciosa, era constante o barulho das ambulâncias. Uma noite, em duas horas, passaram oito ambulâncias, essa noite ficou-me marcada. De resto, tentei manter espírito positivo. Eu sabia que a parte mental ia ser tão ou mais importante do que a minha parte física. Por isso, comecei a fazer todos os dias coisas que me fazem estar bem e que me dão felicidade. No fundo, foi esse o meu segredo para estar equilibrada.
"Quando isto tudo começou, a minha família dizia-me "Apanha um voo e vem para cá", mas eu sempre achei que era melhor ficar em Milão"
Não pensou em voltar a Portugal?
Quando isto tudo começou, a minha família dizia-me "Apanha um voo e vem para cá", mas eu sempre achei que era melhor ficar em Milão. Por um lado, eu não queria colocar a minha família em risco, mas também não sabia como é que ia ser com a equipa e com o campeonato.
Até porque o Milan já não a tinha deixado viajar para a Algarve Cup.
Nenhuma jogador do Milan pôde viajar por causa do coronavírus. Como forma de prevenção e para o bem todos. Essa foi a decisão do clube.
"São dois mundos completamente diferentes: eles têm possibilidades financeiras para poderem, de um momento para o outro, voltar a Milão. Estas coisas não acontecem no futebol feminino"
E o clube apoiou-vos neste momento da quarentena?
Sim, todas as semanas recebemos o feedback, mas naquela parte mais complicada o clube tentou ao máximo apoiar-nos. Em princípio, a Serie A feminina é para continuar. Esse é o objetivo, querem terminar o campeonato, mas não depende de nós, depende do governo.
Não considera um pouco injusto os jogadores do Milan (masculino) terem podido regressar aos seus países e as jogadoras não?
Não podemos comparar, são dois mundos completamente diferentes: eles têm possibilidades financeiras para poderem, de um momento para o outro, voltar a Milão. Estas coisas não acontecem no futebol feminino, não teríamos tanta facilidade em regressar.
E como é a vossa relação com a equipa masculina do Milan?
É bastante positiva, não treinamos no mesmo sítio, mas encontramo-nos em algumas ocasiões, como no jantar de Natal, aniversário do clube e os jogadores têm muito respeito por nós. Sente-se muito o carinho e eles também acompanham o nosso campeonato. Já não somos tão desconhecidas.