PREMIUM >> Vive e joga em Huesca, uma cidade com 50 mil habitantes onde a covid-19 tem sido mais branda, mas, devido ao estado de emergência, o central ex-FC Porto até já foi identificado pela polícia
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"É em Madrid que há mais casos, cidade da qual estamos a quatro horas de carro. Aqui perto há Saragoça, que ainda é a 70 quilómetros e não tem nada quando comparado com Madrid", conta Filipe Mota a O JOGO, ele que está há quatro temporadas em Espanha, país em que a covid-19 tem sido arrasadora (140 511 casos e 13 897 mortes).
Filipe Mota, há sete anos a jogar fora do país, está há quatro épocas em Espanha e contou a O JOGO como lida com o isolamento, bem como os desvarios das pessoas para saírem
"Aqui em Huesca, tem havido casos, mas nada que se possa sequer comparar às cidades grandes. Temos um hospital e as pessoas das povoações à volta vêm para aqui ser tratadas, isso é que poderá complicar mais um pouco. Mas nós temos cerca de 50 mil habitantes e 417 casos, com 37 mortos. Na província de Aragão é que já morreram mais de 280 pessoas", continua o antigo central do FC Porto, pelo qual ganhou sete campeonatos, incluindo os primeiros cinco do histórico hepta dos azuis e brancos.
"Quando isto começou, quase tinha oportunidade de regressar, mas não podia sair do... país. Quando parámos, o clube autorizou os atletas a voltar a casa, mas não a sair de Espanha, pelo que tive de ficar", explica, não se incomodando com a situação: "Até é melhor ficar aqui, por causa da liga. Estamos em "lay-off", os jogadores estão todos no fundo de desemprego, recebem 70% do estado e 30% dos clubes. A liga pode reatar a qualquer momento e é sempre melhor estar aqui."
Voltando à realidade da covid-19, Mota explica que se "muito controlo da polícia", contando um episódio caricato que lhe aconteceu: "Entrámos em quarentena de um sábado para um domingo e eu na segunda-feira fui correr, normalmente. Veio um carro à paisana, mandou-me parar, identificou-me e ordenou-me que fosse para casa."
"As pessoas só se podem afastar até um máximo de 300 metros de casa. Havia gente a passear animais a quatro/cinco quilómetros..."
No entender do central de 35 anos, "Espanha demorou muito a parar a entrada de pessoas no país e atrasou-se no combate", diz, referindo que "viram o que estava a acontecer em Itália, mas demoraram a reagir e em dois ou três dias houve um grande "boom"".
Obrigadas a estar em casa, na tentativa de conter a doença, as pessoas têm inventado de tudo para sair. Filipe Mota dá dois exemplos elucidativos: "Não foi aqui em Huesca, mas vi nas notícias que uma senhora foi apanhada a passear um gato embalsamado, tendo, claro, sido identificada. E outro, que também não foi aqui, foi um senhor que tinha quatro cães e que colocou um anúncio na internet a alugá-los para quem os quisesse passear. Também foi apanhado, claro."