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Carlos Marta chega para a entrevista com O JOGO com um ar ensonado. Na noite anterior tinha tido mais uma etapa da sua "volta a Portugal", desta vez em Faro, onde se tinha reunido com a Associação de Futebol local para apresentar o seu projecto e só viajou para Lisboa de madrugada. É a corrida contra o tempo do segundo homem a candidatar-se à presidência da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que acredita que o atraso no início da campanha em relação a Fernando Gomes pode ser ultrapassado.
Porque se candidata a este cargo?
Recebi apoios diversos, nomeadamente do movimento associativo. Muita gente já me conhecia por já ter sido presidente da AF Viseu. Também recebi apoios de clubes, profissionais e não profissionais, estruturas de classe, pois estive muitos anos ligado ao sindicato de jogadores como presidente da Mesa da Assembleia Geral. Depois de uma profunda reflexão, individual e também com a família e alguns amigos, entendi que estavam reunidas as condições para avançar. Quando aconteceu isso?
Há muito tempo que me solicitavam para eu aceitar este desafio. Há um ou dois anos, eu entendi que só era possível avançar se surgisse um conjunto significativo de apoios. Surgiu desta vez e, portanto, entendi que poderia fazer bem esta tarefa. É o candidato das associações?
Não. Sou um candidato de todo o futebol. É uma candidatura agregadora: para os clubes profissionais e não profissionais, para todas as estruturas de classe e, naturalmente, também para o movimento associativo. É sobretudo aí que está a sua força...
Não é verdade. Mas apercebo-me de que nas últimas entrevistas dadas pela outra candidatura, tem sido sistematicamente reforçado o facto de terem apoios de associações. Mas consegue chegar aos clubes profissionais?
Estou certo de que, no final deste processo, diferentes clubes apostem e apoiem a nossa candidatura. Nunca contámos espingardas, foi exactamente a outra candidatura que teve necessidade de vir dizer para os órgãos de Comunicação Social quantos votos é que já tinha. Quando comecei havia só uma candidatura em jogo e era natural que tivesse um conjunto significativo de apoios. Neste momento faz ideia de quantos dos 84 delegados estão indecisos?
Não. Eu estou a fazer uma campanha para convencer todos. Tenho recebido manifestações de muito apreço pelo programa que apresentei, mas também pelo arrojo de não ter medo de discutir essas questões com o futebol nacional. Os delegados saberão escolher aquele que de facto tem essas características. E eu estou convencido que eles o vão fazer, por voto livre, democrático e secreto. É perfeitamente natural que já perspective quem vai votar em quem...
Eu não preciso de sistematicamente estar a dizer que a instituição A ou B me está a apoiar. Não preciso de desconfiar ou colocar na praça pública esses mesmos apoios. E se reparar, a candidatura que era vencedora à partida está neste momento connosco a disputar essas eleições. Mas nesta altura já se sabe quem é que vai ganhar, ou não?
Eu espero ganhar as eleições por uma razão muito simples: mostrámos ao longo deste processo muita competência e profissionalismo, o que significa que estamos preparados para governar a Federação. Fomos os primeiros - sem medo - a apresentar oficialmente a nossa candidatura, fomos os primeiros a apresentar a lista oficial e, portanto, somos a lista número 1. Fomos também os primeiros a apresentar os nossos órgãos sociais e o programa eleitoral detalhado. Como tal estou convencido de que vamos também ser os primeiros no dia 10. Porque é a sua candidatura melhor do que a de Fernando Gomes?
Sou um homem do futebol, sou licenciado em Educação Física, passei por todos os cargos do futebol, tenho vasta experiência no domínio da administração pública na área do desporto e consegui apresentar um conjunto de prioridades e de compromissos que são fundamentais. Estas eleições estão a despertar interesse junto dos clubes profissionais também devido à passagem da arbitragem e da disciplina para a FPF...
A Lista nº 2 apresentou-se como uma lista de mudança, mas o que noto é os principais presidentes dos órgãos da Liga quererem agora candidatar-se aos mesmos lugares e órgãos na FPF. Com a passagem da Disciplina e da Arbitragem para a Liga, a FPF ficou com um papel completamente diferente no futebol. Agora, por via do regresso, vai voltar a ter mais protagonismo e mais força, e talvez seja por essa razão que os principais responsáveis da Liga se queiram transferir de armas e bagagens para a FPF. Não é o que está em causa?
Nós temos uma posição sem precedentes na história da FPF: fizemos um comunicado desafiando a outra lista a apresentar uma candidatura conjunta a um Conselho de Arbitragem que saísse da estrutura de classe. Não foi possível - não por nós - e dissemos que apoiaríamos uma lista que saísse do seio da arbitragem. Porque confiamos nos árbitros e desta forma estamos a credibilizar e a responsabilizar a arbitragem. Um dos nossos compromissos será respeitar a sua autonomia técnica e administrativa. Estamos a retirar a arbitragem deste processo eleitoral, de forma a que as pessoas possam seguramente discutir os grandes problemas do futebol nacional. É um grande sinal de diferença em relação à outra candidatura, de grande liberdade e transparência.
