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Jorge Jesus só deixará o Benfica pelo seu próprio pé, caso termine o campeonato, pelo menos, no segundo lugar e vença a Taça da Liga. Ao que O JOGO apurou, é este o cenário na Luz nos dias que correm e por vários motivos. Desde logo, pelo facto de Luís Filipe Vieira estar convicto de que a solução para devolver o clube aos títulos não passa pela mudança de treinador. O presidente já se arrependeu no passado de ter despedido Fernando Santos e, além disso, vê exemplos além-fronteiras com grandes dificuldades de êxito, casos de Chelsea, Manchester City e até Real Madrid, onde nem com o melhor treinador do mundo há garantia de sucesso desportivo.
E apesar de os responsáveis encarnados acharem que o plantel podia e devia render mais, há também um fator a amenizar o peso nos ombros de Jesus: as arbitragens, das quais todos na Luz se têm tanto queixado e até garantem ter "manchado" a presente edição da Liga ZON Sagres. Se este fator joga a favor do treinador - apenas no que ao cumprimento do seu contrato diz respeito, claro -, há ainda outros mais no mesmo prato da balança. O líder do emblema da Luz tem como braço direito o administrador Domingos Soares de Oliveira e, do ponto de vista deste (sempre mais financeiro), Jorge Jesus é uma garantia de encaixe financeiro a vários níveis. Desde que chegou à catedral, o técnico ajudou a valorizar ativos em muitos milhões de euros - casos de Di María, Ramires, Fábio Coentrão ou David Luiz - e esse cenário terá certamente continuidade no próximo verão, com a saída de mais um par de jogadores por montantes avultados, também "acicatados" pela boa participação na Liga dos Campeões, onde por sua vez as águias encaixaram uma verba sem precedentes a nível nacional, acima dos 20 milhões de euros.
E se a conquista do campeonato não é matematicamente impossível, a convicção no momento - e do ponto de vista estritamente financeiro - é a de que garantir o segundo posto resulta na mesma possibilidade de encaixe, pelo acesso direto à próxima edição da Champions. Mais: despedir Jorge Jesus custaria o pagamento de uma indemnização milionária... que Vieira não quer desembolsar (sete milhões de euros). Em altura de crise financeira, o presidente não esquece os montantes pagos há não muitos anos pelas saídas de Camacho, Fernando Santos e Quique Flores e não quer repetir o cenário.
Falta, todavia, acrescentar outro cenário, também com probabilidade acentuada de confirmação - do ponto de vista da gestão da sua carreira (e aqui entra o seu empresário, Jorge Mendes), o técnico e o agente podem ver no final desta época o coincidir também do fechar de um ciclo na Luz. Ou seja, mesmo que Jesus seja campeão, poderá sair - neste caso, pela porta grande - e rumar, à partida, a um clube estrangeiro. Caso se confirme qualquer outro cenário, o abandono poderá ter na mesma lugar, mas, lá está, pelo seu próprio pé, tendo já novo clube para dar continuidade à sua carreira e chegando a entendimento com a SAD benfiquista. E é neste contexto que se pode inserir facilmente a informação avançada há dias num editorial do diário espanhol "Marca", que destacou o já decorrente processo negocial do técnico com um emblema espanhol. Sevilha, Valencia e/ou Atlético de Bilbao (caso Marcelo Bielsa rume a voos mais altos) são os nomes mais badalados para Jesus.
Tudo isto pode mudar, contudo, dentro de poucas semanas. "Basta" que os encarnados deixem cair a Taça da Liga para o Gil Vicente no próximo fim de semana e o segundo lugar não fique garantido com segurança e o estado de espírito de Vieira pode mudar à mesma velocidade. Em ano de eleições, o responsável máximo não quer dar-se ao "luxo" de entrar em choque com a massa adepta, se esta aumentar o tom crítico para com Jesus.
Certo também é que, a seguir de águia ao peito até ao final do seu contrato (junho de 2013), o treinador terá ainda menos margem de manobra. No habitual balanço da época, Filipe Vieira nunca deixará de chamar o técnico a todas as responsabilidades que lhe parecem ser devidas e o planeamento da próxima campanha será levado a efeito ainda com menos "dedo" do treinador.
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