Aproveitar a pandemia para revolucionar a forma de viajar, zelando por saúde e clima, é estratégia já em marcha no Reino Unido e em Itália
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Será a "idade de ouro para o ciclismo", disse há dias Boris Johnson, Primeiro-Ministro britânico e não por acaso um fanático da modalidade. O Reino Unido considera ter na bicicleta a resposta para os próximos meses, de regresso à atividade mas ainda com obrigações de distanciamento social, o que coloca restrições na utilização dos transportes públicos. A bicicleta, por outro lado, representa um exercício físico, importante quando em causa está a saúde, e ajudará a manter o planeta limpo, único dado positivo destes meses de pandemia.
No Reino Unido vão ser preparadas ciclovias e esperam-se mais 14 milhões a pedalar, em Itália há descontos de 60% nas bicicletas e em Portugal essas sugestões já foram feitas ao Governo
Em Portugal, a Abimota (Associação Nacional da Indústria das Duas Rodas), enviou na passada semana uma carta aberta ao Primeiro-Ministro, António Costa, na qual lembra que "a Organização Mundial de Saúde recomenda a utilização da bicicleta nas deslocações para o trabalho, porque promove o distanciamento social e o exercício físico". Gil Nadais, secretário geral da organização, lembra ainda que a atual crise deve ser transformada "em oportunidades para a sociedade", propondo uma comparticipação de 50% na aquisição de bicicletas convencionais, dedução até 200 euros no IRS dos encargos com ela, custo com bicicletas adquiridas pelas empresas integralmente dedutível até 1000 euros, criar redes de ciclovias em estradas nacionais e ensinar o ciclismo nas escolas, entre uma série de outras medidas.
Por enquanto apenas o BE pediu no Parlamento, há uma semana, "ações concretas para estimular a mobilidade pedonal e ciclável no espaço urbano", com o PAN a fazer idêntica sugestão em Lisboa, mas há países mais avançados na matéria, como Itália, onde já foi aprovada uma ajuda de até 60% no valor da compra de uma bicicleta, num máximo de 500 euros - o apoio estende-se a trotinetas elétricas e "segways". Será uma forma de responder a limitações como as de Roma, onde autocarros e metro só transportam até 25% da sua capacidade, evitando-se um aumento dos automóveis, já utilizados diariamente por 16,5 milhões de pessoas, dois terços da população. Em Itália, apenas três milhões vão a pé ou de bicicleta para o trabalho.
No Reino Unido, foi aprovado um apoio de 2,23 mil milhões de euros para as "viagens ativas", sendo 280 milhões disponibilizados de imediato, para fazer face ao maior problema: a falta de ciclovias, em estradas geralmente estreitas. Chris Boardman, antigo campeão olímpico e recordista da hora, que trabalha atualmente como consultor da polícia e está a ajudar a mudar as infraestruturas em Manchester, diz que "todas as pesquisas revelam que as pessoas querem pedalar mais e as autorridades têm de aproveitar este momento". Um estudo indica que 28% dos britânicos andam de bicicleta pelo menos uma vez por mês e o programa #ChooseCycling pretende imflacionar essa frequência, face a dados que impressionam: aumentar o ciclismo para três quilómetros diários e as caminhadas para um quilómetro permitirá poupar 19 mil milhões de euros no serviço nacional de saúde durante os próximos 20 anos!
>> O valor máximo de apoio à compra de bicicletas em Portugal, aprovado no início de fevereiro e incluído no Orçamento de Estado é de 100 euros. Por proposta do PAN, as bicicletas foram integradas nos apoios aos "veículos de zero emissões" - 10% do seu valor, até ao máximo de 100 euros. A encomenda de bicicletas tem aumentado em Portugal e no tocante a seguros existe uma solução prática: a filiação na Federação de Ciclismo custa 35 € anuais e inclui seguro de acidentes pessoais e de responsabilidade civil sem franquia.
>> Quatrocentos milhões de euros foi o valor da produção das empresas ligadas à Abimota no ano passado. Empregando cerca de 9000 pessoas de forma direta e perto de 30000 indiretamente, o setor da bicicleta exporta mais de 90% da produção