Rui Costa: "O Benfica não está em condições de pagar 100 M€ por Bernardo Silva"
Declarações de Rui Costa, presidente do Benfica, em entrevista concedida à Liga TV
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A sua história é exemplo e de superação? “Eu direi que a palavra superação é demasiado. Em tudo na vida temos de lutar por ela. Direi mais que é uma história de ambição e de luta pelos objetivos que eu pretendia. Se olharmos para os anos 90 e ter um jogador a titular do Benfica num ano em que no ano anterior jogava na segunda divisão B, não é uma situação tão natural. Com a qualidade de jogadores que havia naquela altura… Houve também um dado importante naquele momento, que é a saída do Valdo para o PSG, que me abre um espaço importante. O Valdo era dono e senhor daquela posição, com todo o mérito. Acabou por dar-me uma abertura, mas o plantel do Benfica naqueles anos era recheado de enormes jogadores. Isso também me fez crescer mais rápido, ter começado a treinar com eles ajudou-me bastante a crescer e a fazer a carreira que acabei por fazer.”
Ida para a Fiorentina quando menos se esperava. Por amor ao Benfica, ajudar o clube? “Foi um bocadinho de tudo, não vou ser hipócrita. Na altura… Há muito a teoria que eu escolhi um lado e não o outro unicamente para ajudar o Benfica. Não sou hipócrita. Na altura tinha o Barcelona e tinha praticamente tudo fechado. Eram outros tempos, não havia as diligências que há hoje, era uma situação muito mais simples, tinha tido autorização do Benfica para ir a Barcelona tirar fotografias com a camisola do Barcelona… Estava tudo feito, até que aparece a Fiorentina, que dá mais dinheiro ao Benfica. O Benfica está numa situação precária naquele momento, vínhamos do famoso verão quente, havia uma diferença de verbas substancial para a altura e o Benfica acaba por comunicar-me depois que prefere que eu vá para a Fiorentina, porque a diferença financeira não tinha comparação para o momento. [O Benfica] Força ali um bocado esta saída para Itália e eu acabo por aceitar a saída.”
Sempre com o Benfica: “Eu nasci aqui, sou daqui, independentemente do que eu fizesse lá fora eu nunca iria esquecer o meu clube, nunca deixei de acompanhá-lo, nunca deixei de viver o Benfica enquanto adepto… Pareceu-me sempre, desde o primeiro dia em que eu meto os pés em Itália, e que ambiciono vir a ganhar tudo no futebol e que ambiciono ser um dos melhores jogadores do mundo… Em nenhum momento esteve fora de questão, na minha cabeça, que a minha carreira teria de acabar onde ela começou. Foi para mim uma situação completamente natural este processo de sair e voltar para acabar a carreira. Não só com o intuito de acabar a carreira, como eu sempre disse, só voltaria se considerasse que estava em condições de continuar a ajudar o Benfica dentro do campo. Tive essa convicção e vim num momento em que pude vir. Há muita gente que pensa que o jogador é que não quer regressar ao clube, e as pessoas esquecem-se que os jogadores têm um custo com o outro clube. Não é só uma questão de salário individual, mas é o custo que se tem com os outros clubes. Ainda hoje se fala de tantos jogadores que os nossos sócios e os nossos adeptos tanto ambicionam ver voltar a vestirem a nossa camisola, os próprios jogadores já demonstraram isso, e muitas vezes são atingidos com: ‘Ah, ele diz que vem mas não quer vir. Se quisesse vir baixava o salário’. As pessoas têm de compreender que na maioria das situações isso nem sequer chega à parte do jogador, porque entre clubes não pode haver acordos. O Benfica não está em condições de chegar ao Manchester City, para dar um caso muito evidente, e pagar 100 milhões de euros por um jogador. E isso aconteceu comigo ao longo da minha vida toda lá fora, com as pessoas a dizer: ‘Ele quer muito voltar e não volta’. Lembrar que em 2001 ainda com os preços muito longe da realidade de hoje, custei ao Milan 43 milhões de euros. Era impossível eu sair da Fiorentina para o Benfica, porque o próprio Benfica nunca teria condições para me ir buscar à Fiorentina naquele momento. E pude voltar quando o Milan aceitou que eu voltasse sem custos para o Benfica, com a história toda que as pessoas já conhecem.”