Índia passou barreira das mil mortes devido à covid-19, mas peritos estão perplexos
Especialistas e investigadores esperavam um impacto muito maior da covid-19 no país asiático.
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A Índia ultrapassou esta quarta-feira oficialmente a barreira dos 1000 óbitos associados à covid-19, registando cerca de 31 mil casos de infeção, números bem inferiores aos da Europa ou Estados Unidos e que estão a deixar os especializas perplexos.
Os peritos receavam um desastre sanitário no segundo país mais populoso do mundo (1300 milhões de habitantes), onde o sistema de saúde é precário e os bairros de lata são imensos. No entanto, até hoje, pouco mais de 31 mil casos de infetados e 1007 óbitos estão longe da catástrofe anunciada.
"Poderá acontecer que a trajetória indiana seja diferente por razões que não compreendemos. Não temos explicações" para explicar o fenómeno com certezas, disse à agência noticiosa France-Presse o indo-canadiano Prabhat Jha, da Universidade de Toronto.
Entre os potenciais fatores avançados, explicou, poderá estar a juventude da população, que resiste melhor ao tipo de vírus. Por outro lado, a vacina BCG, utilizada em abundância na Índia para prevenir a tuberculose, também pode ser tida como uma das possibilidades, mas os muitos ensaios para estudar o potencial efeito protetor dessa vacina ainda não são conclusivos.
Os especialistas ressalvam também a imposição de um estrito confinamento nacional, iniciado a 25 de março, quando o país registava 600 casos e 10 óbitos.
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A paragem das atividades económicas foi um golpe forte para os mais desfavorecidos e milhões de trabalhadores estão sem receber salário, havendo outros que têm de percorrer, a pé, dezenas e dezenas de quilómetros para se deslocarem para os locais de trabalho, uma vez que ou não há transportes ou não têm dinheiro para os pagar. Sem a medida de confinamento, explicam os especialistas, a Índia poderia contar atualmente com 100 mil infetados.
O atual período de confinamento está em vigor até 3 de maio, mas os especialistas acreditam ser muito cedo para se cantar vitória, uma vez que o número de casos recenseados está provavelmente subestimado devido a falhas no sistema de despistagem do novo coronavírus. "Constatamos que os números são baixos, mas não sabemos como os interpretar. Vamos aguardar até que se conheçam os números reais", resumiu o virologista indiano T. Jacob John.
E as dúvidas pairam ainda sobre o número real de óbitos, já que, mesmo sem pandemia, perto de metade das cerca de 10 milhões de mortes anuais não são registadas, sobretudo nas zonas rurais, acrescentou Prabhat Jah. No caso do novo coronavírus, prossegue e epidemiologista da Universidade de Toronto, apenas as mortes em hospital são contabilizadas, pelo que se torna impossível ter uma visão correta nas cidades e localidades mais isoladas.