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Dois penáltis falhados no Paraguai-Espanha. Um dos quais pelo meu primo Cardozo. E a Espanha, como contra Portugal, muito forçadinha e muito sortuda. Nada merecedora ou brilhante. Raios a partam, francamente.
Mais a Argentina eliminada. Chiça! Cada vez que eu aqui rezo pela vitória de uma selecção, ela é eliminada. O JOGO de ontem avisava que o Mick Jagger era "persona non grata" no Brasil por dar azar às equipas que apoia. Chamam-lhe o urubu.
Eu sou o urubu local d'O JOGO; cada vez que me afeiçoo a um país e faço aqui uma declaração de amor por ele, dou-lhe o beijo da morte. Peço desculpa a Portugal, à Itália, ao Gana, ao Brasil e à Argentina, ontem muito recomendada por mim.
Este Mundial é uma conspiração para que os comentadores façam figura de parvos. Sobretudo os amadores, como eu. É difícil, neste fase do campeonato, não ter acertado uma com tantos jogos - mas eu consegui.
Se tivéssemos apostado na BetClic, nas selecções que rendiam mais dinheiro, estávamos ricos. Se apostássemos conforme as opiniões dos peritos, amadores ou não, estávamos arruinados. Arruinados estamos.
A derrota da Argentina, depois da eliminação do Brasil, deu cabo da nossa teoria sul-americana. Os triunfos da Holanda e da Espanha também lixaram os nossos vaticínios sobre o tramanço da Velha Europa.
Tanto tempo passou e tanta tinta escorreu - para quê? Para voltarmos a ter medo da Alemanha? É verdade. A Alemanha era a equipa de meninos contra os homens da Argentina. Ganhou 4-0.
Para mais, esta não é Alemanha antiga. É a Alemanha nova, do Euro'2008, em que os nativos foram excelentes anfitriões e sinceramente simpáticos. Já nem sequer temos a consolação de fazer piadas acerca dos nazis que se refugiaram na Argentina. A nova Alemanha é a Alemanha de Ozil - um brilhante e generoso muçulmano que oferece golos aos compatriotas.
Nisso tive razão - foi a única vez. Deixem-me explorá-la - tenham essa misericórdia. A Alemanha-Benetton, multiétnica e multilibertada da estúpida mania do "sangue" alemão, chegou tarde, mas avança depressa. O futebol da Alemanha é ao mesmo tempo antiquado e atrevido, corajoso e entusiasmado. Perdeu tudo o que tinha de maquinal. E tornou-se, epicamente, cem por cento clássico.
Quanto à Espanha: que grande barrete. Não é uma grande equipa. É uma equipa à rasquinha. O Paraguai foi um portento de portugalidade. Ou vice-versa.
O meu beijo da morte (Deus queira) vai para a Alemanha ou para a Holanda. É um beijo que é bocejo, podem crer.