O alívio na testagem foi bem acolhido, e era mesmo condição de sobrevivência das principais modalidades, mas sobram ainda muitas dúvidas quanto às regras definidas, sobretudo para as camadas jovens
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No dia em que Portugal registou mais duas mortes e 362 novos casos de covid-19, uma subida acentuada em comparação com os últimos dias que a ministra da Saúde, Marta Temido, justificou com uma atualização dos dados, que estavam artificialmente baixos, as normas definidas pela Direção-Geral da Saúde (DGS) para o regresso das competições desportivas, conhecidas na véspera, foram um dos temas comentados ontem na conferência conjunta entre a ministra e Graça Freiras, diretora da DGS.
O andebol ou o basquetebol em cadeira de rodas são diferentes da modalidade praticada por pessoas sem deficiência
Marta Temido sublinhou a "sensibilidade que tem havido da parte de todos para fazer um caminho de aproximações" e vincou também não ser "possível deixar de ter em atenção um cumprimento daquilo que são as orientações técnicas".
Neste ponto, Graça Freitas lembrou que as modalidades foram estratificadas por graus de risco. "Não são todas tratadas da mesma maneira em relação aos testes. A tendência é que nas de alto risco se façam testes", explicou, e pegou no exemplo do futebol para reforçar o cuidado de testagem que foi exigido na retoma.
Um lapso da diretora da DGS, que ao recorrer ao futebol para sublinhar as modalidades de alto risco esqueceu-se que, na nova apreciação, este foi considerado de médio risco - e por isso dispensado dos testes. O JOGO pediu esclarecimentos à DGS sobre esta referência específica, procurando desfazer eventuais dúvidas e obteve a correção. "A Dr.ª Graça quando mencionou o Futebol como alto risco foi um equívoco, que lamentamos".
Paralímpicos queixam-se, camadas jovens em xeque
Na ressaca ainda das normas, e das primeiras queixas de algumas modalidades inseridas no patamar de alto risco e que não conseguem responder às exigências traçadas, há dúvidas adicionais que continuam por esclarecer, designadamente os moldes em que as camadas jovens de diferentes desportos podem retomar as atividades.
"Não há preocupação ao grupo de risco que são as pessoas com deficiência"
As restrições impostas inviabilizam a esmagadora maioria deles, mesmo só a nível de treino, quanto mais não seja pelas regras de distanciamento inscritas no documento. Nesse sentido, a Confederação de Treinadores de Portugal pretende que a DGS clarifique as orientações.
"Vamos pedir uma maior clarificação sobre as regras para os escalões de formação. Achamos que, sem pôr em risco os jovens e as crianças, a DGS pode ir mais longe", afirmou à agência Lusa o presidente, Pedro Sequeira. "Os miúdos não podem jogar entre eles, seja futebol, andebol ou basquetebol. Há muitos clubes que vivem da formação e temem pelas consequências destas regras, porque muitos podem querer desistir dos treinos", afirmou ainda.
Já o Comité Paralímpico destacou o facto de os desportos para deficientes terem sido ignorados nas normas traçadas. "O andebol ou o basquetebol em cadeira de rodas são diferentes da modalidade praticada por pessoas sem deficiência", exemplificou à Lusa José Lourenço, presidente do Comité Paralímpico.
"Não há preocupação ao grupo de risco que são as pessoas com deficiência", criticou. A O JOGO, a DGS garantiu que o desporto para deficientes "está sinalizado e será incluído" no quadro normativo.
Confederação do Desporto pede audiência
A Confederação do Desporto de Portugal (CDP), por sua vez, fez saber que pediu uma audiência urgente à Secretaria de Estado da Juventude e Desporto (SEJD) para analisar as orientações da DGS. Numa nota publicada na página oficial, a Confederação refere que reagiu "com surpresa e preocupação" à publicação da orientação para o regresso das competições, em face das "dificuldades de aplicação das normas nele inseridas".
"Não estão em sintonia com o que tinha recentemente sido prometido e cuja aplicabilidade será, em muitos casos, senão impossível, pelo menos muito difícil", explica a CDP.
Reunidas ontem, as cinco federações (Futebol, Andebol, Basquetebol, Patinagem e Voleibol), que conseguiram integrar a esmagadora maioria das atividades no patamar de risco médio, e por isso com controlo mais brando, reuniram-se ontem, porque necessitam traçar regras específicas.
"Verificamos situações que podem criar dificuldade de análise e implementação. Estamos a proceder à elaboração de um modelo de Plano de Contingência e a um Regulamento Geral, que depois será adaptado às especificidades das diferentes modalidades", vincou um dos representantes desse encontro, que acredita ser possível apresentar a regulamentação específica de cada modalidade já na próxima terça-feira.