A sete jornadas da mais estranha liga portuguesa de sempre, a luta pelo título está ao rubro. Mesmo sem público nos estádios, mesmo sem Porto e Benfica mostrarem bom futebol, a emoção não falta e o cliché das "finais" faz mais sentido do que nunca.
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Ao contrário da jornada anterior, teoricamente mais acessível para o Porto (que, no entanto, acabou por perder pontos), a ronda 28 parece mais preocupante para os portistas, que disputam o dérbi da Invicta na noite de S. João.
1. Benfica - Santa Clara (terça-feira, 23 junho, 19h15)
A famosa crise do Benfica sossegou um pouco com a vitória muito suada em Vila do Conde e com a conquista de 2 pontos ao Porto, que permitiram aos encarnados igualarem de novo os dragões no primeiro lugar da classificação, a 7 jornadas do fim.
Que alívio, Lage!
Para Bruno Lage, a vitória na Vila foi um enorme alívio - pode de novo respirar um pouco melhor, após a perda de 14 pontos em 21 possíveis. Ele que antes da crise, cedera apenas 5 pontos em 111 disputados no campeonato (1 empate e 1 derrota em 37 jogos).
Claro que frente ao Rio Ave o resultado final foi muito melhor do que a exibição, com o Benfica a voltar a criar poucas ocasiões (apenas 4) e a ser inferior aos de Vila do Conde enquanto as equipas estavam com 11 jogadores.
Aliás, continua a ser perfeitamente claro que o Benfica, tal como o Porto, tiveram um regresso à competição quase paupérrimo - tanto nos resultados como na qualidade de jogo apresentada.
Se olharmos apenas o ranking das equipas desde o reatamento da liga, Benfica (5 pontos) e Porto (4 pontos), estão mal classificados, atrás de Sporting e Famalicão (ambos com 7 pontos) e de Boavista e Paços de Ferreira (com 6).
A propósito, se olharmos os pontos conquistados apenas na 2ª volta, o Benfica é somente 5º classificado, com 16 pontos em 10 jogos, atrás de Porto (23 pontos), Sporting, Santa Clara e Braga (todos com 18 pontos). A par dos encarnados, com 16 pontos, estão ainda Rio Ave, Moreirense e Boavista.
O regresso de Seferović?
Uma das principais notas positivas (para lá da vitória, claro) do jogo de Vila de Conde foi o regresso aos golos de um dos pontas de lança do Benfica, Seferović, depois de 4 jornadas sem tentos dos avançados do plantel.
O suíço marcou apenas o seu 3º golo na prova - já não marcava desde a 6ª jornada (!) - depois de na época passada ser o melhor marcador da liga com 23 golos (nenhum de pontapé de penálti), com uma cadência goleadora impressionante (1 golo a cada 86 minutos). E lembre-se que melhorou muito o seu desempenho com Lage (e João Félix), uma vez que até à chegada do atual treinador tinha apenas 4 golos marcados na liga.
Esta época, Seferović marcou 3 golos em 1096 minutos. Ou seja, precisa em média de mais de 3 jogos completos para fazer um tento.
No entanto, é provável que o suíço tenha ganho o lugar a Vinícius, que tem uma média de 1 golo a cada 99 minutos, mas que chegou a ser de 70 minutos. O brasileiro, que parece fora de forma, não marca há 5 jogos.
Já a concorrência de Dyego Sousa - que começou o jogo em Vila do Conde - não parece de peso, um vez que o luso-brasileiro ainda não marcou com a camisola do Benfica, em 234 minutos em campo.
Um Santa Clara em crescendo
Esta terça-feira, o Benfica vai ter pela frente uma das equipas com melhor segunda volta no campeonato, como já vimos: 18 pontos conquistados, mais 2 do que o próprio Benfica!
Desde o reatamento do campeonato o Santa ainda não perdeu: 2 empates e 1 vitória, sendo que esta foi em casa (emprestada) sobre o Braga.
Como visitante, a equipa dos Açores apresenta um desempenho aceitável: 4 vitórias, 5 empates e 4 derrotas, mas também é um facto que na atual temporada tem falhado claramente nos jogos com as equipas mais fortes: em 6 jogos com grandes perdeu sempre e não conseguiu um único golo - sendo que 3 desses jogos foram contra o Porto no Dragão.
