Rui Costa e a entrada no Benfica: "Eusébio tirou-me de campo e desatei a chorar"
Entrevista de Rui Costa à Liga TV
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A entrada no Benfica: "Como é que me posso esquecer desses dias. Lembro-me melhor desses dias que alguns já de profissional ou da semana passada. São inesquecíveis, talvez dos momentos mais felizes da minha vida, pela juventude e vontade de uma criança que um dia querer ser jogador de estar ali a treinar num campo que era pelado. Era o que tínhamos, era uma alegria e satisfação imensa. Faltava uma semana para fazer nove anos quando entrei pela primeira vez num campo do Benfica para ver se gostavam de mim ou não. Eram à volta de 500 miúdos, o treinador Eusébio... Mais que um treino de captação, era muito usado para os filhos dos sócios terem uma experiência no Benfica e se houvesse algum que sobresaísse para ser aproveitado... De dez em dez minutos Eusébio chamava 22. Comecei como extremo direito naquele dia e não cheguei ao fim dos dez minutos. O míster Eusébio tirou-me do campo, disse 'para ti já chega', e eu desatei a chorar porque nem me tinha deixado jogar o meu período, os dez minutos. Para minha surpresa e orgulho não me deixou porque falou com o meu pai e disse que me queria vez com a equipa das escolas do Benfica. E apresentei-me no Estádio da Luz, a treinar com os infantis. E desde esse dia não sei se fiquei porque não me disseram nada e eu fui continuando a minha estrada."
Ascensão: "Foi tudo um processo. Naquela idade era um sonho jogar à bola, nem sabia o que era jogar na primeira equipa. Fui subindo de escalão e nos juvenis aparece o sonho efetivo, 'será que um dia consigo chegar lá?'. Alimentar o sonho ajudanos a lutar por ele. Foi o que procurei fazer. Há dias com esperança maior, outros onde acaba por cair. Nos Sub-18 anos não ia à seleção de Lisboa, à seleção Nacional. Comecei a meter em dúvida as minhas capacidades porque os meus colegas iam e eu não. 'Se não vou estes têm mais possibilidades que eu'..."
Seleção Sub-20, empréstimo ao Fafe e regresso: "Da seleção de Sub-20 campeão do mundo, eu fui dos últimos a lá chegar. Só o Capucho e mais um ou outro chegaram depois e de clubes que não eram dos três grandes, hoje há mais presença de outras equipas. Há um bocado a revolta e desilusão por ser titular nas minhas equipas todas e de nºão ir à seleção. Chego aos sub-18 na penúltima convocatória para o Torneio do Porto. Faço como suplente e quando acaba sou emprestado ao Fafe, é nesse período que ganho a titularidade nessa equipa de Sub-20, chegar aqui ao Mundial, ser titular e foi um trampolim para o meu regresso ao Benfica. Foi um processo, uma luta continua para me aperfeiçoar para marcar presença e seguir a minha carreira. No Fafe, na II Divisão B... não era recordado o último a sair do Benfica e a voltar para fazer carreira. Sofri um bocado. Mas agradeço ao Fafe pelo apoio, por me ajudar a ser homem, mas todo no meu dia era 'eu tenho de voltar ao Benfica'. Correu bem, e havia interesse de equipas do Norte, se não voltasse ao Benfica e com o Mundial de Sub-20... Aconteceu o mesmo que quando entrei no Benfica: com o Eriksson vamos para a pré-temporada na Suécia, eu e quatro colegas sem sabermos se ficávamos. E até hoje ninguém me disse se ficava ou não, fui andando e fazendo a minha carreira."