Corpo do artigo
De um ano para o outro, a vida e o estado de espírito de MARAT IZMAILOV sofreram uma metamorfose. O russo passou de indesejado pela ex-estrutura do futebol do Sporting a forte carta de trunfo da Direcção eleita em Março - até teve direito a novo contrato. Tudo mudou. Ou quase tudo: "Um sorriso para a fotografia, pode ser?" - esforça-se o repórter. O Czar conserva a expressão glacial que faz dele o homem dos três pês: profissional, pragmático e perfeccionista. É assim no trabalho e... foi assim nesta entrevista exclusiva a O JOGO. Sem medo de tocar nas cicatrizes de um passado que podia tê-lo derrotado, mas acima de tudo esperançado num futuro luminoso
Há um ano, quando o entrevistámos pela última vez, Marat Izmailov era uma pessoa angustiada, descrente e desconfiada. Imaginava que a tormenta pessoal ainda ia a meio e a verdade é que não se enganou, já que o seu joelho direito tornou a ceder e atrás desse vieram outros problemas com a anterior estrutura do futebol do Sporting. Esteve para sair, foi recuperado e agora, com contrato melhorado e renovado até 2015, é forte aposta da nova Direcção para a época 2011/12.
Alguma vez receou nunca mais voltar a jogar ao mais alto nível?
Esse era um medo que eu sentia todos os dias. Tinha receio, sim, mas não fiquei em pânico, nunca me rendi, nunca me senti derrotado. Dei a volta com um trabalho quase diário que se mantém. Tinha a perfeita noção de que se atirasse a toalha ao chão, estava tudo perdido e a esta hora poderia estar acabado, morto para o futebol. Debati-me com uma das lesões mais difíceis de superar. Cheguei a pensar que a paragem seria mais curta e ainda tive a esperança de que, com a operação, poderia recuperar grande parte da época. Mas depois percebemos que o processo era mais complexo e moroso... O aspecto mais negativo de toda esta história é que nunca ninguém conseguiu responder a uma questão para a qual também nunca encontrei resposta: "Conseguiria eu voltar a jogar ao mais alto nível depois da operação?" Era uma dúvida que me preocupava e com a qual dormia, pois não sabia como é que as coisas iam evoluir. Foi um período extremamente difícil da minha vida - pela lesão, pelo que se vivia dentro do clube, pela incerteza de tudo. Sabia que se, da minha parte, houvesse alguma fragilidade ou fraqueza, nunca mais voltaria a jogar futebol ao mais alto nível. E, entretanto, já encontrou a resposta que tanto procurava?
Sim. Sinto que, no aspecto físico, tive um crescimento e um progresso muito grande em termos de capacidade. O meu primeiro objectivo naquela fase era voltar a recuperar as condições que tinha, e neste momento trabalho para que a minha resposta seja muito melhor. Muitas vezes fui obrigado pela minha própria vontade a impor-me, a ter de trabalhar mais, mais e mais. E continuo ainda hoje a exigir cada vez mais de mim. Muita coisa mudou na minha vida desde a última vez que falámos, é um facto. E há uma diferença substancial: naquela altura, o meu joelho não estava nas melhores condições - o que se confirmaria no início da pré-temporada -, mas hoje sinto-me cem por cento preparado para ajudar a equipa e o clube, o que faz com que a minha disposição e o meu estado de espírito sejam completamente opostos. Sanados os problemas, foi convidado a renovar contrato pela nova estrutura do futebol e agora está ligado ao clube até 2015. Quando se olha ao espelho, o que vê é a imagem de um reforço para a nova época? Sente-se como no dia em que chegou ao Sporting, no Verão de 2007?
Acredito em mim, no meu trabalho, mas não sou pessoa de fazer promessas. Não vou dizer coisas que não têm a ver com a minha maneira de ser. Não vou dizer que vou ser melhor, mas faço tudo para isso, e o meu trabalho encarregar-se-á de dar a resposta. A época vai mostrar tudo. Continuo convicto das minhas capacidades da minha vontade, das minhas capacidades; só não gosto é de fazer prognósticos. A renovação de contrato que me fizeram foi claramente uma prova de confiança não só do ponto de vista futebolístico, mas também como pessoa. Trabalho todos os dias para demonstrar que a decisão dos dirigentes foi correcta. O novo contrato, celebrado aos 28 anos, é válido até 2015. Isto é um sinal de que poderá fazer o resto da carreira no Sporting?
O meu grande objectivo é ajudar a que a equipa consiga os melhores resultados de sempre. É só nisso que penso, é nisso que me empenho. Todo o processo foi facilitado pelo facto de Carlos Freitas - além de Luís Duque - ter estado na liderança das conversações?
Foi, pois Carlos Freitas esteve ligado à minha contratação. Foi tudo mais simples, pois sabia com quem estava a falar. Isso foi determinante na assinatura de um contrato com novos pressupostos.