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Depois de ter passado cinco meses a remexer nos recordes mais miseráveis, tornando qualquer exercício comparativo um acto de masoquismo que remete para o ano terrível da descida de divisão, haverá esperança para o Guimarães, no arranque do novo ano? A resposta é sim e para sustentá-la basta apontar na direcção de Rui Vitória e recordar o que ele foi capaz de fazer, precisamente no pontapé de saída de 2011, à frente do Paços de Ferreira: uma dúzia de jogos sem perder, o primeiro dos quais na Taça da Liga, prova que, no ano de estreia no primeiro escalão, deu a conhecer ao treinador o sabor de uma final. Perdeu-a para o Benfica (1-2), mas, ficou com uma enorme vontade de voltar a um palco daqueles. O Vitória de Guimaraes oferece-lhe essa possibilidade, que a época vimaranense torna quase uma obrigação. A história será retomada, na terça-feira, na primeira jornada da terceira fase da Taça da Liga, diante do adversário que, em Coimbra, debaixo de assobios dos próprios adeptos, levou o troféu cuja discussão, há um ano, era quase impensável, para o Paços de Ferreira.
Como todos os milagres, este de Rui Vitória na Mata Real foi o resultado do empenho total de um balneário ambicioso, com um ambiente fantástico, e de muito trabalho, um esforço visível e, com frequência, bastante sofrido. O Paços de Ferreira sobrevivera à reconstrução da equipa com meia dúzia de derrotas, sete empates e uma mão-cheia de triunfos, espaçados, porque o caminho para vencer era penoso, apesar do bom futebol que se ia desenhando. O primeiro triunfo de 2011, em Arouca, por 3-2, também foi sofrido, mas, deu o alento mínimo a quem se despedira de 2010 a perder com o FC Porto. Depois, veio o empate com a Académica, sem golos, e um jogo de sonho, com o Sporting, em Alvalade (2-3) colocou nos eixos tudo o que fora trabalhado até então.
Num plantel jovem, inexperiente, construído com o orçamento mais baixo do primeiro escalão, a confiança cresceu para níveis surpreendentes, que deixaram o fortíssimo Braga de Domingos Paciência e o próprio Guimarães fora da Taça da Liga, com o Nacional a completar o lote dos que o Paços de Ferreira despediu da prova, no caminho para a final. No campeonato, a ascensão criou um inusitado problema: de repente, a equipa andava entre os candidatos aos lugares europeus, mas, numa decisiva do mais elementar bom senso, em Dezembro, não fizera a pré-inscrição na UEFA.
No Vitória de Guimarães que herdou, à terceira jornada, de Manuel Machado, Rui Vitória dispõe de um plantel bastante mais cotado do que aquele com que arrancou para 2011, e que não joga com a mesma ligeireza do Paços de Ferreira: no Berço, o investimento e a exigência são maiores, e a equipa já perdeu quase todas as hipóteses de sorrir, sem lugar na Liga Europa, eliminada pelo Aves da Taça de Portugal e a meio da tabela, no campeonato. Levar um balneário inteiro a rasgar horizontes até um limite improvável não é novidade para o homem do leme.