Finalmente, a dimensão histórica, que está totalmente a favor do Benfica: 10 jogos, 9 vitórias e somente 1 empate (em S. Miguel na longínqua temporada de 2002). Na Luz, 5 jogos, 5 vitórias das águias, 10-2 em golos.
PROBABILIDADES NR: 85% BENFICA /10% EMPATE / 5% SANTA CLARA
2. Porto - Boavista (terça-feira, 23 junho, 21h15)
O dérbi da Invicta em noite de S. João é coisa nunca vista, porque também nunca visto é termos campeonato nacional em finais de junho.
Porto sobre brasas
Em noite de habituais fogueiras pela cidade, o Porto vai igualmente jogar sobre brasas, mas fruto do empate em casa do último - Aves - na última jornada, perante uma equipa condenada à descida e que perdera os últimos 5 jogos, sempre por mais de um golo de diferença. Aliás, este foi apenas o sexto jogo (em 27) no qual o Aves pontuou no campeonato (segundo empate) e apenas o terceiro jogo em que não concedeu qualquer golo.
Num jogo muito fraco, em que o Porto teve 79% de posse de bola, 23 remates e fez 637 passes contra 184 do Aves, que rematou 5 vezes, nenhuma no alvo (0 ocasiões), os dragões viram voar os importantes 2 pontos de avanço que detinham sobre o Benfica.
Assim vai fazendo o Porto a sua própria crise de resultados: depois de recuperar 7 pontos ao Benfica em 4 jogos apenas, cedeu exatamente 7 pontos nos últimos 4 jogos (em 12 pontos possíveis), numa altura determinante do campeonato.
Onde andam os goleadores?
Para esta crise portista, essencialmente pós-paragem do campeonato, muito tem contribuído a incapacidade de concretizar ocasiões. Curiosamente, nestes 3 jogos em que só somou 4 pontos, o Porto conseguiu sempre atingir a marca das 6 ocasiões por jogo (a sua média no campeonato), mas do total de 18 oportunidades apenas concretizou 2 (ambas por Corona).
Isto significa também que os avançados centro não têm cumprido o seu papel, ainda para mais numa equipa que quase sempre joga com dois.
A verdade é que Marega, Zé Luís e Soares não marcam um único golo há 6 rondas do campeonato. De tal forma que estagnaram na lista de goleadores e nem conseguem superar o defesa esquerdo da equipa: Alex Telles (com 8 golos).
Assim, Zé Luís - que falhou um pontapé de penálti nas Aves - tem 7 tentos na liga, assim como Soares, enquanto Marega tem 6. O cabo-verdiano não marca desde a jornada 12 (15 jogos), Soares não marca desde a jornada 19 (8 jogos) e Marega desde a jornada 21 (6 jogos).
Aprofundando um pouco mais a análise desta incapacidade goleadora, são igualmente preocupantes o tempo de jogo e o número de oportunidades que os 3 avançados precisam em média para fazer um golo. Preocupantes, e pouco consentâneas com o estatuto de avançados de um grande: Zé Luís necessita em média de 158 minutos e 3 ocasiões; Soares: 191 minutos e 3 ocasiões; Marega: 300 minutos e 3,5 ocasiões.
Por exemplo, se olharmos apenas para as tais últimas 6 jornadas, em que nenhum deles marcou, Soares desfrutou de 5 ocasiões, Marega de 4 e Zé Luís de 2.
Fica a faltar apenas a pergunta que muitos já fazem: será que não se justificaria dar uma oportunidade a Aboubakar e/ou a Fábio Silva?
Um Boavista atrevido?
Ainda por cima o Boavista que visita o Dragão na noite de S. João não parece estar para brincadeiras: desde o reatamento já venceu 2 jogos, um deles em Braga, e continua a fazer uma grande segunda volta com Daniel Ramos: 16 pontos em 10 jogos, contra 19 em 17 partidas da primeira volta.
Além do mais esta é uma equipa incómoda e que costuma levantar problemas sérios ao Porto de Sérgio Conceição, como já vimos em jogos anteriores.
Talvez por ser igualmente um também conjunto muito físico e de futebol atlético, o Boavista desafia o Porto no campo das suas próprias virtudes: é o segundo melhor do campeonato nos duelos aéreos (19,7 ganhos em média por jogo, só batido pelo Paços - 20), sendo que os azuis e brancos são terceiros. Este dado pode ser determinante nas bolas paradas ofensivas, uma das armas fundamentais do Porto de Conceição, que vai de novo contar com o batedor oficial destes lances, Alex Telles.
