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>"No Jamor, sabia que o Edgar ia marcar para aquele lado"
Diz um estudo científico que numa baliza de futebol cabem 365 bolas, o número possível de pontos de mira para quem vai rematar. A tarefa de Beto, como de todos os guarda-redes, é tentar anular essa miríade de hipóteses de sucesso dos adversários. No Jamor, ao defender uma grande penalidade marcada por Edgar num momento crucial do jogo, o guarda-redes portista tornou-se num dos heróis da final da Taça de Portugal.
Então diga-nos lá como se defende uma grande penalidade?
Existem inúmeros factores que condicionam a defesa de uma grande penalidade, desde o conhecimento do jogador, a visualização de imagens desse jogador, muito treino e o instinto.
O que valeu mais no Jamor?
O que prevaleceu foi juntar um pouco de tudo.
Sabia que o Edgar ia marcar para aquele lado?
Sabia que o Edgar bate muitas vezes para o lado direito do guarda-redes. Mas isso pode nem valer nada, porque o Edgar também pode pensar que o conheço e mudar o lado. É sempre imprevisível para quem bate o penálti e para quem o defende. No Jamor juntou-se um conjunto de factores.
Foi então o Beto que decidiu o lado para onde se atirou ou recebeu alguma informação na altura?
Decidi na altura. As únicas pessoas que me disseram algo foram o Maicon e o Rolando. Disseram-me isto: fica tranquilo, porque sabemos que vais defender.
E logo a seguir o FC Porto marcou o quinto golo. Foi aquele o momento do jogo?
Sem falsa modéstia, foi um lance que acabou por decidir o rumo do jogo. O Guimarães podia ter reduzido para 4-3, os jogadores galvanizavam-se e o resultado seria incerto. Ao defender a grande penalidade e ao marcarmos logo de seguida aqueles instantes acabaram por decidir o rumo do jogo.
Na época passada defendeu cinco penáltis no Restelo e no Jamor defendeu mais um. É uma especialidade?
É muito subjectivo dizer isso. Esta época, na Luz, o Cardozo marcou um golo de penálti porque mudou o lado. Rematou para o meio. Eu sabia mais ou menos para que lado ia marcar, mas ele mudou. É sempre subjectivo. Tenho a felicidade de ter defendido muitos, mas mesmo muitos penáltis na minha carreira...
Sabe quantos defendeu?
Não tenho ideia. São muitos, mas não faço a contabilidade. Fico feliz por os defender.
Na época passada fez os jogos da Taça de Portugal, mas foi o Helton que defendeu na final. Esta época foi diferente, porque não só fez todo o percurso, como foi titular no Jamor. Até que ponto foi importante sentir essa confiança do treinador?
A confiança da parte do mister André foi depositada desde o primeiro dia em que cheguei ao Olival. Cheguei mais tarde, por causa do Campeonato do Mundo, e na primeira conversa que tive com ele foi-me depositada total confiança. Portanto, a confiança durou desde o início até ao fim. Sabia que ia chegar o meu momento e que o mister ia ter confiança em mim. Foi o que aconteceu. Na segunda mão da meia-final partimos para Lisboa com um resultado desvantajoso de 2-0, mas o mister André disse-me que estava tranquilo por ir jogar. Ele sabe que eu gosto de jogos com pressão, de jogos difíceis. Lido bem com a pressão e a partir daí junta-se o útil ao agradável.