Corpo do artigo
André Villas-Boas tinha alertado, na conferência de Imprensa que antecedeu este encontro, para o perigo de se alimentarem sentimentos de vingança. Disse o treinador portista que quando isso acontece há o perigo de se cometerem erros, numa referência à única derrota sofrida pelo FC Porto esta época, precisamente frente a este Nacional e no Estádio do Dragão, no início deste mês, na Taça da Liga. A verdade é que não só o FC Porto alimentou esse sentimento como o consumou de forma impecável, dir-se-ia com a frieza de um assassino que, tendo a vítima no ponto de mira, não erra o tiro. A consequência prática da forma concentrada como os azuis e brancos levaram à prática os planos de vingança foi o melhor aproveitamento possível desta antecipação do encontro da 20ª jornada, colocando mais terreno entre si e o perseguidor mais próximo. O Benfica, ainda que agora com um jogo a menos, está já a 11 pontos - a máxima diferença desta época - de um FC Porto que vence, encanta a plateia com jogadas bonitas e eficazes, motiva os seus jogadores e ainda se dá ao luxo de encarar o mês que se segue, que inclui vários compromissos decisivos, de forma mais tranquila.
Voltar ao que se passou no relvado do Dragão é recordar como praticamente desde o apito inicial o FC Porto encostou o Nacional às cordas, desafiando-o, de entrada, a mostrar se realmente valia aquela vitória sobre o líder incontestado deste campeonato. Uma ameaça - Moutinho rematou após passe de Hulk - e logo de seguida um directo nos queixos: Hulk faz o 1-0, o seu 18º golo nesta Liga e o primeiro de cabeça pelos dragões! Tal como na Supertaça (então foi Rolando), logo aos três minutos os portistas mostravam ao que vinham e punham de parte qualquer eventual ansiedade quanto ao adversário que mais vezes vencera no Dragão.
O Nacional teve então uma boa vintena de minutos para levar a cabo a única estratégia que parecia ter trazido na bagagem. Mateus era o alvo de todos os passes alvi-negros, na tentativa de ganhar vantagem nos duelos com aquele que Jokanovic identificara como o ponto mais débil na muralha defensiva dos donos da casa, Emídio Rafael. O angolano conseguiu ganhar as costas do lateral-esquerdo portista um par de vezes mas depois os cruzamentos saíram mal medidos.
Consumida esta meia-hora de desaceleração portista, novo golpe poderoso e, desta vez sim, mortífero. Uma genialidade de Moutinho, com um passe de primeira a rasgar a defesa nacionalista, apanha Hulk embalado rumo a um desamparado Bracali que quando se lançou para tentar deter a bomba desferida pelo Incrível provavelmente já ela estava no fundo das redes... O 2-0 enterrou o Nacional e libertou por completo os jogadores portistas para mais 15 minutos de espectáculo. E este segundo golo foi bem a imagem daquilo que esta equipa representa - uma defesa segura, um meio-campo com enorme capacidade de recuperação de bola e elevada capacidade técnica (não só Belluschi e Moutinho mas também Fernando, que não perde a oportunidade de se aventurar em zonas mais adiantadas) e um ataque rápido, com um bom entendimento entre os seus elementos e muito veneno.
Perdidos na teia do futebol de ataque do FC Porto, elaborado o bastante para as jogadas voltarem atrás, ao ponto de partida, sempre que necessário para manter a posse de bola ou criar espaços mais à frente, os médios do Nacional não conseguiam perceber se deviam marcar ao homem ou à zona. Moutinho confundia os conceitos defensivos de Bruno Amaro e Belluschi gozava da liberdade proporcionada pelo futebol mais posicionsal de Luis Alberto. O 3-0 foi a consequência natural deste desnível e um prémio para o trio de ataque - Varela toca para Hulk que, de calcanhar, deixou James no "mano-a-mano" com Bracali. Antes que este pudesse reagir, já o colombiano lhe picava a bola, fazendo um golo para recordar.
A segunda parte teve muito menos história. Foi uma sucessão de ocasiões para chegar ao 4-0, que não surgiu ora porque Hulk cabeceou à trave ora porque Fernando chegou uma fracção de segundo atrasado para concluir um bonito contra-ataque. Deu para gerir a condição física e ainda os cartões, com Belluschi a ver o amarelo que o vai deixar fora da recepção ao Rio Ave, na 18ª jornada. Do Nacional praticamente só se ouviu falar quando das substituições.
FC Porto-Nacional 3-0
Estádio do Dragão
Relvado em bom estado
Espectadores 23212
Árbitro Paulo Baptista (AF Portalegre)
Golos
1-0 Hulk 4'
2-0 Hulk 33'
3-0 James 45'
FC Porto
Helton; Sapunaru, Rolando, Maicon e Emídio Rafael; Fernando, João Moutinho e Belluschi; James, Hulk e Varela.
Treinador André Villas-Boas
Nacional
Bracalli; Claudemir, Felipe Lopes, Danielson e Tomasevic; Luis Alberto, Bruno Amaro e Mihelic; Mateus, Anselmo e Diego Barcellos.
Treinador Jokanovic
Cartões amarelos James (57m), Belluschi (81m) e Juninho (81m)