Depois de 4 jornadas em 2 meses (!), o campeonato regressa para ficar e com jornada "gourmet" envolvendo jogos entre 4 dos 5 primeiros da classificação, com destaque para um importantíssimo Sporting - Porto, em que ninguém pode jogar para o empate.
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Não há fome que não dê em fartura. Depois de uma primeira fase (em 2019) aos soluços, com 4 paragens (algumas delas de quase um mês), em 2020 a liga portuguesa tem apenas uma pausa (de uma semana) até ao seu final.
A partir deste fim de semana, teremos 20 jornadas quase seguidas, em duas tranches: 12 rondas consecutivas até 21/22 Março e mais 8 rondas sem parar entre 4/5 de Abril e 16/17 de maio. E game over.
Depois de 7 jornadas nos últimos 3 meses (e 4 nos últimos 2 meses), serão 2 dezenas de jornadas em 4 meses e meio. A que há que acrescentar os jogos da final four da Taça da Liga, as últimas rondas da Taça de Portugal e a fase a eliminar da Liga Europa (com 4 equipas portuguesas).
E a verdade é que no que toca ao campeonato dificilmente se poderia pedir um regresso mais animado e até potencialmente decisivo na luta pelo título. Senão vejamos: nas próximas 6 jornadas, em pouco mais de um mês (até 8/9 de Fevereiro) teremos os seguintes encontros:
- jornada 15: V. Guimarães-Benfica / Sporting-Porto
- jornada 16: Moreirense-Porto
- jornada 17: Sporting-Benfica / Porto-Braga
- jornada 19: Braga-Sporting / V. Setúbal-Porto
- jornada 20: Porto-Benfica
Como é óbvio, muita coisa pode ter mudado no topo da classificação da prova após estes encontros. Convém ainda recordar que no final de janeiro, Porto, Braga e Sporting estarão envolvidos na final four da Taça da Liga.
Vitória de Guimarães - Benfica (sábado, 20.30)
O Benfica inicia uma série de 3 deslocações de alto risco em cerca de um mês, com a visita a Guimarães (seguem-se Alvalade e Dragão).
A liderança está em risco, mas também pode expandir-se para uma vantagem confortável e quase definitiva se a equipa da Luz for bem sucedida nesta fase e o Porto tropeçar em alguns dos obstáculos importantes que tem pela frente.
Se o passado recente se repetir o Benfica passará em Guimarães, com maior ou menor dificuldade. Os encarnados venceram no Castelo nos últimos 6 encontros, nos quais sofreram apenas 1 golo (aliás, nos derradeiros 9 jogos em Guimarães só permitiram um golo e um empate), apesar de as últimas duas visitas terem registado vitórias tangenciais (1-0), ambas na época passada, num espaço de uma semana (Campeonato e Taça de Portugal).
A última derrota do Benfica no D. Afonso Henriques aconteceu em 2011/12, mas foi marcante uma vez que iniciou a perda de pontos seguidos que permitiu a recuperação do Porto de Vítor Pereira, que chegou a estar a 5 pontos atrás da equipa de Jorge Jesus, já na segunda volta.
Mas mais importante é com certeza o passado muito recente - e neste o Benfica completou na quinta feira um ano sem perder pontos fora de casa para o campeonato. A última derrota aconteceu em Portimão (0-2), ainda com Rui Vitória. Depois, entrou Bruno Lage e seguiram-se 15 jogos fora na liga e 15 vitórias, incluindo em Guimarães, Braga (2), Dragão e Alvalade.
Mesmo as dúvidas iniciais da presente temporada (derrota em casa com o Porto, fraca prestação na Liga Europa, exibições pouco convincentes) parecem estar ultrapassadas após os acertos no onze e no sistema impostas por Lage. Desde que a dupla de meio campo passou a ser constituída por Gabriel e Taarabt e que Chiquinho passou a acompanhar Vinicius, como segundo avançado, as exibições melhoram significativamente, o mesmo acontecendo com os resultados.
No campeonato foram 3 goleadas consecutivas nos derradeiros 3 jogos: 4-0 ao Marítimo, 4-1 no Bessa e 4-0 ao Famalicão, a que se juntaram o 3-0 ao Zenit e a vitória sobre o Braga na Taça de Portugal. Ficam a faltar o empate em Leipzig e os dois empates para a Taça da Liga na Covilhã e em Setúbal (mas estes com rotação de jogadores).
Com estas alterações, o Benfica cria mais ocasiões e marca mais, aproximando-se ou até ultrapassando os números da época passada. Chiquinho fez 2 assistências e participou noutros 4 golos do Benfica nos últimos 4 jogos de campeonato e Vinicius marcou 6 golos. E tudo isto a juntar-se à incrível performance de Pizzi, apenas e só melhor marcador e melhor assistente da liga (11 golos + 7 assistências).
Quanto ao Vitória, ocupa o 5º lugar do campeonato, mas em casa é a 3ª melhor equipa da prova, logo atrás de Porto e Benfica. Só perdeu uma vez na condição de visitado (0-2, Braga) e já marcou 15 golos no Castelo.
Os vitorianos, treinados por Ivo Vieira, são das equipas que melhor futebol pratica no campeonato e apresentam dados de desempenho ofensivo ao mesmo nível. Aliás, alguns deles até semelhantes ou superiores aos do Benfica:
- 3ª equipa com mais remates em média por jogo: 15.1 (Benfica: 14.4)
- 4ª equipa com mais remates no alvo por jogo: 4,7 (Benfica: 4.7)
- 3ª equipa com mais remates na área em média por jogo: 8 (Benfica: 7.9)
- 2ª equipa com mais dribles concretizados em média por jogo: 11.1 (Benfica: 10.5)
Destaque para o extremo inglês Marcus Edwards, segundo melhor driblador do campeonato, com 3.4 dribles concretizados por jogo (Rafa é o melhor, com 3.6), sendo ainda o jogador que mais dribles tenta (5.8), conseguindo um excelente aproveitamento.
