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Terminadas as várias competições, qual é o balanço que faz da época ao nível da formação no FC Porto?
A formação passa pelo desenvolvimento dos jogadores e não apenas por títulos, embora não escondamos que os queremos conquistar em todos os escalões. Há dois anos, perdemos os campeonatos de sub-19 e de sub-17 nos descontos, pelo que medir as coisas só por esse ângulo parece-me pouco adequado. O balanço deste ano é positivo, até porque vamos fazer chegar ao estágio da equipa principal sete jogadores: Diogo Viana, André Pinto, Castro, Ukra, Samir, Ventura e o Nuno André Coelho. O Sérgio Oliveira também iria se não fosse o Europeu de sub-19. Vamos ver quantos ficarão no plantel, mas este é já um sinal evidente de sucesso e de continuidade. Na época passada, foram vários os jogadores que trabalharam de uma forma assídua com Jesualdo Ferreira, alguns foram até usados na Taça de Portugal e na Taça da Liga. O que a mim, enquanto director-técnico da formação, me deixa muito satisfeito, assim como a toda a estrutura, seja técnica, médica ou de "scouting".
Os juvenis foram bicampeões, mas não tem havido igual sucesso nos sub-19....html
Há uma grande aposta dos clubes no recrutamento de outros mercados e um conjunto de exigências feitas ao longo do ano que leva a que uma fase final tenha mais ou menos sucesso. Este ano, no último segundo do jogo do Seixal, com o Benfica, estávamos embalados para discutir o título com o Sporting, mas aconteceu uma fatalidade que nos retirou as hipóteses. Repito: reduzir o sucesso ou insucesso a um título é ingrato e redutor. O sucesso desta equipa será visto daqui a uns anos quando alguns jogadores chegarem à equipa principal.
Por falar nisso, há um ano disse que, em breve, o FC Porto teria vários jogadores da formação no plantel principal. A chamada destes jogadores para o estágio é sinal de que tinha razão?
É algo que sentimos, mas não queremos fazê-los chegar lá de qualquer forma. O amadurecer fora do clube e voltar tem sido uma regra de sucesso, que vamos manter. O mercado que vai absorvendo os nossos jogadores tem ficado satisfeito, porque são atletas competentes e que dão muito às equipas. São, aliás, cada vez mais solicitados e isso é uma prova da qualidade da estrutura que os forma.
A entrada de André Villas-Boas, um treinador que passou pela formação, pode ser benéfica no sentido do aproveitamento dos mais jovens?
O André transporta com ele muitos conhecimentos sobre o desenvolvimento dos jogadores. A equipa técnica é formada por ex-treinadores da formação, com sensibilidade na matéria. Seria injusto isolar, até porque isto não é um projecto de A, B ou C, mas do FC Porto. É uma Visão 611 [n.d.r. nome de código do projecto de formação portista] a caminhar cada vez com mais força e da qual fazem parte muitas pessoas. É um trabalho de todos.
Mas, a chamada destes jogadores pelo André Villas-Boas é fruto do trabalho na formação ou resulta do facto de este ser ano de Mundial, havendo necessidades suplementares no plantel principal?
Não, porque, além dos que foram chamados, há outros, como o Chula ou o Josué, que vão jogar na Holanda. Depois, há os que estão a fazer o trajecto do jogador que levantou a Taça UEFA, a Liga dos Campeões e a Taça Intercontinental: o Jorge Costa. Já na altura, ele fez o percurso fora, jogando no Marítimo e no Penafiel antes de se afirmar aqui.
É esse o caminho a seguir?
Sim, enquanto não houver uma equipa B, ou algo alternativo, num quadro competitivo mais exigente que permita que os jogadores, aos 16/17 anos, se desenvolvam rapidamente e entrem na equipa principal.
Defende, portanto, um modelo como o Espanhol em que as equipas B podem disputar a II Liga...
Sim, temos o exemplo do Messi, que se estreou no Dragão incorporado num misto de equipa A com a B do Barcelona. Urge que isso aconteça no futebol português.
E acredita que será possível a curto prazo?
Tenho esperança de que sim, porque um universo cada vez maior de pessoas percebe que isto tem de ser feito. O FC Porto, e também outros clubes, admitem que é fundamental fazer crescer mais rápido os nossos jogadores. Existe uma distância enorme entre a Liga e o campeonato de sub-19. Há um hiato que é preciso preencher.