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O Benfica carimbou ontem o passaporte para as meias-finais da Taça de Portugal, onde irá agora encontrar, na próxima quarta-feira, o FC Porto no Estádio do Dragão. Será esta a primeira mão da contenda, mas para lá chegar o campeão nacional teve de sofrer em Vila do Conde. O Rio Ave vendeu cara a derrota num encontro que chegou a roçar o impróprio para cardíacos: ao todo, quatro penáltis assinalados por João Ferreira - um a favor do Rio Ave, três para os encarnados - e apenas... um convertido, no caso por Cardozo. No final desta lotaria que bem poderia chegar depois do prolongamento, foi mesmo o Tacuara que acabou por sentenciar a eliminatória, pouco antes do apito final.
Suspenso, Carlos Brito não pôde estar no banco, mas resolveu bem a ausência dos castigados Éder Monteiro, Vítor Gomes e Saulo. Como manda a boa tradição da Taça de Portugal, o técnico quis jogar - e jogou - de peito aberto contra as águias, fruto de uma lição que vinha bem estudada para tentar anular a criatividade de Aimar e explorar a velocidade (principalmente) de Bruno Gama. Do outro lado da barricada, Jorge Jesus poupou Javi García e lançou Airton no lugar do espanhol. E esta (única) surpresa no onze foi começando a esbater-se logo que soou o apito inicial, pois o camisola 2 lançou-se numa boa actuação. Talvez por não o esperarem, os comandados de Jesus pareceram atordoados com a entrada personalizada do Rio Ave. Recheada de atitude, a formação nortenha disse bem cedo que estava ali para disputar a eliminatória e não apenas para atravessar autocarros ou sequer "minivans".
E a moldura até se encaminhava para o sucesso - logo aos 10', João Tomás esteve sozinho na marca dos onze metros para tentar bater Júlio César (castigando suposta falta de Coentrão sobre o ponta-de-lança), mas o guardião foi-lhe superior. Estava atirada ao ar a primeira grande penalidade do jogo, a que só depois os vila-condenses dariam mais valor; afinal foi a única a seu favor. Respondeu de pronto a águia e iniciou um bom espectáculo de futebol, com momentos de parada e resposta afiada - e Mário Felgueiras e Júlio César a não se poderem limitar a exercícios de aquecimento. O português, de resto, até negou o segundo penálti da noite a Cardozo (38'), dando mais um sinal de que o festejo poderia bem cair para o lado dos homens da casa. Mas quem se terá esquecido disso foi Zé Gomes, ao protagonizar o lance que viria a colocar o Tacuara novamente num cara-a-cara com Mário Felgueiras. Desta feita, claro, o paraguaio não foi de modas e atirou como sabe: uma bala, indefensável para o guardião. Marcava o Benfica pouco antes do regresso às cabinas, mas nem assim cortou o brio que até aí vinham mostrando os pupilos de Carlos Brito, que assentavam grande parte da sua estratégia no virtuosismo de Braga (surpresa no onze) e Bruno Gama.
O reatamento trouxe mais do mesmo, para gáudio de quem assistia. Velocidade, bons momentos de futebol e, claro, um Rio Ave destemido. Infelizmente, pensarão os vila-condenses, este "gás" só durou sensivelmente até aos 60'. Um lance em que Gaitán (59') levou perigo às redes de Mário Felgueiras teve o condão de mudar de vez o encontro. A partir daí, o sinal mais foi quase invariavelmente para as águias, e só o poste lhes negou o almejado segundo golo, após remate de pé esquerdo de Saviola (73'). Não conseguia o Benfica facturar de bola corrida, mas faltava ainda a João Ferreira apitar um quarto penálti: David Luiz quis marcar na despedida, pegou na bola... e atirou para as nuvens, para desespero de Jorge Jesus. O técnico encarnado respondeu então à entrada de Fábio Felício com o lançamento de Carlos Martins, mas seria o Rio Ave a estar perto do empate, não fosse Júlio César estragar a festa a Bruno Gama, a dez minutos dos noventa. Ganharam novo balão de oxigénio os da casa, Jesus temeu o prolongamento, mas eis que surgiu Cardozo - quem mais? - para carimbar em definitivo a passagem, com a "calçadeira" de Tarantini.
Contas feitas, o Benfica segue na melhor série da era de Jesus, com nove vitórias consecutivas - já pensa na décima para Vila das Aves, no próximo domingo -, e aumentou para cinco o número de derrotas seguidas do Rio Ave.
Rio Ave-Benfica 0-2
Estádio do Rio Ave
Relvado razoável
Espectadores 6 mil
Árbitro João Ferreira
Golos
0-1 Cardozo 44' (g.p.)
0-2 Cardozo 87'
Rio Ave
Mário Felgueiras, José Gomes (Mendes, 90+2), Gaspar, Jefferson, Tiago Pinto, Ricardo Chaves (Cícero, 90+2), Tarantini, Braga (Fábio Felício, 62), Bruno Gama, João Tomas e Yazalde.
Treinador Lúcio Pereira
Benfica
Júlio César, Maxi Pereira, Luisão, David Luiz, Fábio Coentrão, Airton, Sálvio, Aimar (Carlos Martins, 77), Gaitan, Cardozo (Weldon, 90+2) e Saviola (César Peixoto, 88).
Treinador Jorge Jesus