Edwards é ainda uma das revelações do campeonato, e um dos mais influentes entre os vitorianos com 2 golos e 3 assistências, ao nível de Tapsoba (4 golos e 1 assistência, embora 3 dos golos do africano sejam de penalti).
Probabilidades NR: 15% Vitória / 20% empate / 65% Benfica
Sporting - Porto (domingo, 17.30)
Quando as duas equipas entrarem no relvado de Alvalade já saberão o resultado do Benfica em Guimarães. Mas isso não mudará coim certeza a sua postura, e é fácil perceber porquê.
O Sporting dificilmente poderá sonhar com o título (tem menos 13 pontos do que o Benfica), mas o segundo lugar será com certeza um objetivo prioritário para a segunda fase da temporada - e se vencer o Porto ficará a 6 pontos dos dragões - até porque essa posição dá direito a lutar pelo acesso à fase de grupos da Liga dos Milhões.
No entanto, também não é menos verdade que uma vitória sobre o Porto e uma escorregadela do Benfica em Guimarães, a juntar a um eventual triunfo na receção ao Benfica daqui a duas semanas, poderia fazer renascer o sonho maior em Alvalade...
Para os portistas, este é o início de uma série de jogos fundamentais: saídas a Alvalade, Moreira de Cónegos e Setúbal, receções a Braga e Benfica. E com a agora tão desejada Taça da Liga pelo meio...
Muito do sucesso (ou insucesso) da temporada azul e branca passa pelo que suceder neste próximo mês e pouco: desde logo, no campeonato, em que o Porto está a 4 pontos da liderança e tem falhado exatamente nos jogos fora (todos os pontos perdidos - 7 - "voaram" nessa condição: derrota em Barcelos, empates no Marítimo e no Belenenses SAD).
Ainda para mais a história recente não tem sido nada positiva para o Porto em Alvalade: desde 2008/09 que não ganha no terreno do Sporting, num total de 14 jogos de todas as competições (6 derrotas e 8 empates).
E em termos de campeonato, as 4 derrotas e 6 empates nos últimos 10 encontros é o pior registo forasteiro dos portistas por larga margem (por exemplo na Luz venceram 4 vezes neste período).
Aliás, o Sporting tem sido a besta negra do Porto nos tempos mais recentes (embora o Benfica é que ganhe os campeonatos...), eliminando os dragões em 4 compromissos de taça: nas finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga de 2018/19 e nas meias finais das mesmas competições em 2017/18. E o mais incrível é que todos estas eliminatórias acabaram empatadas - os triunfos leoninos aconteceram sempre nos penaltis! Parece, portanto, quase inverosímil que nos últimos 10 jogos entre as duas equipas o Sporting apenas tenha vencido 1.
Em Alvalade, para o campeonato, registaram-se dois empates a zero nos dois últimos jogos. Ou seja, espera-se que, neste domingo, pelo menos acabe o jejum de golos. Para isso poderá ser importante o fato do empate não servir, de forma alguma, às duas equipas.
É incontornável o fraco desempenho caseiro do Sporting no presente campeonato, apenas o 8º entre as 18 equipas. Já perdeu duas vezes (Rio Ave e Famalicão), mas é verdade que nunca com Silas, que em casa venceu os 3 jogos de campeonato e ainda os 3 da Liga Europa, todos os que disputou. E nestes 6 encontros, sofreu somente 2 golos e marcou 13.
Realmente com Silas o problema esteve sempre fora de casa: eliminação da Taça em Alverca e derrotas no campeonato em Barcelos e Tondela, que custaram 6 pontos muito comprometedores na disputa do título.
Veremos agora que peso têm os 9 pontos que separam as duas equipas na classificação e se refletem as diferenças importantes em termos de desempenho de Sporting e Porto.
Os leões ficam muito atrás dos dragões em termos do número médio de oportunidades de golo por jogo (4.5 para 6.1), de remates no alvo (4.6 para 6.2), de remates na área (7.3 para 9.3). O mesmo se passa em termos defensivos: número de golos sofridos (15 para 6), média por jogo de oportunidades concedidas (3.2 para 1.6), de remates permitidos (11.3 para 6.6).
Do lado portista, a grande falha parece estar na eficácia ofensiva. A equipa marca muito de bola parada (12 golos - sem contar penaltis - num total de 28 na liga), mas apresenta níveis muito inferiores a Benfica e até mesmo a Sporting no aproveitamento das ocasiões de golo: 33% contra 49% do Benfica e 38% do Sporting.
Qualquer dos 3 avançados mais utilizados pelo Porto têm índices de aproveitamento inferiores aos dos melhores marcadores de Benfica e Sporting: Zé Luís (41%), Soares (33%), Marega (36%), enquanto Carlos Vinicius chega aos 76%, Luiz Phellype aos 67% e Pizzi aos 53%.
A chave do jogo deste domingo poderá estar nas transições ofensivas, uma vez que não se prevê que as equipas abdiquem da sua forma de jogar, procurando dominar o encontro, sendo que o Porto é a equipa com mais posse de bola média do campeonato (59%) e o Sporting de Silas se aproxima destes números. É um fato também que o Porto normalmente aproveita melhor os ataques rápidos (tem mais golos obtidos desta forma do que em ataque organizado, ao contrário do Sporting).
Já no que diz respeito às bolas paradas, o Sporting apenas sofreu 3 golos desta forma (sem contar penáltis), parecendo estar em condições de anular essa forte arma do Porto.
Probabilidades NR: 40% Sporting / 25% Empate/ 35% Porto
