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A mês e meio de distância do ponto final numa campanha devastada por deficiências na preparação do plantel e na gestão do futebol profissional, ainda não é absolutamente líquido que o comando da equipa do Sporting venha a ser entregue a André Villas-Boas, mas nesta altura são cada vez mais fortes os indícios de que o treinador desejado pelo presidente José Eduardo Bettencourt para suceder a Carlos Carvalhal se mude mesmo de Coimbra para Lisboa no próximo mês de Maio, altura em que a cláusula de rescisão contratual do técnico pode ser activada mediante o depósito de 500 mil euros na conta da Académica. Ao que O JOGO apurou, das conversações mantidas nos últimos tempos resultou a formulação de um pré-acordo tendente à celebração de um contrato de trabalho por (pelo menos) dois anos, tendo ficado definido o valor indemnizatório no caso de eventual quebra do compromisso por uma das partes: um milhão de euros é o valor a despender por quem fizer ruir o entendimento alcançado.
Claro que, nesta fase, ninguém vai confirmar a existência de um pré-acordo. E percebem-se as razões da escusa mútua. Do lado do Sporting, a prioridade vai para a luta pela quarta posição no campeonato - e consequente apuramento para a Liga Europa -, sendo concedida primazia à agenda competitiva na qual cabem seis jogos: três em Alvalade - Rio Ave, Setúbal e Naval -, e outros tantos fora de casa - Benfica, Leiria e Leixões. No que diz respeito a Villas-Boas, o treinador está embrenhado na discussão da permanência na Liga Sagres, ele que, após a 7ª jornada, apanhou a equipa no lugar mais baixo da tabela classificativa e agora gere e tenta ampliar uma vantagem de seis pontos sobre o primeiro competidor na zona de despromoção. Não se estranham, pois, os apelos à tranquilidade provenientes de ambas as faces da barricada, numa altura crucial para a concretização de objectivos, mesmo que o dos leões, pelo historial do emblema, esteja já abaixo do limiar mínimo.
Seja como for, esgotadas as possibilidades de conquistar troféus e, por outro lado, considerando os danos causados pela forma como, no último defeso, a montagem do plantel foi retardada - os actuais órgãos sociais, recorde-se, foram eleitos a 5 de Junho -, poucos acreditarão que Bettencourt e o director para o futebol, Costinha, estejam de braços cruzados à espera do encerramento do campeonato para só depois decidirem o que fazer e que treinador contratar. A temporada 2010/11, que o presidente promete ser bem mais entusiasmante e proveitosa, está a ser acautelada e alinhavada entre quatro paredes - o contrário é que seria censurável -, sendo certo que, quanto mais não seja pela ausência de sinais de projecção para o futuro próximo, o fim do prazo de Carlos Carvalhal coincidirá com o correr do pano sobre este ano desportivo.
A preparação da nova época está a andar, mas não poderia evoluir na cadência exigível neste patamar de profissionalização se a SAD leonina não tivesse já uma "garantia mínima" no que diz respeito ao homem a quem vai ser confiada a responsabilidade de orientar o plantel. Foi o que aconteceu, por exemplo, no termo de 2002/03, na sucessão de Laszlo Boloni, era então Bettencourt o administrador executivo da empresa gestora do futebol. Em fim de contrato, o romeno via terminar o ciclo de dois anos em Alvalade - período que começou em beleza com a conquista da dobradinha: campeonato e Taça de Portugal -, mas algum tempo antes de chegar a despedida oficial já Fernando Santos estava "controlado" para lhe tomar o lugar. Assim contextualizando, entende-se por que motivo este pré-acordo alcançado com o treinador da Académica deve ser encarado como "garantia mínima". Sim, embora se defenda, o Sporting não está completamente a salvo do surgimento de um clube que resolva desembolsar 1,5 milhões de euros: 500 mil euros para libertar Villas-Boas do vínculo à Briosa e mais um milhão para cobrir a indemnização à SAD verde e branca.
Escolha feita "por convicção"
Discurso afirmativo, personalidade ambiciosa e capacidade de imposição de espírito de liderança: estes são alguns dos atributos de Villas-Boas que encantam Bettencourt. E esta é uma escolha feita "por convicção", pois foi no jovem treinador da Académica que o líder sportinguista se concentrou em Novembro do ano passado, quando os resultados e a contestação dos adeptos precipitaram a conclusão do consulado de mais de quatro anos de Paulo Bento em Alvalade. Nos bastidores ainda se vão ouvindo outros nomes - Domingos Paciência, Manuel Cajuda, Paul Le Guen, Jean Tigana, Laszlo Boloni, Luiz Felipe Scolari e Co Adriaanse são os mais citados -, mas Villas-Boas é o eleito há muito tempo.
Depois de ter coadjuvado José Guilherme - actual adjunto de Carlos Queiroz na Selecção Nacional -, Villas-Boas subiu a discípulo de José Mourinho no FC Porto, assumindo a pasta das observações aos adversários, tarefa que viria a desempenhar também no Chelsea e, até há menos de um ano, no Inter de Milão, de onde saiu... para construir uma carreira como treinador principal. E o que pensa Mourinho desta emancipação? Bem, esse é um tema que ainda não se ouviu Lo Speciale aflorar publicamente, mas sabe-se que André, o observador, era distinguido com nota máxima pelo antigo chefe de equipa.