Pressa atrapalha corrida à cura para a covid-19: resultados de estudo arrasados
A hidroxicloroquina tem Trump e Bolsonaro como maiores fãs, depois de um estudo francês com resultados animadores... mas arrasados entretanto.
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É algo que se escuta desde o início da pandemia: enquanto não existir um medicamento dedicado ou uma vacina, a luta contra a covid-19 será um desafio. Assim, cientistas de todo o mundo abraçam uma corrida contra o tempo, mas a ânsia de encontrar respostas pode conduzir a precipitações perigosas.
Recentemente, saltaram para a ribalta a cloroquina e a hidroxicloroquina, substâncias com efeito antivírico e anti-inflamatório, utilizadas no tratamento à malária, lúpus ou a artrite reumatoide. Para Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América, trata-se de "uma das maiores revoluções da história da medicina", enquanto o líder do Brasil, Jair Bolsonaro, já tem um acordo com a Índia, maior produtor de hidroxicloroquina. Ambos seguem em contramão com os seus responsáveis pela saúde, que alertam para a falta de investigações - estão a decorrer - que comprovem os verdadeiros efeitos (bons e maus) do medicamento nos doentes com covid-19.
Dos 26 doentes que entraram no estudo, três seguiram para UCI, um morreu, um desistiu e outro, afinal, não tinha a doença
A substância ganhou notoriedade graças a um estudo francês no qual participaram 26 pacientes, administrados com uma combinação de hidroxicloroquina e azitromicina, um antibiótico. As conclusões apontavam para a redução ou eliminação da carga viral em 100% dos testados, mas foram arrasadas. A Sociedade Internacional de Quimioterapia Antimicrobiana, responsável pela revista científica que publicou a investigação, esclareceu que esta "não está ao nível dos parâmetros exigidos pela sociedade". Por outro lado, há críticas à reduzida amostra, que ficou ainda mais pequena depois de seis pacientes ficarem pelo caminho: três passaram para os cuidados intensivos, um faleceu, um interrompeu o tratamento devido às náuseas e o sexto... não estava de facto infetado.
A Agência Europeia do Medicamento frisa que a hidroxicloroquina só deve ser utilizada em ensaios clínicos e programas de emergência, mas todos estes alertas não chegarem para evitar a morte de um norte-americano: com tantas notícias, ingeriu fosfato de cloroquina, um aditivo que utilizava para limpar o aquário e cuja composição era mortal. Entretanto, o estado de São Paulo anunciou a sua utilização no âmbito do protocolo de tratamento.
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