O Boavista é ainda a equipa do campeonato com mais amarelos (87) e a segunda com mais faltas cometidas, 18.9 por jogo, mas o Porto é quinto neste particular, pelo que tudo indica que este será mais um jogo marcado pela competitividade e pela agressividade nos duelos - também fruto da rivalidade local -, sendo que desta vez o Porto não terá o apoio do público do Dragão...
No que diz respeito ao histórico de confrontos, a verdade é que o Porto - apesar da tal rivalidade e dos jogos recentes duramente disputados - não tem perdido pontos perante o Boavista. Nos últimos 11 jogos, 11 vitórias, em casa e fora.
Aliás, desde o regresso do Boavista ao primeiro escalão, apenas se regista um empate em 12 partidas, logo na primeira vez que os 2 clubes se defrontaram novamente, em 2014, com um 0-0 no Dragão.
PROBABILIDADES NR: 75% PORTO / 18% EMPATE / 7% BOAVISTA
3. Belenenses - Sporting (sexta-feira, 26 junho, 19h15)
Como referido, o Sporting de Rúben Amorim é para já o líder da classificação pós-reatamento do campeonato, a par do Famalicão (ambos com 7 pontos conquistados). Com a diferença importante dos leões terem levado a cabo importantes mudanças na equipa, ao contrário dos minhotos.
Um admirável mundo novo com Amorim
O novo Sporting continua a mostrar os frutos do trabalho de Rúben Amorim, que já conseguiu isolar os leões no terceiro lugar do campeonato, ultrapassando a sua anterior equipa, o Braga.
O trabalho de Amorim tem passado muito pela aposta em jovens jogadores. Há mesmo 3 futebolistas do plantel que não tinham qualquer minuto de utilização esta temporada - Eduardo Quaresma, Matheus Nunes e Nuno Mendes -, a afirmarem-se como opções claras de Amorim.
Os casos de Eduardo Quaresma e Matheus Nunes são os mais impressionantes, tendo começado todos os jogos da retoma como titulares.
Mas a grande figura da equipa neste regresso chama-se Jovane Cabral. Foi consensualmente considerado o melhor em campo no regresso dos leões à liga, em Guimarães, e "decidiu" os dois jogos seguintes: marcou o golo da vitória no triunfo sobre o Paços de Ferreira em Alvalade e voltou a faturar no recente 2-0 ao Tondela também em casa, tendo ainda influência decisiva no lance do pontapé de penálti que fechou as contas do jogo.
Igualmente importante neste novo Sporting é o papel do avançado esloveno Šporar, que apontou 3 golos nestes 3 jogos, o que faz dele o ponta-de-lança com melhor média de golos por jogo no regresso da liga (1 golo a cada 90 minutos).
Uma série para manter?
O próximo desafio é o jogo na casa emprestada do Belenenses SAD, a Cidade do Futebol, e Rúben Amorim vai com certeza querer continuar a somar vitórias, ele que ainda não perdeu como técnico na liga principal: 13 jogos, 11 vitórias e 2 empates, ainda longe dos 21 jogos sem derrotas (e apenas 1 empate) de Bruno Lage.
O Belenenses SAD é outra das equipas que está a realizar uma boa segunda volta, já com 15 pontos conquistados em 10 jogos, igualando a sua contabilidade de pontos da primeira volta (mas em 17 encontros).
A equipa agora treinada por Petit tem, claro, a desvantagem de não ter "casa" e a verdade é que apresenta um desempenho caseiro praticamente igual ao forasteiro. É ainda uma das equipas que mais golos sofre no campeonato (41) - terceira pior defesa, a seguir ao Aves e ao Famalicão.
Quanto ao histórico de confrontos entre os dois clubes, é praticamente insignificante, já que o Belenenses SAD é um clube muito recente. Convém, no entanto, lembrar que nas 3 vezes em que os emblemas se defrontaram o Sporting ganhou sempre, incluindo o incrível 8-1 da época passada, no Estádio do Jamor.
PROBABILIDADES NR: 10% BELENENSES SAD / 15% EMPATE / 75% SPORTING
