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O futebol resgatou-me de uma guerra". Sem rodeios, directo. A bola, para Téofilo Gutiérrez, foi a razão para escapar ao mundo violento e sem destino que rodeava a sua infância. Foi no bairro "La Chinita", uma zona tão humilde quanto perigosa, onde nasceu o avançado, que se habituou a que os pais o mandassem para baixo da cama quando o barulho das balas entoava bem perto da precária casa onde habitavam. Dois grupos rivais (Los Malembes e Los Patrullas) eram os responsáveis pelo terror e pela perda diária de vidas. "Sentia medo a toda a hora, tínhamos de viver encarcerados", admite Teo quando fala sobre aqueles tempos complicados.
Não foi uma infância fácil, como se pode perceber, até porque além do constante sentimento de insegurança, havia os problemas financeiros da família. Quando era miúdo ajudava a sua avó a moer os grãos de milho que utilizava para fazer as empadas fritas que vendia nas ruas de Barranquilha e muitas vezes viu a mãe, Cristina, chorar quando a ameaçavam de despejo por não pagar a renda da casa que alugavam. "Quando for futebolista, vou oferecer-te uma casa", prometeu um dia. E anos mais tarde cumpriu.
A sua felicidade passava pela bola. Foi a via de escape. "Sempre tive talento e o meu pai incutiu-me a paixão pelo futebol. Foi assim que escapei de um ambiente violento", agradece o avançado Teo ao guarda-redes Teófilo, o seu pai, que foi obrigado a abandonar as balizas na sequência de uma rotura de ligamentos cruzados que nunca quis operar. E nos campos do bairro, desses que têm mais terra do que relva, Teo começou a mostrar a sua qualidade, a relatar as suas jogadas chamando-se de Valderrama (o seu ídolo de infância) e não de Gutiérrez. Claro que nesses jogos de bairro contra bairro também havia pressão. Não era uma luta de gangues, mas em jogo estava a honra e algo mais. "Na vila havia jogos a dinheiro. Foi aí que me ensinaram a jogar com agressividade", reconhece o avançado
Fiel leitor da Bíblia, fundou, juntamente com a esposa, uma igreja. "As pessoas passam um bom momento lá, beneficiam de alimentação e escutam a palavra de Deus", conta Teo, que tanto ouve salsa como música evangélica quando passeia de carro pelas ruas da zona caribenha de Barranquilha. Se assinar pelo FC Porto terá em Helton e Souza dois companheiros que seguem a mesma filosofia de vida.