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É verdade que o triunfo contra o surpreendente Gil Vicente não salva a temporada do Benfica, longe disso, mas pelo menos ajuda a acalmar ânimos muito agitados nos últimos tempos, sobretudo após o desleixo de Alvalade - para quem corria com atraso, o Benfica teria de ter demonstrado outra qualidade competitiva para não complicar mais as contas do título. Como Jorge Jesus disse na antevisão do jogo, esta Taça da Liga não seria o remédio para todos os males, mas a tensão ia ser muito maior se os encarnados não deitassem a mão, pela quarta vez em cinco edições, ao troféu mais recente da Liga.
Mas que foi muito apertado, lá isso foi. Aliás, já se faziam contas às melhores chuteiras para bater as grandes penalidades quando Jorge Jesus soltou o seu derradeiro trunfo: Saviola. E foi dos pés de El Conejo que surgiu o golo do triunfo. Escondido entre as pernas dos defensores da equipa de Barcelos, o Coelho, que tinha entrado somente dois minutos antes, deu seguimento a uma defesa incompleta de Adriano e, com isso, transmitiu tranquilidade à sua equipa. Jesus ganhava com o trunfo que lançara do banco - como ele tanto gosta e sublinha vezes sem conta.
E é preciso recordar que o camisola 30 já não marcava há quatro meses (tinha-o feito no jogo com o Rio Ave, para o campeonato) e não jogava desde a partida contra o Olhanense, há três semanas, em que até teve o golo nos pés mesmo ao cair do pano, mas não foi feliz como ontem.
Trata-se de um balão de oxigénio que ajuda a respirar melhor e dá algum alento à equipa para as quatro jornadas que falta disputar até ao fim do campeonato. Apenas isso.
Quem pode soltar as rolhas das tais garrafas de champanhe que tinha prometido é o presidente António Fiusa. O Gil Vicente não venceu, é verdade, mas esteve à altura e em alguns momentos do jogo vergou o gigante; como já tinha feito, aliás, com Sporting, FC Porto e Sporting de Braga.
Paulo Alves tinha a lição muito bem estudada e colocou muita areia na máquina, diga-se algo lenta, de Jorge Jesus. César Peixoto e Luís Manuel cercaram Witsel, que sentiu inúmeros problemas para libertar Aimar. E, já se sabe, quando o mestre não tem bola o Benfica não tem andamento e vive sobretudo dos lances de bola parada - mas até para isso a equipa de Barcelos estava preparada. Além de ter secado El Mago, Paulo Alves espremeu os alas da Luz cortando-lhes os espaços; Rodrigo, à direita, e Bruno César, no lado contrário, não conseguiam criar desequilíbrios e permitiam que os laterais do Gil subissem no terreno. O Benfica sentia dificuldades para entrar na área contrária em jogo apoiado e, não fosse a qualidade do pé esquerdo de Bruno César, num passe estupendo para Rodrigo abrir o marcador, as equipas iriam empatadas para o descanso. Num raro momento de inspiração, porém, o Chuta-Chuta colocou a bola nos pés de Rodrigo para este voltar a marcar, acabando com aquele nervoso miudinho que já começava a incomodar.
Em desvantagem, Paulo Alves respondeu à altura. Quando parecia que o Gil Vicente começava a cair, o treinador puxou dos galões e meteu ordem na casa: desde logo, André Cunha deixou as funções de organizador para se dedicar mais à luta do meio-campo; Zé Luís foi muito mais acutilante no ataque do que tinha sido Hugo Vieira; e João Vilela e Guilherme, mais seletivos e rápidos no passe, acabaram por confundir a defesa encarnada. E o Gil chegou mesmo ao empate depois de uma combinação entre os trunfos lançados por Paulo Alves, culminada com um remate acrobático de Zé Luís. À equipa de Barcelos só faltou mesmo a concentração na parte final do desafio para travar a investida de Saviola; El Conejo foi um elemento a mais que acabou por fazer ruído na área adversária. Ninguém contava com ele... e afinal ele resolveu.
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